Foto: Joana Bourgard

Leitores: dicas para um jardim de plantas autóctones para crianças

A leitora Vânia Espada está a fazer nascer um jardim de plantas autóctones no âmbito de um projecto educativo para crianças na Charneca da Caparica, Almada, e contactou-nos com algumas dúvidas. Carine Azevedo, especialista em Botânica, responde e dá dicas.

“Tenho um projeto de comunidade de aprendizagem para crianças na Charneca da Caparica e gostaríamos de colocar espécies autóctones no nosso espaço”, escreveu a leitora à Wilder.

A primeira questão tem a ver com a pervinca. “Gostaria de ter uma trepadeira na nosso arco de entrada. Vi a pervinca e achei interessante pois terá floração e é pouco exigente. Mas percebi ao ler o vosso artigo que é tóxica… Tendo em conta que temos crianças no espaço não poderei ter esta espécie. Têm alguma sugestão? O terreno é ácido rodeado de pinheiros, eucaliptos e oliveiras.”

Pervinca (Vinca difformis). Foto: Josep Gesti/Wiki Commons

Carine Azevedo responde que “a pervinca é, de facto, uma planta com alguma toxicidade e não será com certeza uma boa alternativa para o espaço, pelos motivos apresentados pela leitora”.

A especialista em Botânica recorda que “existem inúmeras espécies, nativas e exóticas, que poderão ser uma boa solução para o referido espaço. No entanto é difícil identificar uma espécie mais ou menos tóxica. Conforme mencionei no meu último texto publicado na Wilder – Como ter um jardim amigo dos animais? Conheça algumas plantas tóxicas a evitaros níveis de toxicidade são diferentes de planta para planta e podem variar. A toxicidade de uma determinada planta pode ser afetada por diversos fatores. Algumas espécies produzem níveis de toxicidade ao longo de todo o seu ciclo de vida, enquanto outras apenas o fazem quando frutificam, ou quando são muito novas, por exemplo. Há também uma grande variação na quantidade de substâncias tóxicas nas diferentes partes de uma planta. Geralmente, as sementes concentram a maior quantidade de substâncias tóxicas; no entanto, a maioria das intoxicações ocorre pela ingestão de folhas. As substâncias tóxicas das plantas não atuam da mesma forma em todos os animais e nos humanos. Os efeitos adversos da toxicidade de uma determinada espécie também dependem do tipo e da concentração do veneno, e ainda da condição física da vítima. Muitas das espécies podem ser nocivas para os animais e não serem nocivas para os humanos, e vice-versa.”

A leitora tem outra dúvida, desta vez sobre que arbustos usar ao longo da vedação do espaço. “O local onde nos encontramos é uma quinta, cuja a vedação gostaria de tapar com arbustos para termos mais privacidade. Temos acácias que tencionamos ir tirando/controlando e temos muitas aroeiras. Ainda não percebi se a aroeira é invasora. Devo de plantar e incentivar o crescimento das aroeiras ou sugerem outro tipo de arbusto com crescimento rápido para fazer uma ocultação?”, perguntou.

Aroeira. Foto: H. Zell / Wiki Commons

Carine Azevedo desconhece que a aroeira (Pistacia lentiscus) seja uma espécie invasora. “Além de não constar do Decreto-Lei n.º 92/2019, de 10 de julho, onde se encontram listadas todas as espécies invasoras em Portugal continental, a aroeira é uma espécie nativa bastante interessante. Aqui pode encontrar mais informação sobre esta espécie.

E, por fim, Vânia Espada pergunta “qual a melhor forma de controlar e remover as acácias?”

Segundo Carine Azevedo, “a melhor técnica de controlo para as acácias está dependente da espécie. Nem todas as técnicas se adequam a todas as espécies de acácia. No site invasoras.pt encontrarão mais informações sobre o tema”. Em caso de dúvida na identificação da espécie, poderão enviar as fotos das folhas para a Wilder para tentarmos saber qual das acácias é.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.