Retrato de um naturalista: Alba Villarroya

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Alba Villarroya tem 32 anos, vive nos Açores e a sua vida gira em torno das aves selvagens. Nos seus tempos livres, esta ornitóloga a trabalhar na SPEA, é a responsável pelo podcast “A Viagem do Maçarico”. Dedicado a quê? Adivinhou, às maravilhosas aves.

WILDER: Qual a sua idade e ocupação?

Alba Villarroya: Tenho 32 anos e estou a trabalhar no departamento de conservação terrestre da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) nos Açores. O meu principal trabalho é o estudo das interações entre a avifauna e as linhas elétricas, mas também coordeno a nível regional os censos com recurso a Ciência Cidadã como o Atlas das Aves Nidificantes, o Projeto Arenaria ou o Censo de Milhafres nos Açores.

W: De que forma expressa e satisfaz o seu gosto pela natureza?

Alba Villarroya: A minha vida gira em torno das aves, não só no meu trabalho, mas também na minha vida pessoal. Nos últimos anos, grande parte de amigos que fiz estão relacionados com a observação ou a conservação das aves. Agora, com o podcast que comecei, chamado “A Viagem do Maçarico”, quero acordar o gosto das pessoas pela natureza e tentar que este gosto se traduza num maior respeito pela natureza que nos rodeia.

W: Quando é que se começou a interessar pela natureza?

Alba Villarroya: Sempre gostei de animais. Mas só em 2013, quando comecei a trabalhar num centro de resgate de primatas, me apercebi da importância da conservação e da educação das pessoas. Foi logo em 2015 que tive o meu primeiro contato com as aves. Foi naquele ano que descobri o incrível mundo da ornitologia e comecei a colaborar com o Grefa (Grupo de Rehabilitación de la Fauna Autóctona y su hábitat), um centro de recuperação da fauna selvagem em Madrid, Espanha. A partir de 2015 estive sempre envolvida com as aves, mas só em 2018 comecei a trabalhar diretamente em conservação. 

W: Quando e porquê decidiu fazer o podcast “A Viagem do Maçarico”?

Alba Villarroya: Comecei com este projeto pessoal em Fevereiro deste ano, com muita ilusão e vontade, sempre com a ideia de que os ouvintes desfrutem do conteúdo como eu desfruto e aprendo com as conversas com os convidados do podcast. Estou a publicar um programa por semana, às sextas-feiras, nas plataformas Spotify, iVoox e Apple podcast, e estou muito contente com os comentários e resultados dos programas. A cada semana mais pessoas estão a seguir o podcast e isso é também o que me está a motivar para continuar com este projeto.

W: Que espécies ou locais mais procura ou gosta de observar?

Alba Villarroya: Os grupos de aves com os que mais desfruto são as felosas e as toutinegras. Agora bem, se tivesse que escolher alguma espécie como a minha favorita acho que nunca conseguiria! Quanto aos locais, na Península Ibérica temos a sorte de contar com uma grande variedade de habitats, sendo também o lugar pelo qual passam em migração uma grande variedade de aves. Os locais nos quais desfruto mais da observação de aves são as zonas húmidas.

W: O que a fascina na natureza e o que esta representa na sua vida?

Alba Villarroya: Acho que tudo está ligado. Desde o mais pequeno inseto até ao maior mamífero, tudo depende do conjunto em geral. Claro que o que eu mais gosto é das aves, mas não posso evitar olhar para as plantas, os insetos, os peixes, etc, sempre que estou no campo. 

W: Há alguma mensagem que gostaria de deixar aos responsáveis pela conservação da natureza em Portugal?

Alba Villarroya: O planeta está a precisar de uma mudança de paradigma com urgência. Se não começarmos a mudar os nossos hábitos de consumo e exploração dos recursos naturais, nunca iremos conseguir um equilíbrio entre a nossa existência e o mundo no qual vivemos. É importante conhecer e respeitar o nosso meio para nos apercebermos da importância da conservação e evitar a perda de mais habitats e espécies.


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.