Retrato de um voluntário pela natureza: Guillaume Rethoré

Guillaume Rethoré. Foto: D.R.

Para Guillaume Rethoré, que tem 38 anos e vive no concelho de Portimão, observar as aves é também uma forma de viajar. “Por exemplo, imaginar que o arrabio que estamos a ver com lama do Senegal nas penas estava nesse país ainda há uns dias, rodeado de pelicanos e de outras aves exóticas”, contou à Wilder.

 

Wilder: O que faz enquanto voluntário?

Guillaume Rethoré: Já fiz bastante voluntariado e não apenas relacionado com aves, costumava voluntariar-me na biblioteca da vila onde moram os meus pais.

Em França, fiz parte da direção de uma associação de estudo das aves chamada LPO Anjou (semelhante à SPEA) e também fui responsável por um grupo de jovens ornitólogos durante alguns anos. Participei em vários censos (codorniz, atlas das rapinas, contagens de aves aquáticas de Janeiro, censos de Alcaravão, CAC). E ajudei nos stands dessa associação em várias feiras.

Em Portugal, participo em vários censos da SPEA, como o CAC – Censo de Aves Comuns (no qual sou agora responsável pela zona sul), no Noctua – Monitorização de Aves Nocturnas, nos diversos Atlas, no Arenaria – Monitorização de Aves Costeiras (embora menos nos últimos anos), em censos dirigidos (águia-pesqueira, rouxinol-grande-dos-caniços, garça-branca-grande) e em contagens de limícolas pela associação A Rocha.

Desde uns anos, sou também revisor do eBird para a região da Bretanha, em França, e para alguns concelhos do Algarve.

 

Rouxinol-grande-dos-caniços (Acrocephalus arundinaceus). Foto: Andreas Eichler/WikiCommons

 

W: Há quanto tempo é voluntário pela natureza e o que o levou a participar?

Guillaume Rethoré: Mais ou menos desde há 20 anos. Os meus pais faziam, e ainda fazem, bastante voluntariado, embora não relacionado com aves. É uma coisa que conheço desde pequeno e para mim, foi natural fazer voluntariado.

 

W: Quais são os maiores desafios dos censos de aves em que tem participado?

Guillaume Rethoré: Os maiores desafios têm a ver com a falta de tempo, às vezes, ou com a falta de dinheiro relacionada com os gastos de combustível. Por vezes, também é desanimador ver os números de aves diminuírem de ano para ano.

 

W: E quando é que começou o seu interesse pelas aves?

Guillaume Rethoré: Desde pequeno que me interesso pela natureza. E os meus pais apoiaram-me sempre. Quando tinha cerca de 10 anos, ganhei um livro sobre aves e foi o que despertou esse interesse. E aos 15, descobri que havia um grupo de observadores que ia observar aves todos os Domingos perto da casa dos meus pais (o meu pai levava-me lá todos os Domingos às 9h00 da manhã), o que me permitiu observar regularmente e aprender muito.

 

W: Porque considera as aves tão especiais?

Guillaume Rethoré: Essa pergunta é difícil. Não sei… É um grupo de seres vivos que são fáceis de ver e que estão presentes em todos os lados. Observar as aves é também uma maneira de viajar. Por exemplo, imaginar que o arrabio que estamos a ver com lama do Senegal nas penas estava nesse país há uns dias atrás, rodeado de pelicanos e de outras aves exóticas.

 

Arrabio (Anas acuta). Foto: Frank Shulenburg/Wiki Commons

 

W: Como aprendeu a identificar estas espécies?

Guillaume Rethoré: Quando era pequeno, passava muito tempo a ler e ganhei um conhecimento teórico sobre as aves e a natureza… Aprendi ainda mais com as pessoas com quem ía observar aves todos os Domingos, e depois com pessoas com quem trabalhei em França.

Em Portugal, aprendi muito com as pessoas com quem trabalhei nas monitorizações de aves em Sagres. Na primeira vez que fui ao Festival, senti-me muito pequeno em relação a esses observadores.

 

W: O que tem aprendido e o que tem ganhado com esta experiência de voluntariado? 

Guillaume Rethoré: Ganhei muita experiência de terreno e conheci muitos observadores. Aprendi como se fazem censos e sobre os diferentes tipos de censos, consoante as aves que se querem monitorizar. Também aprendi muito no que respeita à identificação das diferentes espécies.

 

W: Costuma participar nos censos sozinho, acompanhado ou em grupo? 

Guillaume Rethoré: Quando comecei a fazer censos em França, costumávamos fazê-los em grupo para ser mais convivial e a partilha de conhecimento ser maior. Depois, comecei a fazê-lo sozinho, mas às vezes acompanhado pela minha namorada ou por outros observadores para partilhar o meu conhecimento e partilhar as tarefas no campo.  Mas gosto também de participar sozinho nos censos, pois é uma maneira de aproveitar um momento calmo no campo, para refletir.

 


Agora é a sua vez.

Descubra sobre como participar no Censo de Aves Comuns e noutros censos de aves coordenados pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).


Conte as Aves que Contam Consigo

A série Conte as Aves que Contam Consigo insere-se no projeto “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”, dinamizado pela SPEA em parceria com a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA) e financiado pelo Programa Cidadãos Ativos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian, em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto.

 


A secção “Seja um Naturalista” é patrocinada pelo Festival Birdwatching Sagres. Saiba mais aqui sobre o que pode ver e fazer neste evento dedicado às aves.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.