Foto: SPEA

Resgatadas dezenas de aves marinhas desorientadas pela poluição luminosa nos Açores e Madeira 

Dezenas de aves marinhas juvenis vítimas da poluição luminosa foram resgatadas nos Açores e Madeira entre 15 de Outubro e 15 de Novembro, no âmbito do projecto LIFE Natura@night.

Para aves como as cagarras, o Outono é altura de os juvenis saírem do ninho e fazerem-se ao mar pela primeira vez.

“Nesta altura do ano, e por serem pouco experientes, estas aves são frequentemente atraídas pelas luzes, ficando encandeadas e acabando, muitas das vezes, por colidir com edifícios, linhas elétricas e veículos. Ficam caídas no chão, sem conseguir levantar voo, e, por isso, mais suscetíveis a perigos como predadores ou carros”, explica a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) em comunicado.

De 15 de Outubro a 15 de Novembro decorreram campanhas de resgate de aves marinhas, com o apoio de centenas de voluntários, nos arquipélagos da Madeira, Açores e Canárias. Estas campanhas decorreram no âmbito do projeto LIFE Natura@night, que pretende reduzir a poluição luminosa que afeta as áreas protegidas e mitigar os seus impactos nas espécies protegidas.

As campanhas de resgate de aves marinhas na Madeira salvaram 123 aves, graças ao esforço de 93 voluntários.

Nos Açores, mais de 300 voluntários resgataram 119 aves na Graciosa, 154 no Corvo e 357 em São Miguel.

A campanha aconteceu também em Tenerife nos municípios de La Laguna, Santa Cruz, El Rosario, Candelaria, Guimar e Arafo, com o apoio de voluntários. Os dias com mais aves resgatadas foram registados entre 6 e 12 de Novembro. Depois de recolhidas, as aves foram assistidas no Centro de Recuperação de Fauna La Tahonilla, em Tenerife. Após a avaliação veterinária foram libertadas junto ao mar para fazerem os seus primeiros voos.

O objectivo do LIFE Natura@night é agir contra os efeitos da luz artificial nocturna em 27 áreas protegidas dos arquipélagos da Macaronésia (Canárias, Madeira e Açores).

Só nestes três arquipélagos estima-se que 1.100 aves marinhas morram anualmente por causa da poluição luminosa, um problema grave nas zonas de reprodução de espécies que pertencem ao grupo de aves mais ameaçado do mundo.

Além das aves marinhas, a poluição luminosa põe em perigo outras espécies, incluindo insectos nocturnos e morcegos e tem sérios impactos na saúde humana. Segundo a SEO/Birdlife, 99% dos habitantes da Europa e dos EUA vivem em zonas de iluminação nocturna anormalmente intensa.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.