Fêmea e crias no CNRLI. Foto: Joana Bourgard/Wilder (arquivo)

Uma das crias de lince de Silves não conseguiu sobreviver

A equipa do Centro Nacional de Reprodução de Lince-ibérico (CNRLI), em Silves, lamentou hoje a morte da cria de Era, uma lince que ali vive desde o início do centro.

 

Os tratadores, veterinários, vídeo-vigilantes e demais técnicos do CNRLI conhecem Era há quase sete anos. Chegou a Silves em Novembro de 2009, integrando o grupo dos 16 linces que inauguraram o centro. Hoje, com oito anos, é uma das 10 fêmeas do CNRLI.

Este ano foi emparelhada com Fado e, pela primeira vez, teve um “processo de gestação normal”, revela um comunicado do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). A 17 de Março deu à luz uma cria viva e teve um bom comportamento maternal. “Apesar de demonstrar aparentes dificuldades em mamar, a cria foi tratada exemplarmente pela Era desde o seu nascimento”, acrescenta a nota enviada à Wilder. “Mostrou sempre estar calma e dedicada aos cuidados maternais. No entanto, apesar dos cuidados da progenitora, a cria apresentou comportamentos agónicos na madrugada de dia 19 de Março.” Acabou por morrer às 10h00 desse dia, “sem que fosse possível à equipa do CNLI intervir”.

Agora, o cadáver foi encaminhado para necropsia e aguardam-se os resultados.

Era tem uma história especial. Não nasceu em cativeiro, mas sim em liberdade, no Parque Natural da Serra de Andújar, em Espanha. Sempre teve alguma dificuldade em adaptar-se ao cativeiro. Nos primeiros anos não mostrou comportamento reprodutivo e, em 2011-2012 os técnicos do centro foram obrigados a separá-la de Fauno, com quem estava emparelhada.

“Tendo em conta o seu comportamento ansioso e extremado quer com humanos quer com outros linces, iniciou-se então terapia comportamental para melhorar o bem-estar de Era e aumentar as suas probabilidades de êxito reprodutivo”.

Finalmente, no ano passado, Era ficou gestante mas acabou por parir fora das caixas ninho e abandonou a sua cria. Nesta época reprodutora, tudo estava a correr bem e os comportamentos eram considerados normais.

“A equipa do CNRLI lamenta a morte desta cria, que Era nunca abandonou até à sua morte, e deposita esperanças na continuidade da evolução positiva desta fêmea fundadora” do programa de reprodução em cativeiro e do CNRLI.

Actualmente, conhecem-se 10 crias saudáveis em Silves. O parto de Era foi o quarto desta época de reprodução no CNRLI, depois de Artemisa (três crias nascidas a 3 de Março), Fruta (quatro crias nascidas a 6 de Março) e Juromenha (três crias nascidas a 11 de Março).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.