Foto: Johan Hansson / Wiki Commons

Publicada maior base de dados sobre mamíferos em Portugal, com mais de 105.000 registos

A informação vai servir de base à revisão do Livro Vermelho dos Mamíferos, mas está também disponível para todos os interessados no estudo deste grupo de animais.

A equipa do projecto do Livro Vermelho dos Mamíferos, que está a trabalhar na revisão do estatuto de ameaça e estado de conservação destas espécies em Portugal, realizou uma “compilação inédita” de dados de ocorrências georreferenciados de mamíferos em Portugal Continental e nos Açores e Madeira.

A nova base de dados pública inclui 105.026 registos de 92 espécies de mamíferos terrestres e marinhos, desde 1873 a 2021, sendo que 72% dos dados correspondem ao período entre 2000 e 2021, indicam numa nota de imprensa os responsáveis do Livro Vermelho dos Mamíferos, lançado em 2019.

Envolvidos na produção desta base de dados estiveram cientistas de diferentes universidades portuguesas, consultores e técnicos dos centros de recuperação de vida selvagem, do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas, de Câmaras Municipais e ONGs. O projecto foi liderado por Clara Grilo, investigadora do CESAM – Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM Ciências), ligada à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e os resultados foram publicados na revista científica Ecology.

“Esta informação serve não só de base para a Revisão do Livro Vermelho de Mamíferos em Portugal, mas também estará disponível a todos os interessados que pretendam estudar as espécies de mamíferos que ocorrem em Portugal Continental e nos arquipélagos dos Açores e da Madeira”, destaca Clara Grilo.

Quase metade dos registos são de espécies ameaçadas

Entre os 105.026 registos disponíveis, mais de 40.000 pertencem a espécies ameaçadas, de acordo com o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005) e com a União Internacional para a Conservação da Natureza, como são os casos do coelho-bravo, a foca-monge-do-mediterrâneo e o lince Ibérico

“Várias espécies de mamíferos terrestres estão ameaçadas pela perda de habitat e pela perseguição humana, como o controlo de predadores ou atividades de caça ilegal, e algumas espécies mamíferos marinhos estão ameaçadas pela colisão com navios, a poluição, a pesca de arrasto, e falta de recursos alimentares”, sublinha Clara Grilo.

“Com este grande conjunto de dados é possível desenvolver estudos mais robustos sobre os factores que promovem a sua ocorrência e desta forma auxiliar no desenvolvimento de estratégias de conservação para estas espécies em Portugal.”

O projeto de “Revisão do Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental e Contributo para a Avaliação do seu Estado de Conservação” tem como objectivo descobrir, dentro desse grupo, quais são as espécies mais ameaçadas e as que pelo contrário estão mais estáveis ou a aumentar a sua população. 

A área de intervenção abrange o território de Portugal Continental. Os trabalhos de campo incidem com maior atenção na Rede Nacional de Áreas Protegidas e nas Zonas Especiais de Conservação da Rede Natura 2000.

A avaliação global do estado de conservação das espécies abrangidas pela Diretiva Habitats constitui é outro dos principais objetivos do projecto. Esta análise, de acordo com a equipa, vai ser crucial para o estabelecimento de medidas e acções a desenvolver no âmbito da conservação dos mamíferos em Portugal.


Saiba mais.

Recorde várias medidas de protecção dos mamíferos em Portugal, sugeridas por alguns dos investigadores ligados ao Livro Vermelho dos Mamíferos.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.