Foto: D.R.

Retrato de um voluntário pela natureza: Luís Santos

Luís Santos, 53 anos, médico e residente em Carcavelos, é voluntário em diversos censos organizados pela SPEA. “Comecei a interessar-me pela observação de aves aos 10 anos, quando utilizei os binóculos do meu pai para observar um melro. Foi amor à primeira vista”, contou à Wilder.

O que faz enquanto voluntário?

Participo em projectos de ciência-cidadã organizados pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e sirvo de guia em saídas de campo para a observação de aves. Actualmente, participo no 3º Atlas das Aves Nidificantes de Portugal, no Censo de Aves Comuns e no Projecto Arenaria. [No mês de Julho, apenas o primeiro destes censos está em curso.]

Há quanto tempo é voluntário pela natureza e o que o levou a começar a participar?

A primeira vez em que participei como voluntário foi há quase 30 anos, no II Atlas de Aves Nidificantes de Portugal. Na altura tinha alguma experiência na identificação de aves e achei que podia dar o meu contributo para um projecto de âmbito nacional de extrema importância para a conservação da nossa avifauna.

Quais são os maiores desafios de um censo de aves como o Censo de Aves Comuns, por exemplo?

É absolutamente essencial saber identificar as aves pelo canto porque muitas espécies não seriam detectadas de outra forma, tendo em conta que só passamos 5 minutos em cada um dos 20 locais de prospecção de aves.

E quando começou o seu interesse pelas aves?

Comecei a interessar-me pela observação de aves aos 10 anos, quando utilizei os binóculos do meu pai para observar um melro. Foi amor à primeira vista. Pouco tempo depois os meus pais compraram-me um guia de aves da Europa e a paixão foi crescendo. Só alguns anos mais tarde é que conheci outras pessoas com o mesmo interesse pela observação e estudo das aves. Quanto à participação em saídas organizadas para ver aves, só começou na idade adulta. 

Porque é que considera as aves tão especiais?

Por muitas razões. São animais com comportamentos complexos, capazes de voar, vocalizam, têm formas e cores atractivas, são fáceis de observar e existem em enorme variedade e em qualquer lugar da Terra.

O que tem ganhado com esta experiência de voluntariado?

Desenvolvi os meus conhecimentos na identificação das aves e agrada-me a sensação de dar um contributo, ainda que muito pequeno, para projectos de cariz científico com potencias repercussões na conservação das espécies.

E costuma participar nos censos sozinho, acompanhado ou em grupo?

Na maior parte das vezes sozinho ou acompanhado por mais uma pessoa, porque os grupos de pessoas tendem a afastar as aves.

Houve algum acontecimento ou descoberta que considere especiais e que ocorreram durante a realização de censos?

As maiores surpresas ocorreram durante a realização do Atlas das Aves Invernantes e Migradoras de Portugal, com a identificação de espécies migradoras em locais onde não as esperava encontrar. Foi interessante constatar que há uma enorme quantidade e variedade de aves que atravessam o nosso território durante as migrações para Africa e que passam relativamente desapercebidas.


Saiba mais.

Descubra mais sobre o III Atlas das Aves Nidificantes, um dos censos em que Luís Santos participa, e também sobre outras contagens realizadas pela SPEA, aqui.


Conte as Aves que Contam Consigo

A série Conte as Aves que Contam Consigo insere-se no projeto “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”, dinamizado pela SPEA em parceria com a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA) e financiado pelo Programa Cidadãos Ativos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian, em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.