Quebra-ossos. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

Quebra-ossos pode recuperar visão graças a donativos de cidadãos

A história de Rin Ran comoveu dezenas de pessoas que quiseram ajudar. Graças aos seus donativos, este jovem quebra-ossos, que estava a ficar cego depois de um acidente, foi finalmente operado e já pode voltar a ver.

 

Mais de 50 cidadãos ajudaram a pagar uma intervenção cirúrgica para recuperar a visão de Rin Ran, um jovem quebra-ossos (Gypaetus barbatus) que vive no Centro de Reprodução em Cativeiro de Guadalentin, na Andaluzia, Espanha.

 

Rin Ran. Foto: VCF

 

Rin Ran foi a primeira cria de quebra-ossos a nascer nesta época de reprodução em Guadalentin, em Janeiro passado. O programa de recuperação da espécie previa libertar Rin Ran na natureza em Maio.

“Mas estes planos foram deitados por terra quando Rin Ran caiu do ninho, de uma altura de três metros, o que resultou numa paralisia das patas e em ferimentos na cabeça”, explica a Fundação para a Conservação dos Abutres (Vulture Conservation Foundation, VCF), em comunicado.

A ave recuperou da paralisia das patas, mas a equipa técnica do centro reparou que tinha dificuldades em encontrar os alimentos. Foi então transferida para um centro veterinário especializado em oftalmologia, onde lhe foram diagnosticadas cataratas, causadas pelos ferimentos na cabeça. “Rin Ran estava, a pouco e pouco, a perder a visão.”

Segundo a fundação, só uma intervenção cirúrgica poderia evitar o descolamento da retina e a cegueira completa deste quebra-ossos. Mas a operação adequada para resolver este problema nunca tinha sido feita antes num quebra-ossos e era cara. Por isso, a Fundação Gypaetus, que gere aquele centro de reprodução, decidiu pedir ajuda aos cidadãos para conseguir os 2.300 euros necessários.

A campanha, que se previa durar um mês, teve um resultado inesperado e conseguiu reunir a verba em apenas duas semanas. “No total, 54 pessoas fizeram donativos para pagar a operação de Rin Ran, desde cinco euros a 500 euros.”

Graças a este apoio, a operação foi realizada a 18 de Julho. “Tudo correu bem e sem complicações e Rin Ran já está de volta ao centro em Guadalentin” onde, durante as próximas semanas, será avaliada a sua recuperação.

 

Intervenção cirúrgica de Rin Ran. Foto: VCF

 

Assim que estiver totalmente recuperado, este quebra-ossos será integrado no programa de reprodução em cativeiro que está a tentar recuperar esta espécie na Europa.

O quebra-ossos é um dos maiores abutres do Velho Mundo e é o abutre mais ameaçado da Europa, onde se estima que existam hoje pouco mais de 200 casais, 130 dos quais em Espanha.

Em Portugal está dado como extinto. Mas em Maio deste ano, a VCF revelou que um observador de aves alemão viu e fotografou um quebra-ossos no Algarve. A última vez que alguém tinha visto esta espécie em Portugal terá sido no final do século XIX.

Em 2017 foram reintroduzidas na natureza 18 crias de quebra-ossos no âmbito de quatro projectos de conservação da espécie: seis na Andaluzia, duas na Córsega, quatro em Grands Causses/Massif Central e seis nos Alpes/Pré-Alpes.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais sobre o quebra-ossos:

Como é um quebra-ossos: esta é uma ave com quase três metros de envergadura de asa e até oito quilos de peso. A plumagem pode ser muito escura na sua fase juvenil e tornar-se mais clara com as sucessivas mudas. Mas talvez o que melhor a caracteriza são as barbas escuras perto do bico e o vermelho vivo em redor dos olhos.

Onde nidifica: nas saliências rochosas das grandes cadeias montanhosas.

O que significa o seu nome científico: em Latim, Gyp quer dizer abutre, aetus quer dizer águia e barbatus quer dizer com barba.

Alimenta-se de quê: esta ave é a única do planeta que se alimenta quase exclusivamente de ossos, principalmente de ungulados. Pode chegar a alimentar-se de ossos com 20 centímetros, que digere graças ao seu potente estômago. Quando não os consegue comer inteiros, agarra neles com as suas garras e lança-os de grandes alturas em zonas rochosas para os quebrar.

Quais as maiores populações de quebra-ossos na Europa: esta é uma espécie em perigo de extinção no Velho Continente. As maiores populações são as da cordilheira Pirenaica, da Córsega e Creta. A nível mundial, a União Internacional para a Conservação da Natureza classificou-a como Quase Ameaçada.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.