Pilrito-das-praias (Calidris alba). Foto: Jean-Jacques Boujot/Wiki Commons

Conheça as cinco espécies de pilritos que ocorrem em Portugal

Elisabete Silva, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), apresenta-nos estas curiosas aves pequeninas e irrequietas, que podemos ver com mais facilidade agora nesta época.

Ao caminhar junto da rebentação é muito comum avistarem-se umas aves pequeninas e irrequietas. É um vai e vem constante junto à maré à procura de pequenos invertebrados para se deliciarem. Chamam-se pilritos e são verdadeiros viajantes de longa distância, alguns deles são conhecidos até como “mensageiros do Ártico”.

1. Pilrito-das-praias (Calidris alba)

Pilrito-das-praias (Calidris alba). Foto: Jean-Jacques Boujot/Wiki Commons

Este é um dos pilritos mais comuns da nossa avifauna. É de pequenas dimensões e pode ser facilmente observado na maioria das praias do nosso território. Também pode ocorrer em algumas zonas rochosas com poças de água e em grandes estuários ou em salinas.

Esta espécie é relativamente fácil de identificar: apresenta uma tonalidade geral pálida só interrompida pelo bico e patas pretas, e pelas penas centrais da cauda. É ligeiramente mais pálido nas partes inferiores do corpo do que nas superiores. Embora seja mais ou menos do mesmo tamanho que o pilrito-comum (Calidris alpina), o pilrito-das-praias tem um ar mais atarracado, com o bico e a cabeça mais compactos.

Esta espécie nidifica exclusivamente no alto Ártico. Os dados mais recentes indicam que os pilritos-das-praias que ocorrem em Portugal, de passagem e no inverno, deverão ser sobretudo originários da Gronelândia e da ilha canadiana de Ellesmere. 

O censo do Projeto Arenaria demonstrou que esta era a mais numerosa das limícolas invernantes nas praias do litoral continental. O número de invernantes na costa foi estimado em cerca de 3000 indivíduos. A população parece estar estável sendo o seu estatuto de conservação atual em Portugal de Pouco Preocupante. No entanto, sendo uma espécie que nidifica no Ártico, os especialistas temem que possa sofrer drasticamente com as alterações climáticas.

Embora possa ocorrer durante todo o ano, a melhor altura para observar esta espécie no nosso país é entre setembro e março.

2. Pilrito-comum (Calidris alpina)

Pilrito-comum (Calidris alpina). Foto: Charles J. Sharp/Wiki Commons

O pilrito-comum é uma pequena limícola com a plumagem em tons que variam entre o castanho e o cinzento. É também conhecido como pilrito-de-peito-preto, uma vez que a sua plumagem nupcial apresenta o ventre preto, contrastando com o branco que cobre as partes inferiores. O seu bico é ligeiramente curvado, mais longo que o do pilrito-pequeno (Calidris minuta) e mais curto que o do pilrito-de-bico-comprido (Calidris ferruginea). Em voo, apresenta uma risca branca nas asas e o uropígio branco com uma risca central preta.

Alimenta-se sobretudo durante a maré vazia, podendo frequentemente ser visto junto de borrelhos ou outras espécies de pilritos.

Ocorre em Portugal sobretudo como migrador de passagem e invernante, mas na prática pode ser observado durante todo o ano, pois mesmo nos meses de verão ocorrem alguns indivíduos não reprodutores. Os pilritos-comuns que passam o inverno no nosso país são sobretudo originários da Escandinávia e da Rússia, enquanto que os migradores de passagem vêm sobretudo da Islândia e da Gronelândia. 

Em Portugal continental, esta é a espécie de limícola mais comum em zonas estuarinas e em rias, sendo particularmente numerosa nos estuários do Tejo e do Sado, na Ria de Aveiro e na Ria Formosa. Nestes locais, podem ser observadas concentrações de algumas centenas ou mesmo milhares de indivíduos.

3. Pilrito-escuro (Calidris maritima)

Pilrito-escuro (Calidris maritima). Foto: Andreas Trepte/Wiki Commons

O pilrito-escuro é bastante fácil de identificar, já que é relativamente grande comparado com as restantes espécies de pilritos, sendo quase do tamanho de uma seixoeira (Calidris canutus). Tal como o nome indica, a sua plumagem apresenta tons escuros, contrastando com as patas e base do bico amarelas.

Esta limícola, que nidifica em regiões árticas e subárticas, tende a invernar em latitudes temperadas frias e Portugal encontra-se já praticamente fora da sua área de distribuição, pelo que a espécie é escassa no nosso país. A melhor forma de ver esta espécie é ir até à zona de Oeiras. É possível que a espécie ocorra regularmente noutros locais, mas os seus hábitos discretos e a sua plumagem pouco vistosa fazem com que não seja muito fácil de encontrar.

Muitas vezes é visto isolado: raramente se reúnem mais de cinco ou seis indivíduos. Frequenta apenas praias com rochas expostas, nas quais se alimenta, muitas vezes na companhia de rolas-do-mar (Arenaria interpres). Por vezes, também pode ser visto em portos de abrigo.

O seu estatuto de conservação é Em Perigo (EN) e tendo em conta os resultados dos últimos censos o seu número reduzido poderá indicar que esta espécie se encontra em declínio, já que no passado o número de pilritos-escuros era mais elevado.

4. Pilrito-pequeno (Calidris minuta)

Pilrito-pequeno (Calidris minuta). Foto: José Prego/Wiki Commons

Como o nome indica, o pilrito-pequeno é das mais pequenas de entre as limícolas que ocorrem regularmente em Portugal, com cerca de 2/3 da dimensão do pilrito-das-praias (Calidris alba). Tem as patas curtas e escuras, e o seu bico comprido é fino e reto, ao contrário do do pilrito-de-bico-comprido. Da garganta ao abdómen a cor é branca. Na plumagem de inverno, o dorso e asas são acinzentados, enquanto na primavera e verão, estas partes são castanho-arruivadas com algumas penas escuras, dando um aspecto malhado.

O pilrito-pequeno é um migrador que passa pelo nosso país nas suas viagens entre o Ártico e África. A melhor época para observar esta espécie em Portugal é nos meses de setembro e outubro, e durante o inverno no Algarve e no estuário do Sado. Concentra-se sobretudo nas grandes zonas estuarinas e nos sistemas lagunares junto ao litoral. 

É frequente observar esta espécie na sua energética busca de alimento nas margens de diversos tipos de zonas húmidas de água doce e salobra. Frequentemente viajam com bandos de pilritos-de-peito-preto e outras limícolas.

5. Pilrito-de-bico-comprido (Calidris ferruginea)

Pilrito-de-bico-comprido (Calidris ferruginea). Foto: Hans Norelius/Wiki Commons

Esta espécie é fácil de identificar quando se encontra em plumagem nupcial, com a sua cor de ferrugem intensa na cabeça e no corpo. Já na plumagem de inverno, facilmente se confunde com o pilrito-de-peito-preto (Calidris alpina), a cujos bandos se junta muitas vezes nas zonas húmidas costeiras. Distingue-se pelo tamanho do bico, que é ligeiramente mais comprido, um pouco mais alto que o pilrito-de-peito-preto e pelo uropígio branco quando está em voo.

O pilrito-de-bico-comprido nidifica no Ártico e inverna em África e é uma das poucas espécies de aves que não nidifica nem inverna habitualmente na Europa, mas que ocorre todos os anos neste continente durante a sua passagem migratória, na primavera e no outono. 

No nosso país, esta espécie é mais visível entre julho e novembro, altura em que chegam a observar-se algumas dezenas de indivíduos, misturados com outras pequenas limícolas. A Reserva Natural do Estuário do Sado é um dos poucos locais em Portugal onde esta espécie pode ser observada. 

Ameaça comum

Um fator de ameaça muito relevante para os pilritos e outras aves que frequentam a nossa costa é a perturbação nas praias, tanto pela limpeza mecânica das praias como pela passagem frequente de pessoas e de cães sem trela.

Essa perturbação pode impedir que os pilritos consigam alimentar-se o suficiente para aguentarem as longas viagens migratórias que fazem: pelo próprio gasto energético de terem que andar sempre a levantar voo quando alguém se aproxima; porque ao evitar a perturbação podem acabar em zonas com menos alimento disponível; porque o tempo que passam a reagir à perturbação é tempo em que não estão a procurar alimento. Por isso, ao passear na praia, se vir um bando de pilritos procure manter a distância.


Conte as Aves que Contam Consigo

A série Conte as Aves que Contam Consigo insere-se no projeto “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”, dinamizado pela SPEA em parceria com a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA) e financiado pelo Programa Cidadãos Ativos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian, em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto.