/

Municípios algarvios instalaram mais de 1.500 ninhos para ajudar aves como chapins e corujas

Chapim-azul. Foto: TheOtherKev/Pixabay

Em plena época de nidificação das aves, a Wilder falou com a associação Vita Nativa, coordenadora do projecto Alojamento Local para Aves, que termina este ano. Para esta temporada, as aves algarvias têm à sua disposição 1.560 caixas-ninho.

Desde que a 26 de Novembro de 2020 foi instalada a primeira caixa-ninho do projecto, para poupas ou estorninhos-pretos na Ria Formosa, já são 1.560 as caixas-ninho disponibilizadas em todos os municípios algarvios.

Instalação da primeira caixa. Foto: Alojamento Local para Aves

A maioria são para os chapins (chapim-real, chapim-azul e chapim-de-poupa). “Temos mais de 1.000 caixas-ninho para espécies de chapins, mais de 200 caixas-ninho para estorninhos-pretos e poupas e, por fim, cerca de 200 caixas-ninho para espécies de aves de rapina, como os mochos-galegos, os peneireiros-vulgares e as corujas-das-torres”, revelou à Wilder João Tomás, responsável da Vita Nativa, associação com sede em Olhão.

Além de ajudar as próprias aves, o projecto quer ajudar os municípios. Isto porque estas aves são muito importantes, por exemplo, para o controlo natural de algumas espécies, como as lagartas-do-pinheiro e os ratos.

Durante a época de nidificação de 2021, das quase 600 caixas-ninho monitorizadas, cerca de 40% foram ocupadas por uma ou mais espécies de aves. Nelas nasceram cerca de 1.000 crias.

Este ano, a época está ainda em curso mas já há novidades. Graças a câmaras de videovigilância instaladas em algumas das caixas-ninhos é possível saber, por exemplo, que um casal de estorninhos-pretos construiu o seu ninho dentro de uma caixa-ninho e lá pôs os seus ovos. “Palha atrás de palha, durante duas semanas foi construindo o ninho e tornando o alojamento mais confortável para receber os ovos”, explica a associação em comunicado.

Um dos objectivos deste projecto é “proporcionar locais de nidificação para várias espécies cavernícolas que vivem em contexto urbano e periurbano”. Para isso foram criados cinco modelos de caixas-ninho, a pensar nas especificidades das diferentes espécies e no local/habitat a instalar.

O “Alojamento Local para Aves”, que venceu o Orçamento Participativo Nacional de 2018, é uma colaboração entre a Associação Vita Nativa e o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e deverá terminar este ano, depois de dois anos de trabalho.

Chapim-azul. Foto: TheOtherKev/Pixabay

Neste momento, a Vita Nativa está a convencer os parceiros a querer continuar com as caixas-ninho instaladas e a permitir a monitorização e manutenção, depois do fim do projecto. “Sempre foi objetivo da associação que as caixas-ninho permanecessem nos locais onde foram instaladas para além do período de implementação do projeto”, explicou João Tomás.

“O bom resultado de ocupação que temos tido, que ajudam à biodiversidade das áreas urbanas do Algarve, aliado à grande visibilidade que o projeto tem tido e à boa dinâmica de trabalho que temos desenvolvido com os diferentes parceiros, serão chave para o momento de os convencer a estender o projeto por mais anos.”

“Estamos a esforçar-nos para garantir que uma grande percentagem das caixas-ninho continue a ser monitorizada depois do projeto terminar. Retirar as caixas só mesmo no caso do parceiro não as querer, o que será muito pouco provável.”

Durante esta Primavera vai continuar a monitorização das caixas-ninho já instaladas e as idas do projecto às escolas, a lares e a outros locais públicos. Este ano já foram feitas 16 actividades, onde participaram mais de 1.000 pessoas. “A ideia é tentar vincular desde o início os alunos e os idosos às caixas, e que sintam vontade de ajudar a monitorizá-las.”

“Todas as atividades são muito gratificantes para nós, mas destacamos as que foram realizadas com o público sénior. É incrível e muito gratificante poder falar com as pessoas mais idosas sobre as aves”, comentou João Tomás. “Conhecem tão bem as aves, sabem tantas histórias e tantos nomes populares. Até costumamos brincar no início da atividade e dizer ‘Nós viemos de tão longe não para ensinar, mas para aprender sobre aves com vocês’. Ainda recentemente fomos a Aljezur e aprendemos tanto! Almegengra (chapim-real), junqueirinha (fuinha-dos-juncos) e patinhas (petinhas) foram alguns dos nomes locais de aves que ficámos a conhecer.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.