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Como devemos podar para ter plantas belas e saudáveis?

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Na série “Abra espaço para a natureza”, Carine Azevedo responde às dúvidas que temos quando pensamos em tornar um espaço mais amigo do mundo natural.

Na gestão de espaços verdes, a poda destaca-se como uma ferramenta preciosa para moldar a saúde e a estética das plantas nos nossos jardins. Contudo, e embora possa ser necessária em algumas circunstâncias, deve ser encarada como como uma resposta criteriosa a necessidades reais das plantas e não como um procedimento padrão ou anual.

Neste texto, apresento orientações práticas para uma poda consciente, para todos evitarmos excessos que possam comprometer a aparência e a saúde das espécies botânicas de que pretendemos cuidar.

O que é a poda?

A poda consiste numa intervenção direcionada no crescimento das plantas, envolvendo o corte selectivo de ramos, folhas ou frutos, de forma a atingir objetivos específicos. Em alguns casos, pode também contribuir para a promoção da saúde e melhoria estética. 

A prática da poda tem origem na intervenção humana para adequar o crescimento das plantas, seja para estimular a floração, melhorar a produção de frutos, manter a forma desejada, controlar o tamanho e até mesmo remediar problemas específicos, como ramos danificados, ou otimizar a entrada de luz solar num jardim. 

No entanto, a sua aplicação, embora relevante, requer discernimento e moderação.

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Compreender a necessidade da poda

É imperativo reconhecer que, na grande maioria das situações, as plantas possuem a capacidade intrínseca de crescer de maneira natural e equilibrada sem intervenção constante. A poda, portanto, não deve ser vista como uma imposição da natureza, mas sim como uma escolha consciente da parte dos humanos. 

Antes de iniciar qualquer procedimento de poda, é fundamental compreender as necessidades específicas de cada planta, observar o seu ciclo de vida, estrutura natural e características individuais para determinar a abordagem mais adequada. Em muitos casos, é possível alcançar um desenvolvimento saudável e harmonioso sem a necessidade de podas frequentes.

Quando é necessário podar?

Contudo, em ambientes artificiais como jardins e outros espaços verdes geridos pelo Homem, as plantas enfrentam desafios únicos e agressões diversas, como a poluição atmosférica, compactação do solo, limitação de espaço, maior suscetibilidade a pragas e doenças, entre outros. 

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Em algumas destas situações, a poda assume-se com um ato de preservação, eliminando elementos que podem comprometer a saúde. Por exemplo, quando surgem ramos danificados, doentes ou infestados por pragas, é aconselhável a sua remoção para conter a propagação do problema e garantir a saúde global da planta. E em casos de desequilíbrios estruturais que comprometem a estabilidade, a poda visa restabelecer a simetria e a distribuição de peso, prevenindo possíveis danos. 

Por outro lado, quando ocorre uma invasão excessiva do espaço ou o bloqueio da entrada de luz, a poda é a solução eficaz para manter a harmonia no jardim, permitindo que cada planta receba a luz necessária para o seu desenvolvimento. Por fim, se nesse espaço existem árvores que apresentam ramos muito próximos de infraestruturas, como habitações ou fios elétricos, também podem requerer intervenções para evitar problemas futuros. 

Tipos de poda

Para realizar podas eficazes, é importante entender os diferentes tipos de intervenção disponíveis e adaptar as práticas de acordo com as necessidades específicas de cada planta:

  • A poda de formação é aplicada a plantas jovens. Neste tipo de intervenção, os cortes são estrategicamente aplicados para direcionar o crescimento e o desenvolvimento, estabelecendo uma estrutura sólida e saudável desde o início.
  • A poda de manutenção é uma prática contínua que deve ocorrer ao longo da vida da planta. Envolve intervenções pontuais para eliminar ramos danificados, doentes ou desequilibrados. Além disso, visa controlar o tamanho daquele exemplar, promover a renovação e estimular a produção de flores e frutos, contribuindo assim para a saúde duradoura da planta e prevenindo potenciais problemas.
  • A poda de rejuvenescimento é uma abordagem estratégica para revitalizar plantas mais antigas, que apresentem sinais de declínio. Este tipo de poda envolve a remoção cuidadosa de ramos antigos e não produtivos, para estimular a formação de novos rebentos vigorosos.  
  • A poda de limpeza ou sanitária concentra-se na remoção de ramos mortos, doentes ou prejudiciais. Ao cortar elementos indesejados, reduzimos o risco de propagação de doenças e pragas. Este tipo de intervenção também visa melhorar a circulação de ar e a entrada de luz, fundamentais para a saúde e crescimento.
  • A poda seletiva direciona o crescimento da planta para atender a objetivos específicos, como forma ou tamanho. Envolve cortes cirúrgicos, oferecendo uma abordagem mais precisa para a moldagem.
  • A poda de reestruturação é uma intervenção mais profunda, aplicada em situações especiais para corrigir desequilíbrios estruturais significativos, como silhueta assimétrica, ramos mal posicionados, entre outros. Também pode contribuir para uma coabitação adequada da planta em relação ao seu meio envolvente. É aplicada em fases mais avançadas de desenvolvimento e pode corrigir problemas decorrentes de negligência passada, como a falta de poda adequada durante as fases iniciais de crescimento.
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Recomendações para uma poda consciente

Para prevenir práticas prejudiciais, muitas vezes irreversíveis, em que as plantas não conseguem de todo recuperar, é imperativo seguir algumas orientações:

  • A poda deve ser realizada em períodos específicos, respeitando o ciclo de crescimento. Uma ideia errada é de que todas as podas devem ser feitas no inverno, altura em que as plantas estão em período de dormência. O inverno é efetivamente favorável para intervenções que afetem uma elevada percentagem de massa foliar e também favorável para as árvores de folha caduca, pelo facto de nessa época estas últimas estarem sem folhas, o que permite uma melhor visualização da sua estrutura. Por outro lado, o verão é a época mais favorável, sobretudo para a “cicatrização” dos cortes e para a rápida reconstituição das reservas energéticas.
  • A escolha adequada da ferramenta de corte é fundamental para garantir uma poda eficaz e saudável para as plantas. Para a poda de sebes, por exemplo, recomenda-se tesouras corta-sebes ou corta-sebes. Ramos finos ou médios podem ser tratados com tesouras de poda convencionais, enquanto que ramos mais grossos requerem o tesourão, o serrote, a serra elétrica ou mesmo uma motoserra. Já para ramos em altura, as podadoras telescópicas são uma excelente opção, uma vez que proporcionam alcance adicional sem comprometer a precisão do corte.
  • É importante que a escolha da ferramenta seja adaptada ao tipo de planta, ao tamanho e à natureza do corte a ser realizado. Existem diversos equipamentos, cada um adequado para diferentes situações, sendo que a escolha acertada contribui para uma poda mais eficiente e benéfica. As ferramentas elétricas ou a bateria aumentam a eficiência e reduzem o esforço físico.
  • Os cortes devem ser limpos e precisos. Para tal, é fundamental manter as ferramentas de corte afiadas.
  • Evitar podas excessivas, uma vez que estas enfraquecem as plantas. O equilíbrio na poda é fundamental para preservar a vitalidade.
  • No final de cada intervenção, as ferramentas devem ser limpas e desinfetadas para evitar a propagação de doenças, garantindo a saúde de todo o jardim.
  • A proteção individual, como o uso de luvas, óculos de proteção e capacete, garante a segurança do operador durante as atividades de poda.
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Planeamento cuidado, para o bem das plantas

É fundamental realçar a importância do planeamento cuidado na criação de um jardim ou qualquer outro espaço verde, de forma a criar um ambiente propício ao desenvolvimento das plantas que seja mais próximo do natural. O ato de plantar não deve ser encarado como uma mera colocação de mais vegetação no solo, mas sim como uma decisão informada e consciente sobre o espaço disponível e as condições ideais para cada espécie.

Ao escolhermos um local adequado, levando em consideração o crescimento futuro e as necessidades específicas das plantas, podemos mitigar a necessidade de intervenções frequentes. Esta abordagem preventiva, além de favorecer o desenvolvimento saudável, também contribuirá para minimizar a dependência de intervenções de manutenção, nomeadamente das podas.

Na série “Abra espaço para a natureza” encontrará mais alguma informação que ajudará na escolha das espécies e nos cuidados a ter com as suas plantas. E se explorar a série “O que procurar: espécies botânicas”, irá encontrar um vasto leque de espécies nativas que se poderão adequar às diferentes condições do seu jardim.

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Carine Azevedo é Mestre em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal, com Licenciatura em Engenharia dos Recursos Florestais. Faz consultoria na gestão de património vegetal ao nível da reabilitação, conservação e segurança de espécies vegetais e de avaliação fitossanitária e de risco. Dedica-se também à comunicação de ciência para partilhar os pormenores fantásticos da vida das plantas. 

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