Camarinha (Corema album). Foto: Júlio Reis/WikiCommons

Saiba que planta selvagem portuguesa pode ajudar na luta contra o cancro

Há uma espécie botânica endémica da Península Ibérica que poderá ter propriedades anticancerígenas: a camarinha. Foi isto que descobriu uma equipa da Universidade de Coimbra.

 

A camarinha (Corema album) é um arbusto com folhas cilíndricas pequenas e bagas brancas e podemos encontrá-la especialmente junto à costa, em zonas de dunas.

 

Camarinha (Corema album). Foto: Júlio Reis/WikiCommons

 

“Extratos de Corema album (nome científico da camarinha) conseguem inibir a proliferação” de algumas células cancerígenas, descobriram as investigadoras Aida Moreira da Silva e Maria João Barroca, depois de experiências realizadas em linhas celulares de cancro do cólon (HT29).

Para chegar a esta conclusão, Aida, Maria João e uma equipa de investigadores recorreram a várias técnicas físico-químicas, entre as quais a espectroscopia vibracional.

Segundo as coordenadoras do estudo, o extrato obtido a partir das folhas da planta (camarinheira) mostrou ser “mais eficaz do que propriamente o extrato das bagas de camarinha, o que é que muito interessante, atendendo a que as folhas existem durante todo o ano, enquanto as bagas são sazonais”, explicam em comunicado.

 

Maria João Barroca e Aida Moreira da Silva. Foto: Universidade de Coimbra

 

Perante estes resultados, a equipa quer agora alargar os testes in vitro, aplicando os extratos em células de outros tipos de cancro.

Além disso, “estamos a explorar as várias partes da camarinha e da camarinheira”, adiantaram as investigadoras da Unidade de Química-Física Molecular da FCTUC e docentes da Escola Superior Agrária de Coimbra. “Mesmo dentro do fruto estamos a explorar evidências e comportamentos que nos possam fornecer informação para eventuais futuros fármacos.”

Aliás, a utilização desta espécie botânica para fins medicinais não é coisa recente. Estas bagas ancestrais eram usadas como antipirético e vermicida.

Além desta utilidade, as investigadoras vão explorar também a vertente gastronómica, tendo já recuperado várias receitas antigas, para que, “por um lado, não se perca este património e, por outro, possa contribuir para a subsistência de alguns agricultores da orla marítima portuguesa”.

Este estudo foi liderado por uma equipa da Unidade de Investigação e Desenvolvimento (I&D) Química-Física Molecular, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC). Mas também participaram investigadores da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, através da REQUIMTE (Rede de Química e Tecnologia), e do Instituto Superior de Agronomia (ISA) da Universidade de Lisboa (UL).

O trabalho faz parte de um projecto maior, IDEAS4life (2018 a 2021), que quer valorizar recursos marinhos endógenos, obtidos a partir de plantas marítimas, incluindo as plantas halófitas (plantas essencialmente terrestres mas que estão adaptadas a viverem no mar ou perto dele, sendo tolerantes à salinidade).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.