Erva-das-pampas, uma das espécies invasoras mais comuns. Foto: Invasoras.pt

Novo projecto ensina a combater a invasão de erva-das-pampas em Portugal

O projecto luso-espanhol LIFE Stop Cortaderia quer informar sobre os perigos desta espécie invasora e ensinar a controlá-la. Saiba como e porquê.

As plumas brancas e vistosas elegeram-na uma planta decorativa muito procurada para jardins e quintais, mas a erva-das-pampas, espécie da América do Sul, é actualmente uma invasora muito preocupante em Portugal, alerta Hélia Marchante, professora na ESAC – Escola Superior Agrária de Coimbra (Instituto Politécnico de Coimbra).

“É uma gramínea de crescimento rápido, altamente adaptável a diversos climas, solos e habitats. Invade dunas costeiras, terrenos com elevado valor ecológico e de conservação e também áreas perturbadas”, explica a docente universitária, que é também investigadora no Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra.

Com o nome científico Cortaderia selloana, esta “espécie oportunista” prefere terrenos onde alguém eliminou ou perturbou as plantas nativas, como acontece muitas vezes em “taludes de estradas e caminhos-de-ferro, onde rapidamente cria manchas contínuas onde domina.”

Paisagem invadida por erva-das-pampas. Foto: LIFE Stop Cortaderia

Resultado? Plantas nativas – ou seja, naturais do território português – têm dificuldade em estabelecer-se em zonas ocupadas por esta invasora devido à falta de espaço. É que as ervas-das-pampas “podem atingir três ou quatro metros, formando aglomerados densos.”

Sobram também menos recursos para outras espécies, como é o caso da água disponível, e vários animais têm dificuldade em circular entre a folhagem densa e as folhas muito cortantes.

Alergias, cortes causados pelas folhas e custos económicos provocados pela necessidade de remover estas plantas são outros efeitos negativos da erva-das-pampas, que em Portugal só foi considerada legalmente uma invasora em Julho passado, com a publicação do Decreto-Lei 92/2009.

Uma pluma, milhares de sementes

Um dos maiores problemas é a facilidade com que se espalha: “Cada planta pode produzir até um milhão de sementes que são facilmente dispersas pelo vento e que podem ‘viajar’ pelo ar até 30 quilómetros de distância da planta-mãe – explica Hélia Marchante – principalmente nas bermas de auto-estradas e caminhos de ferro onde a circulação do ar provocada pela passagem dos veículos facilmente as transporta a longas distâncias”. 

Foto: Hélia Marchante

Foi para combater a expansão desta invasora nos países do sul do Arco Atlântico – Portugal, Espanha e França – que nasceu o projecto luso-espanhol LIFE Stop Cortaderia (2018-2022). A Câmara Municipal de Gaia e a Escola Superior Agrária de Coimbra são os parceiros do lado português.

Objectivos? Educar as pessoas sobre a erva-das-pampas e ensiná-las a controlar a sua expansão, recolher nova informação científica e de gestão sobre a espécie, criar redes de cooperação entre diferentes países e mapear as plantas através de detecção remota.

Financiado por fundos da União Europeia, o LIFE Stop Cortaderia é também financiado pelo governo regional da Cantábria, no Norte de Espanha. Especificamente nesta região, em áreas naturais protegidas junto à costa, o projecto prevê a erradicação de forma mecânica destas plantas. É que ali, esta invasora é das que mais problemas causa.

“Na Cantábria, a erva-das-pampas invade não só os terrenos perturbados e as margens de vias de comunicação, mas também dunas, marismas e estuários de elevado valor ecológico, como acontece também já em Portugal.”

Hélia Marchante recorda que a espécie é originária da região das Pampas (que abrange partes da Argentina, Uruguai e sul do Brasil) e foi introduzida como planta ornamental um pouco por todo o mundo. Hoje, é invasora em vários países da América do Norte, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e Europa, incluindo Holanda, Itália, Grécia, Reino Unido e outros países – sempre “com níveis diferentes de invasão”.

E em Portugal?

O crescimento desta erva em Portugal está a ser “alarmante”, pelo que é “urgente” controlar ou pelo menos conter a erva-das-pampas e informar a população, sublinha a investigadora, que está também ligada ao projecto invasoras.pt.

A erva-das-pampas pode ver-se “de norte a sul do país, principalmente junto ao Litoral Norte e Centro, mas não só.” Há também registos em ilhas dos Açores e da Madeira.

A zona que vai de Aveiro até Gaia e Porto é uma das mais invadidas, mas desde há vários anos que a espécie se tem vindo a espalhar por toda a zona litoral portuguesa. Na cidade de Lisboa, por exemplo,  “é possível vê-la em terrenos incultos e nas bermas, em jardins e até nos separadores centrais das vias rápidas.”

No âmbito do projecto de ciência cidadã do invasoras.pt, que regista avistamentos de plantas invasoras em Portugal, contribuindo para fazer um mapa dessas espécies no país, a erva-das-pampas já inclui mais de 1.800 pontos reportados por cidadãos. Estima-se que o número real será bastante superior, avisa a cientista.


Agora é a sua vez.

Quer saber como pode ajudar a conter a erva-das-pampas? Hélia Marchante explica-lhe:

“Estamos no final da altura certa para ajudar a controlar esta invasora. Numa altura em que a maioria das plumas estão formadas mas a maioria das sementes ainda não estão maduras, um método efectivo de conter a invasão é precisamente remover as plumas antes que se formem mais sementes.

Estas são muito pequenas e leves, facilmente transportadas pelo vento, pelo que a sua remoção deve ser feita o quanto antes.

Visto que a erva-das-pampas tem as folhas cortantes e podem causar ferimentos, pólen bastante abundante e flores muito pequenas e leves que podem causar alergias, é muito importante que se tomem certos cuidados antes de começar a manusear a espécie: usar sempre calçado fechado, calças, mangas compridas e no caso das pessoas mais sensíveis, uma máscara. Ter cuidado com o rosto e os olhos, devido às folhas cortantes.

Não pretendemos que o comum cidadão tente arrancar as plantas, depois de estas atingirem a idade adulta, são muito difíceis de remover.

O que podemos todos fazer é então .. arrancar as plumas! Tão simples quanto isso! Mas porque uma pluma apenas pode originar milhares de sementes, ao remover as plumas antes da altura da frutificação (que se começa a observar agora!!) estamos a evitar que estes milhares de sementes (até 1 milhão por planta!) germinem e inclusivamente colonizem novas áreas.

Aqui o objectivo é conter a invasão, não permitindo que a espécie se propague para sítios onde ainda não existe. Pensa-se que as sementes terão no máximo 2 anos de viabilidade (o mais provável é ser bem menos), pelo que a remoção das plumas todos os anos é uma enorme ajuda a manter esta espécie contida.

O que fazer com as plumas? Bem .. estamos a entrar na época crítica em que já se começam a ver algumas flores com sementes, pelo que aconselhamos a que coloquem as plumas arrancadas dentro de sacos de lixo bem fechados e as deixem apodrecer / perder viabilidade. Apelamos para que não as deixem no local, com o risco de já haver sementes e estas germinarem.

Se não conseguirem levar as plumas, aconselhamos que façam uma cova no chão, com pelo menos 3 palmos de profundidade e coloquem lá as plumas, enterrando-as de seguida. É importante que fiquem bem fundas, na eventualidade de o terreno ser remexido e as sementes voltarem ao de cima, estas poderão germinar.

Para quem tiver forno de lenha fechado poderá queimá-las, mas é importante que fique bem fechado, pois as flores de tão leves e pequenas que são, poderão lançar algumas fagulhas em várias direcções.”

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.