SEO/Birdlife receia pelo futuro da cegonha-preta na Península Ibérica

A Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO) revelou que existem 346 casais de cegonha-preta em Espanha, segundo o mais recente censo. Em todas as suas populações periféricas está em declínio, alerta a organização.

 

Ao contrário da cegonha-branca (Ciconia ciconia), a cegonha-preta (Ciconia nigra) não nidifica em zonas próximas dos humanos. Escolhe lugares recônditos de serras e florestas da Península Ibérica para fazer os seus ninhos em cima de rochas ou árvores grandes.

 

Cegonha-preta. Foto: Frank Vassen/Wiki Commons

 

Segundo o mais recente censo à espécie em Espanha, relativo ao ano de 2017 e coordenado pela SEO/Birdlife, foram registados 346 casais (e 40 prováveis) em 386 territórios.

Em Portugal, o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) fez dois censos à população nidificante de cegonha-negra. O primeiro, de 1995 a 1997, deu conta de entre 102 a 112 casais; o segundo, de 2002 a 2004, registou entre 97 e 115 casais.

É uma espécie com estatuto Vulnerável no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005) por causa do “número bastante reduzido de indivíduos”. Ainda assim, explica o ICNF, “a espécie tem o estatuto de Vulnerável e não Criticamente em Perigo por se admitir a possibilidade de imigração de regiões vizinhas”.

Em Espanha, a cegonha-preta tem estatuto igual.

 

Foto: Andreas Eichler/Wiki Commons

 

Segundo o novo censo, divulgado na quarta-feira pela SEO/Birdlife, a cegonha-preta está limitada a cinco comunidades autonómicas – Andaluzia, Castela e Leão, Castela-La Mancha, Extremadura e Madrid – e a 13 províncias – Ávila, Badajoz, Cáceres, Ciudad Real, Córdoba, Huelva, Jaén, Madrid, Salamanca, Segovia, Sevilla, Toledo e Zamora.

A organização destaca a importância da Extremadura – com 172 territórios, mais concretamente a província de Cáceres -, albergando 39,74% da população espanhola. A segunda comunidade em importância é a Andaluzia, com 94 territórios ocupados e 26,55% da população.

“Em todo o perímetro da área de distribuição, o declínio da espécie é significativo e os parâmetros reprodutores de toda a população estão a diminuir de forma alarmante, o que pode indicar um início de declínio populacional importante no futuro”, disse, em comunicado, Juan Carlos del Moral, coordenador da Ciência Cidadã na SEO/Birdlife e do censo.

 

Foto: Ingrid/Pixabay

 

Desde a primeira estimativa populacional para Espanha, em 1987, a população desta ave aumentou. Mas  a organização acredita que tal se deve ao melhor conhecimento da mesma, especialmente desde a década de 1980 a finais da década de 2000.

Durante a década de 2000 registou-se uma certa estabilidade no número de casais reprodutores na Extremadura e um muito ligeiro aumento no resto das comunidades. “Mas a partir da década de 2010 constatou-se um declínio nas suas populações periféricas (Castela e Leão, Madrid e Castela-La Mancha), a estabilidade na Extremadura e um ligeiro aumento na Andaluzia”, explica a SEO/Birdlife.

“É evidente que é preciso continuar a fazer o seguimento da espécie para constatar a evolução dos seus efectivos”, acrescentou Del Moral. “Mas a diferente evolução entre umas áreas e outras (estabilidade no núcleo principal e contracção nas populações periféricas) poderá ser determinante no processo de declínio da cegonha-preta em Espanha nos próximos anos.”

Em Portugal, esta ave distribui-se sobretudo pelo interior do território continental, em zonas inóspitas das bacias dos rios Douro, Tejo e Guadiana, segundo o ICNF. É na bacia do rio Tejo que a espécie é mais abundante, nidificando maioritariamente em rochas de vales encaixados com matagal mediterrânico. Alimenta-se em zonas húmidas como linhas de água, charcas e albufeiras.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.