Erva-das-pampas, uma das espécies invasoras mais comuns. Foto: Invasoras.pt

Mapa das plantas invasoras em Portugal já tem mais de 15.000 registos

Em Portugal há 670 espécies de árvores, arbustos, ervas, suculentas e trepadeiras exóticas que, de uma forma ou de outra, se tornaram invasoras e uma ameaça às espécies portuguesas. O mapa com a distribuição destas plantas, feito por uma equipa da Universidade de Coimbra e por cidadãos naturalistas, acaba de ultrapassar os 15.000 registos.

 

O grande objectivo do mapa de avistamentos do projecto Invasoras.pt, plataforma que funciona há cerca de cinco anos, é “tornar a informação sobre a distribuição das plantas invasoras em Portugal mais completa e útil”, explica o site do projecto.

Na semana passada foi anunciado que o mapa ultrapassou as 15.000 submissões validadas. O alistamento número 15.000 foi para uma figueira-do-inferno (Datura stramonium) perto de Entrecampos, em Lisboa.

Só no último ano, de Julho de 2017 a Julho de 2018, foram validados mais de 2.500 avistamentos. As seis espécies mais avistadas foram a erva azeda (358 registos), a cana (314 registos), a erva-das-pampas (297 registos), o chorão-da-praia (148 registos), a mimosa (132 registos) e a acácia-de-espigas (129 registos).

Nesse período houve 123 novos utilizadores e seis pessoas conseguiram submeter mais de 100 registos.

“O número 15.000 surpreendeu-nos muito pela positiva por termos a noção que os portugueses são muito pouco cidadãos naturalistas”, disse à Wilder Hélia Marchante, investigadora na Universidade de Coimbra e no Instituto Politécnico de Coimbra e uma das responsáveis pelo Invasoras.pt. As exóticas invasoras são “uma questão muito específica e precisamos conquistar as pessoas para darem o contributo. Mas cada vez recebemos mais ajudas.”

Segundo Hélia Marchante, os registos submetidos pelas pessoas permitem aos especialistas saber onde estão as exóticas invasoras. “Ficamos com a noção de que as espécies estão nas zonas onde pensávamos que estavam. Em outros casos, fomos sabendo que estavam lá por causa dos avistamentos, como os espanta-lobos que estão em mais sítios do que pensávamos.”

A frequência com que cada espécie dá entrada neste mapa de avistamentos é muito condicionada pela altura do ano. “Há espécies muito mais avistadas do que outras em determinada época do ano, porque é quando são mais visíveis. Por exemplo isto é o que acontece com a acácia que está em flor de Fevereiro a Março”, acrescentou a investigadora.

A maioria dos registos no Invasoras.pt é feita na berma das estradas ou junto a linhas de comboio, em jardins e em terrenos incultos.

“Algumas espécies são mais avistadas ao longo das estradas, o que traduz o facto de que a nossa perturbação aí é maior, somos agentes facilitadores da dispersão das invasoras”, explicou.

Mas este mapa ainda está incompleto e precisa da ajuda dos cidadãos. O grande objectivo é sirva de ponto de partida para tomadas de decisão de gestores do território ou para qualquer pessoa que precisar da informação, de forma gratuita.

Todos os avistamentos validados estão visíveis no mapa Google Fusion. No mapa do site apenas podem ser visualizados os últimos 500 avistamentos validados.

Os dados do mapa das invasoras estão disponíveis no GBIF (Nó Português do GBIF e internacional) e na base de dados da EASIN (European Alien Species Information Network).

 

[divider type=”thick”]Que impactes têm na natureza as seis espécies mais avistadas? 

As azedas formam tapetes densos que podem impedir o desenvolvimento da vegetação nativa.

As canas ocupam áreas extensas, impedindo o desenvolvimento da vegetação nativa (nomeadamente vegetação de zonas ribeirinhas), excluindo a fauna associada e interferindo com o fluxo de água. Em ilhas e arribas impedem a nidificação de algumas aves, com impactes graves nessas espécies.

As ervas-das-pampas crescem vigorosamente e formam aglomerados densos que dominam a vegetação, criam barreiras à circulação da fauna e utilizam os recursos disponíveis para outras espécies.

O chorão-das-praias forma tapetes impenetráveis que ocupam áreas extensas, impedindo o desenvolvimento da vegetação nativa. Além disso, promove a acidificação do solo, facilitando o seu próprio desenvolvimento.

A mimosa e a acácia-de-espigas formam povoamentos muito densos que impedem o desenvolvimento da vegetação nativa, diminuindo o fluxo das linhas de água e agravando problemas de erosão. Produzem muita folhada rica em azoto promovendo a alteração do solo, o que poderá ter efeitos negativos no desenvolvimento e sobrevivência das espécies nativas e favorecer o crescimento de outras espécies invasoras.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Em Portugal estima-se que existam cerca de 670 espécies exóticas, desde árvores a flores e arbustos. O site do projecto Invasoras.pt tem à sua disposição a lista das espécies invasoras, com uma fotografia de cada uma para ajudar à identificação. A lista está organizada por árvores e arbustos, ervas, ervas aquáticas, suculentas e trepadeiras. Consoante a época do ano, o projecto lança desafios para o registo de determinada espécie. 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.