Raposa. Foto: Monicore/Pixabay

Leitores: António Simões deparou-se com uma raposa curiosa, em Gouveia

Veja um vídeo deste encontro inesquecível filmado em finais de Outubro. A Wilder falou com o investigador Francisco Álvares, que diz que episódios assim estão a ficar mais comuns.

“Há dias, durante a minha jornada laboral de limpeza de faixas nas redes viárias no concelho de Gouveia, freguesia de Lagarinhos, fui um sortudo ao receber a visita de uma simpática raposa que me abordou a cerca de dois metros de distância, sem se intimidar com a minha presença”, descreveu António Simões, que tem 57 anos e é funcionário do município de Gouveia, e que aproveitou para filmar este episódio com o seu telemóvel.

“Adoro tudo o que tenha a ver com a natureza”, explicou este leitor numa mensagem enviada à Wilder, adiantando que passa todo o seu tempo livre a ver e a ler conteúdos sobre estes temas, na Internet, e por isso tem conseguido obter muito conhecimento – em especial sobre aves e mamíferos, tanto na zona onde vive como noutros locais, dentro e fora de Portugal. “Ainda há dois meses tive oportunidade de ver dois grifos que estavam de passagem pela região.”

Foto: António Simões

Mas porque terá a raposa tido este comportamento destemido? Francisco Álvares, investigador na área de mamíferos, acredita que “pela pelagem e dimensão parece tratar-se de uma raposa adulta, com aspecto saudável”. Situações como esta estão a tornar-se mais comuns, “possivelmente devido a uma diminuição da perseguição humana”.

“Torna-se cada vez mais frequente o avistamento de animais selvagens com um comportamento confiante ou tolerante à presença humana, incluindo em ambientes urbanos”, nota o investigador, ligado ao CIBIO-InBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, na Universidade do Porto. “Tal verifica-se não só com a raposa, mas também com várias outras espécies como o javali, corço e até o lobo-ibérico.”

Isso acontece muitas vezes quando as pessoas estão no interior de um carro ou de outro veículo, pois nessas situações “o animal não se apercebe imediatamente da presença de humanos e apresenta um comportamento confiante e até de curiosidade”. Por outro lado, “a presença de fontes de alimento, como lixo ou resíduos humanos, pode também promover este tipo de comportamento confiante em animais selvagens.”

Observar, mas mantendo a distância

Apesar da menor desconfiança que mostram hoje em dia alguns animais selvagens, é importante manter sempre a distância. “Nestas circunstâncias, devemos disfrutar do privilégio de poder observar uma raposa, ou outro animal selvagem, a curta distância, mas evitando sempre uma aproximação ao animal e nunca estabelecendo contacto fisico nem dando de comer”, sublinha Francisco Álvares.

E porquê? Desde logo, porque apesar do comportamento mais curioso ou confiante, não deixam de ser animais selvagens, o que implica “um risco de mordedura ou de transmissão de zoonoses (doenças transmissíveis entre animais e humanos)”.

Mas há outra razão importante: se estes animais se habituam excessivamente a humanos e a alimentos que estes fornecem – seja de propósito ou não – isso “pode levar a alterações negativas no comportamento e papel ecológico dos animais selvagens, assim como a conflitos prejudiciais à sua conservação”.

E por isso, aconselha, “idealmente o observador deve mostrar claramente a sua presença – por exemplo sair do carro ou levantar os braços – e se necessário gritar para afastar o animal.”

O que andam as raposas a fazer?

Francisco Álvares esclarece ainda que o “comportamento destemido e confiado” desta raposa pode também estar relacionado com a altura do ano em que estamos, pois aproxima-se a época de acasalamento da espécie, que tem o nome científico Vulpes vulpes.

Em Dezembro e Janeiro, adianta, é normal os machos começarem a marcar o seu território, e no primeiro mês do ano a maioria das raposas entram no cio. Ainda assim, os acasalamentos podem sempre acontecer “um pouco antes ou um pouco depois” de Janeiro.

“Este comportamento de intensa marcação territorial, associado à época de acasalamento, também poderá justificar o comportamento destemido e confiado do individuo registado no video”, sublinha.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.