Foto: Mike Prince/Wiki Commons

Esta ave que já se extinguiu em Portugal estará agora a desaparecer em Espanha

A população de calhandra-de-dupont (Chersophilus duponti) de Espanha diminuiu 40% entre 2004 e 2015, alerta um recente estudo da Universidade Autónoma de Madrid. Os investigadores estão preocupados e pedem uma Estratégia Nacional de Conservação para a ave, com urgência.

 

O estudo, publicado na revista PeerJ, identificou o preocupante estado de conservação da calhandra-de-dupont, espécie extinta em Portugal.

Segundo o livro Aves de Portugal, não se conhece nenhum registo recente da espécie e as únicas informações “referem-se a observações realizadas no século XIX, na zona do Alfeite, Almada, onde a espécie terá nidificado”. Existe ainda outra observação na Ponta da Erva (Estuário do Tejo), feita por Carlos de Bragança, “muito provavelmente também do final do século XIX”.

Nos nossos dias, a verdade é que a calhandra-de-dupont tem vindo a perder terreno em Espanha e na Europa. Os investigadores da Universidade Autónoma de Madrid alertam em comunicado que, se estas tendências não forem invertidas, a espécie poderá extinguir-se nas próximas décadas.

 

Foto: Mike Prince/Wiki Commons

 

Entre 2004 e 2015 realizaram censos à calhandra-de-dupont em 92 populações distribuídas por todas as Comunidades Autónomas onde a espécie ocorre: Andaluzia, Aragão, Castela-La Mancha, Castela e Leão, Catalunha, Comunidade Valenciana, Navarra e Região de Murcia.

Os resultados do estudo mostram um declínio geral de 41,1% de 2004 a 2015, o que se traduz num declínio anual médio de 3,9% para o conjunto da população espanhola de calhanda-de-dupont. A situação é especialmente alarmante nas Comunidades Autónomas da Andaluzia e de Castela e Leão, onde a espécie registou um declínio de 68,5% e de 58,4% na última década.

A calhandra-de-dupont é uma ave pequena que pertence à família das cotovias. Não é fácil ouvi-la ou observá-la, já que canta de madrugada e quando o Sol desponta passa totalmente desapercebida devido ao seu comportamento esquivo.

Vive nas estepes arbustivas, um ecossistema que, nas últimas décadas, tem vindo a degradar-se a e regredir por causa da intensificação agrícola e das alterações no uso dos solos.

Hoje, esta é uma das aves mais ameaçadas de Espanha e da Europa, catalogada como Em Perigo de extinção no Livro Vermelho e como Vulnerável no Catálogo Espanhol de Espécies Ameaçadas. A nível europeu está classificada como Quase Ameaçada pela União Internacional de Conservação da Natureza (UICN) e como Vulnerável na Lista Vermelha das Aves da Europa.

“Por isso, a elaboração da Estratégia Nacional de Conservação deve ser uma prioridade”, defendem os autores do artigo científico. O documento já está a ser trabalhado pelo Grupo de Investigação de Ecologia e Conservação de Ecossistemas Terrestres da Universidade Autónoma de Madrid (TEG-UAM), com o apoio da Fundación Biodiversidad do Ministério espanhol para a Transição Ecológica.

Os autores defendem também que esta ave deveria ser classificada como Em Perigo na Andaluzia e em Castela e Leão, enquanto que para as outras regiões deveria ser mantido o estatuto de Vulnerável, o grau de protecção definido a nível nacional em Espanha.

De momento, o TEG-UAM e o Laboratório de Socioecossistemas da UAM estão a desenvolver os projectos LIFE-Ricotí e BBVA-Ricotí para reunir informação crucial para a conservação da espécie e do seu habitat.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.