Pintassilgo. Foto: Giles Laurent/Wiki Commons

Nos jardins ingleses há menos pardais e estorninhos, mas aumentaram os pintassilgos e pombos-torcazes

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A ONG britânica Royal Society for the Protection of Birds (RSPB) comparou os dados obtidos nestes últimos 45 anos através do projecto de ciência cidadã Big Garden Birdwatch, no qual participam meio milhão de voluntários, todos os anos.

O “Big Garden Birdwatch”, que traduzido para português significa algo como “a grande observação de aves em jardins”, é considerado o maior projecto de ciência cidadã do mundo, de acordo com uma notícia da BBC. Coordenado pela RSPB, uma ONG dedicada ao estudo e conservação das aves do Reino Unido, foi lançado há 45 anos, em 1979.

Anualmente, é na última sexta, sábado e domingo de Janeiro que os britânicos são convidados a passarem uma hora no seu jardim ou num parque urbano, ou até mesmo na varanda, a observar e a identificar as aves que conseguem ver e ouvir. Em média, participam neste desafio cerca de meio milhão de pessoas.

Este ano, o Big Garden Birdwatch acontece entre esta sexta-feira e domingo, de 26 a 28 de Janeiro. “Esta contagem é um pequeno retrato de um fim-de-semana e favorece as aves que vivem e se alimentam perto de populações humanas, mas as tendências gerais que têm sido observadas espelham o que é mostrado em contagens mais sistemáticas”, explica a notícia.

Pardal-comum. Foto: Tim/Pixabay

Tanto os pardais (Passer domesticus) como os estorninhos (Sturnus vulgaris) e os verdilhões (Chloris chloris), considerados das aves mais comuns no Reino Unido, são os que têm sofrido descidas maiores. Os números de pardais, que ainda assim continuam a ser os mais observados nesta contagem, diminuiram 57% face a 1979, indica a RSPB. Apesar de tudo, tanto estas pequenas aves chilreadoras como os verdilhões recuperaram um pouco desde 2000.

Já os estorninhos, que ainda ocupam o terceiro lugar entre as aves mais vistas e ouvidas nos jardins ingleses, têm continuado sistematicamente a baixar o número de registos, com uma quebra de mais de 80% nos últimos 45 anos. “Pensa-se que o declínio se deve à perda de pastagens permanentes, ao uso crescente de químicos agrícolas e à falta de comida e locais de nidificação em muitas áreas”, adianta a BBC.

Quanto ao verdilhão, cujos números baixaram cerca de 60% desde o início, tem sido afectado por uma doença conhecida como tricomaníase aviária, transmitida por um parasita que vive em alimentadores sujos – daí a importância da limpeza regular destes locais.

Verdilhão. Foto: Martin Kunz/WikiCommons

Pintassilgos e chapins-rabilongos

Quanto aos pintassilgos (Carduelis carduelis) e aos chapins-rabilongos (Aegithalos caudatus), que há alguns anos nem sequer constavam das 15 espécies mais registadas nesta iniciativa, agora surgem consistentemente nos primeiros dez lugares.

Chapim-rabilongo. Foto: Gilles San Martin/Wiki Commons

Acredita-se que os pintassilgos terão beneficiado do aumento de alimentadores disponíveis nos jardins, enquanto que a quantidade de pequenos chapins-rabilongos aumentou devido à subida das temperaturas associada às alterações climáticas.

Foto: Hobbyfotowiki/Wiki Commons

Também os pombos-torcazes (Columba palumbus) se tornaram mais comuns nos jardins do Reino Unido. Em 2023, foram a quarta espécie mais registada, e a RSPB afirma que o país tem agora “números significativos” desta espécie a nível mundial.


Saiba mais.

Recorde um feliz encontro do biólogo Paulo Catry com um enorme bando de pombos-torcazes na Beira raiana, num mês de Nobembro. Aqui.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.