planta com flores roxas
Foto: Joana Bourgard

Mesmo sem nariz, as plantas conseguem cheirar

Investigadores da Universidade de Tóquio deram os primeiros passos para descobrir como é que as moléculas de odor provocam mudanças nas plantas, mesmo estas não tendo nariz.

 

O estudo, publicado no final de Dezembro na página online do Journal of Biological Chemistry, demorou mais de 18 anos a ser completado.

“Começámos este projecto em 2000. Parte da dificuldade foi desenhar as novas ferramentas para fazermos pesquisa relacionada com odores em plantas”, explicou Kazushige Touhara, docente na Universidade de Tóquio, num comunicado divulgado pela instituição.

Os chamados compostos orgânicos voláteis, uma classe de moléculas de odor que são detectadas pelas plantas, serviram de base à investigação. Estas moléculas são essenciais para as plantas atraírem aves e insectos polarizadores, deterem pragas e reagirem a doenças noutras plantas próximas.

A equipa expôs células de tabaco e plantas de tabaco com quatro semanas a diferentes compostos orgânicos voláteis. Descobriram que essas moléculas de odor mudam a expressão genética ao ligarem-se a outras moléculas chamadas factores de transcrição, que podem ligar ou desligar os genes de uma célula.

Nas plantas – descobriram os cientistas – os compostos orgânicos voláteis têm de acumular-se dentro das células antes que aconteça uma mudança de comportamento. Pelo contrário, nos animais, a reacção dá-se muito mais depressa, pois estas moléculas são captadas por receptores no nariz e os odores são rapidamente reconhecidos.

“As plantas não podem fugir, por isso é claro que reagem aos cheiros mais devagar do que os animais. Se as plantas se puderem preparar para uma alteração ambiental no mesmo dia, provavelmente isso é suficientemente rápido para elas”, acrescentou Kazushige Touhara, que é também um dos co-autores deste estudo.

 

Menos velocidade, mais variedade

No entanto, menos velocidade da parte das plantas pode ter como contraponto uma maior capacidade para reconhecerem mais moléculas de odor.

“Os humanos têm cerca de 400 receptores de odor. Os elefantes têm cerca de 2.000, o maior número nos animais”, disse o mesmo cientista, acrescentando que as plantas “podem ser capazes de detectar muitos mais odores do que os animais”.

A equipa de investigadores acredita que estas descobertas poderão servir para influenciar o comportamento de culturas sem recurso a pesticidas ou à manipulação de genes. Por exemplo, os agricultores poderiam pulverizar as colheitas com um odor que levasse as plantas a alterarem o sabor das folhas, tornando-as detestáveis para uma praga de insectos.

 

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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.