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Lince-ibérico. Foto: LIFE Iberlince

Lince libertado em Portugal fotografado na região de Barcelona

Lítio, um lince-ibérico macho de quatro anos que tinha sido libertado no Vale do Guadiana em Outubro de 2016, foi agora detectado na área metropolitana de Barcelona, em Espanha, anunciou o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

 

“Técnicos do Governo da Catalunha identificaram e fotografaram um lince equipado com uma coleira atravessando um campo de cerejeiras”, explica um comunicado conjunto do ICNF e do Governo da Catalunha. Foi com base nessas fotografias que Lítio foi identificado, a partir da colaboração entre técnicos do Servicio de Fauna y Flora do Governo catalão e do projecto LIFE Iberlince “Recuperação da distribuição histórica de lince ibérico em Portugal e Espanha”.

 

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As deslocações deste animal em território português e em várias regiões espanholas somam no total cerca de 1000 quilómetros. Lítio foi o quinto lince a realizar dispersões conhecidas entre Portugal e Espanha desde 2010, mas o primeiro a ser detectado na Região Autonómica da Catalunha. Aliás, trata-se da primeira ocorrência desta espécie na Catalunha, desde os princípios do século XX.

“Os técnicos preparam-se agora para tentar a sua recaptura. A recuperação do colar emissor, que após 2 anos já não tem bateria funcional, permitirá conhecer os percursos realizados por este lince com mais detalhe”, adianta o mesmo comunicado.

Este lince nasceu em 2014 em Espanha, no centro de reprodução do El Acebuche, no Parque Nacional de Doñana. Em Maio de 2015, foi directamente libertado na natureza, na Herdade das Romeiras, concelho de Mértola.

No entanto, passado um ano, em Maio de 2016, Lítio acabaria por ser capturado em Gibraelon (Huelva), com “sinais de debilidade e de doença”. Foi levado para um centro de recuperação de fauna em Huelva, onde permaneceu durante cerca de quatro meses, até ser novamente solto na área de reintrodução em Mértola com o objectivo de integrar a população de linces do Vale do Guadiana. “Rapidamente porém iniciou grandes movimentos dispersivos chegando a ser localizado na zona ocidental do Algarve.”

 

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Lítio surge assim como um dos vários exemplares de lince que realizam grandes deslocações, atravessando toda a Península Ibérica sem se fixarem, e que “podem ter uma função de conectividade muito importante para o futuro da espécie”, acrescenta o ICNF. “Esta capacidade de movimentação permite (…) que possa vir a existir um fluxo genético entre as populações a nível ibérico e a espécie possa funcionar como uma metapopulação.”

Ao contrário de Lítio, a maioria dos linces-ibéricos que estão estabilizados numa população, como por exemplo a população de linces do Vale do Guadiana, fixam-se em territórios que medem apenas entre cinco a dez quilómetros quadrados.

 

589 linces em 2017

Lançado em 2013 em várias regiões de Portugal e Espanha, o projecto Iberlince visa a reintrodução da espécie em seis áreas da Península Ibérica, com o objectivo final de recuperar a sua distribuição histórica. Co-financiado pelo programa LIFE da Comissão Europeia, reúne 22 parceiros públicos e privados, portugueses e espanhóis.

Nos últimos 15 anos, de acordo com os dados do último censo realizado, o número de exemplares   em toda a Península Ibérica quintuplicou, crescendo de 94 linces em 2002 para um total de 589 no ano passado. O próximo passo depois da consolidação das diferentes populações, segundo os responsáveis do projecto, é conseguir a conectividade entre as diferentes áreas onde ocorre agora a espécie.

O lince-ibérico foi classificado em Junho de 2015 como Em Perigo de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza, depois de ter estado um longo período na categoria mais elevada, Criticamente em Perigo.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Recorde a entrevista que o director do Life Iberlince, Miguel Angel Simón, deu à Wilder, sobre o futuro deste projecto de conservação, que termina a 31 de Dezembro de 2018.

 

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.