Cegonha-preta. Foto: Frank Vassen/Wiki Commons

Este ano há 21 crias de cegonha-preta no Douro Internacional

Este ano foram recenseados 10 casais e um total de 21 crias pré-voadoras de cegonha-preta, espécie Vulnerável, no troço internacional do Rio Douro, revelou hoje o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Todos os anos, na época de nidificação da cegonha-preta (Ciconia nigra), uma equipa de transfronteiriça com cerca de 20 elementos segue e vigia a população do canhão fluvial do Douro, de ambos os lados da fronteira.

Os peritos detectaram este ano 21 crias pré-voadoras na região.

O ICNF sublinha que a produtividade por casal foi de 2,6 crias voadoras, “o que constitui um valor acima da média, podendo estar associado à grande disponibilidade trófica nas charcas e cursos de água, por ter sido uma Primavera chuvosa”.

É uma espécie com estatuto Vulnerável no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005) – com uma população de cerca de 90 casais – por causa do “número bastante reduzido de indivíduos”. Ainda assim, explica o ICNF, “a espécie tem o estatuto de Vulnerável e não Criticamente em Perigo por se admitir a possibilidade de imigração de regiões vizinhas”.

Em Portugal, a cegonha-preta distribui-se sobretudo pelo interior do território continental, em zonas inóspitas das bacias dos rios Douro, Tejo e Guadiana, segundo o ICNF. É na bacia do rio Tejo que a espécie é mais abundante, nidificando maioritariamente em rochas de vales encaixados com matagal mediterrânico.

Cegonha-preta. Foto: Frank Vassen/Wiki Commons

O canhão fluvial do Douro, escarpado e inacessível no seu troço fronteiriço, alberga desde há muito um dos mais importantes núcleos nidificantes da espécie na Península Ibérica. Nesta zona, a espécie muito tímida tem um comportamento rupícola, ou seja, seleciona exclusivamente rochedos verticais, em geral, próximos da margem para instalar os seus ninhos.

“Os ninhos localizam-se uniformemente nos dois lados da fronteira – em Portugal, no Parque Natural do Douro Internacional e em Espanha, no Parque Natural de Arribes del Duero”, explica o mesmo instituto.

Nestas duas áreas protegidas, que totalizam 200 mil hectares, a cegonha-preta e outras aves rupícolas são seguidas e vigiadas, ano após ano e durante a nidificação, por uma equipa transfronteiriça com cerca de 20 elementos que incluem Vigilantes da Natureza (ICNF), Agentes Medioambientales (Junta de Castilla y León) e biólogos de ambos os organismos.

Além de estudar a situação da espécie, como os seus parâmetros reprodutores e as ameaças, as equipas fizeram algumas acções de conservação, como a abertura de charcas e a implementação de medidas de minimização dos riscos de colisão e eletrocussão derivados da presença de linhas elétricas. 

No âmbito deste seguimento transfronteiriço, as equipas fizeram visitas regulares aos ninhos. Assim, “foi confirmado que, num dos ninhos que estava a ser monitorizado (situado do lado português), dois juvenis tinham morrido no seu interior. Essa situação ocorreu na fase final do seu desenvolvimento, quando a grande maioria das crias dos outros ninhos já tinha saído dos mesmos”, segundo o ICNF.

Os cadáveres foram recolhidos, com a ajuda da Associação Humanitária Bombeiros Voluntários de Freixo de Espada à Cinta, e enviados para o Laboratório de Anatomia Patológica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), onde será feita a sua necropsia e avaliação das causas de morte.

No entanto, o ICNF adianta que “não foram encontradas evidências das causas de mortalidade mais comuns, nomeadamente, predação, cordões de plástico, ou ação humana direta”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.