Há uma nova espécie na lista de morcegos conhecidos em Portugal

Com base numa análise genética, cientistas descobriram que o morcego-de-bigodes de Alcathoe ocorre em Portugal, provavelmente “em toda a região norte em locais com floresta madura atravessada por rios”.

 

O registo do morcego-de-bigodes de Alcathoe (Myotis alcathoe) para o território português foi publicado esta semana na revista científica Biodiversity Data Journal, num estudo coordenado por Vanessa Mata e Sónia Ferreira, investigadoras do CIBIO-InBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos.

A nova espécie foi descoberta quando a equipa de investigadores do CIBIO-InBIO fez a sequenciação genética do código de barras de 26 espécies de morcegos com presença em Portugal. “Códigos de barras” são segmentos curtos de ADN que os cientistas analisam para distinguir e identificar organismos, comparando esses códigos com uma base de dados na qual estão catalogadas diferentes espécies.

O morcego em questão tinha sido capturado em 2005 e na altura foi identificado como um morcego-de-bigodes (Myotis mystacinus), recorda em comunicado o laboratório de pesquisa da Universidade do Porto. Essa espécie é muito semelhante aos morcegos-de-bigode de Alcathoe, mas a presença destes últimos em território português era até hoje desconhecida.

 

Morcego capturado em 2005, pelo investigador Hugo Rebelo. Foto: Hugo Rebelo

 

A nova espécie vem juntar-se ao recentemente confirmado morcego-de-franja-críptico (Myotis crypticus) para o território nacional, capturado na zona das serras do Alvão e Marão por Paulo Barros e pela sua equipa, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Esse registo tinha sido publicado em Maio, na revista Barbastella – Journal of Bat Research and Conservation.

O novo estudo agora publicado inclui assim 26 das 27 espécies de morcegos que são actualmente conhecidas em Portugal Continental, indica a equipa do CIBIO-InBIO.

 

Capturado no Parque Nacional da Peneda-Gerês

O morcego-de-bigodes de Alcathoe que foi agora descrito tinha sido capturado há 15 anos no Parque Nacional da Peneda-Gerês, mas “a sua identidade passou despercebida” até à realização do estudo agora publicado, acrescenta o laboratório, sublinhando que as colecções de história natural são “repositórios de biodiversidade desconhecida”.

A espécie apresenta “características morfológicas muito semelhantes e quase indistinguíveis do morcego-de-bigodes” e foi descrita para a ciência só em 2001, a partir de morcegos encontrados na Grécia e na Hungria. Desde então, a sua presença tem sido observada em vários países da Europa.

“Os registos mais próximos do nosso país são do norte da Galiza, sendo possível que a sua distribuição em Portugal não se restrinja apenas ao Gerês, mas sim a toda a região norte em locais com floresta madura atravessada por rios”, acredita a equipa de investigadores portugueses.

 

Habitat do morcego-de-bigodes de Alcathoe no Parque Nacional da Peneda-Gerês. Foto: Hugo Rebelo

 

O novo estudo está ligado aos projectos EnvMetaGen CIBIO-InBIO e PORBIOTA e realizou-se no âmbito da iniciativa IBI: InBIO Barcoding Initiative. Esta traduz-se na construção de uma biblioteca de “códigos de barras” de ADN focada especialmente em invertebrados, mas que inclui agora também quase todos os quirópteros portugueses.

Espera-se que esta colecção do CIBIO-InBIO “seja uma ferramenta fundamental para a monitorização da biodiversidade a longo prazo e em larga escala na Península Ibérica, assim como para a descoberta de novas espécies em Portugal e no mundo”, acrescenta o laboratório, em comunicado.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Aprenda como acontecem os primeiros voos dos morcegos, no Verão.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.