A ameaçada Clianthus puniceus. Foto: Ines Stuart Davidson

Inteligência Artificial: Jardins Reais de Kew prevêem risco de extinção para todas as plantas com flor

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Pela primeira vez, investigadores dos Jardins Reais de Kew previram o risco de extinção para todas as 328.565 plantas com flor conhecidas, graças à Inteligência Artificial (IA). As previsões estão disponíveis online de forma gratuita.

Num artigo publicado a 5 de Março na revista New Phytologist, os investigadores dizem ter criado um modelo de previsão do risco de extinção de cada planta com flor e esperam assim ajudar a acelerar a conservação onde ela é mais necessária e permitir aos cidadãos protegerem a sua biodiversidade local.

A ameaçada Clianthus puniceus. Foto: Ines Stuart Davidson/RBG Kew

A partir de agora, qualquer pessoa – desde quem está a escolher a sua primeira planta lá para casa ou um investigador especializado em Botânica – pode procurar o nome de uma planta online e ver imediatamente se é provável que esteja ameaçada de extinção na natureza e qual o nível de confiança que os cientistas têm nessa previsão.

Os cientistas usaram um modelo baseado em dados de mais de 53.000 plantas já avaliadas pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) para determinar o estatuto provável das 275.004 espécies restantes ainda não avaliadas.

Uma versão anterior desta investigação, divulgada em Outubro de 2023, revelou que 45% de todas as plantas com flor estão ameaçadas de extinção. Agora passamos a poder aceder aos dados nos quais esta percentagem foi baseada, e a todo o conjunto de previsões para cada espécie individualmente.

Para isso bastará escrever o nome científico da planta no campo de pesquisa do site Kew’s Plants of the World Online. Na página dedicada à espécie que procurou, pode consultar o seu risco de extinção e o grau de confiança dos investigadores para esta previsão no campo “General Information” e depois em “According to Angiosperm Extinction Risk Preditions v1”.

Uma flor de Brugmansia sanguinea, espécie extinta na natureza, nas estufas dos Jardins de Kew. Foto: Ines Stuart Davidson/RBG Kew

Assim, os investigadores pretendem que a conservação das plantas se torne “mais acessível e atractiva” para o público em geral e, desta forma, aumentar a consciencialização e a acção para restaurar a biodiversidade.

“Esperamos que estas previsões possam ser usadas para que as pessoas as apliquem à sua biodiversidade local para descobrir se têm uma espécie ameaçada” na sua casa, jardim ou parque local que precise de protecção, comentou, em comunicado, Steve Bachman, autor do estudo e coordenador de investigação da equipa de Avaliação e Análise da Conservação de Kew.

“A uma escala maior, os cientistas podem usar os nossos dados para estabelecer prioridades e acelerar as avaliações de extinção das plantas que identificámos como provavelmente ameaçadas mas que ainda não foram avaliadas oficialmente pela Lista Vermelha da UICN. Esperamos que se possa assumir o compromisso de avaliar estas espécies ou que possamos incentivar outras pessoas a realizar estas avaliações.”

As plantas têm um papel crucial para garantir ecossistemas saudáveis e resilientes. Além disso, as plantas podem dar-nos soluções naturais para travar as alterações climáticas, por exemplo.

Orquídea de Darwin (Angraecum sesquipedale). Foto: Ines Stuart Davidson/RBG Kew

“De momento faltam-nos avaliações formais para a maioria das espécies de plantas e cada perda silenciosa põe em risco a nossa capacidade de responder a desafios futuros”, acrescentou Bachman. 

Segundo Eimear Nic Lughadha, investigador sénior da equipa de Avaliação e Análise da Conservação dos Jardins de Kew e autor do estudo, “quando uma planta é avaliada, em especial como Em Perigo ou Criticamente Em Perigo, isso altera o seu destino, uma vez que passando a ser conhecido o seu risco de extinção já se pode dar prioridade à sua conservação”. “Na ausência de avaliações da Lista Vermelha da UICN para todas as espécies de plantas, as nossas previsões darão uma indicação realmente útil sobre que espécies consideramos terem maiores probabilidades de estar ameaçadas e, pela primeira vez, o nosso nível de confiança na previsão para cada espécie.”

Os investigadores vão manter esta base de dados actualizada com novas versões, uma vez que o estatuto das espécies é algo que pode melhorar ou piorar.


Saiba mais aqui sobre as espécies de plantas vasculares ameaçadas em Portugal.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.