Alunos de Montemor-o-Novo instalam barreiras para anfíbios na M535

Cerca de 100 metros de barreiras de lona foram instalados ao longo da estrada municipal 535 para tentar travar o atropelamento de anfíbios. A acção, no final de Março, teve a ajuda dos alunos da Escola Secundária de Montemor-o-Novo.

 

As barreiras de lona são uma das formas para evitar a morte por atropelamento da fauna selvagem – como rãs, sapos e salamandras -, adoptadas pelo projeto LIFE LINES.

Esta iniciativa, no terreno desde Agosto de 2015 a Julho de 2020, quer saber qual o impacto das rodovias na mortalidade dos animais selvagens e o que pode ser feito para a evitar. Outro dos objectivos do LIFE LINES é desenvolver uma infraestrutura verde para ajudar a conservar a biodiversidade da região.

A 20 de Março, foi a vez dos alunos o Clube de Voluntariado e do Clube Europeu da Escola Secundária de Montemor-o-Novo darem uma ajuda. Em duas saídas de campo foram instaladas 100 metros de barreiras de lona ao longo da estrada M535, que liga Santiago do Escoural a São Cristóvão, segundo uma nota da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo.

“Esta barreira, ao encaminhar os animais para as passagens hidráulicas, visa reduzir o número de mortes na estrada”, explicou a autarquia. “No final dos trabalhos, ainda houve tempo para uma verdadeira aula de campo, com direito à presença de um grande amigo, o sapo-corredor.”

 

Sapo-parteiro-comum (Alytes obstetricans). Foto: Felix Reimann/Wiki Commons

 

As barreiras já estão a ser colocadas há meses em alguns troços das estradas municipais. Por exemplo, a 4 de Dezembro do ano passado foram instalados cerca de 50 metros de barreira em lona na mesma estrada, junto à saída do Escoural para São Cristóvão.

Já este ano, em Janeiro, a Estrada Nacional 114 foi alvo de obras para a adaptação da mesma à redução da mortalidade de anfíbios. “Foi escolhido um local de grande mortalidade de anfíbios onde foram colocadas barreiras de encaminhamento para duas passagens hidráulicas já existes que foram adaptadas para o uso por estes animais.”

Os anfíbios são um dos grupos de animais mais afectados pelos atropelamentos nas estradas, segundo o projecto LIFE LINES. Mas não são o único. As aves, em especial as corujas, também são animais vulneráveis.

 

uma coruja-das-torres em voo
Coruja-das-torres. Foto: Edd Deane/Wiki Commons

 

Por isso, a 11 de Janeiro deste ano foram instaladas barreiras para corujas na Estrada Nacional 114, entre Évora e Montemor-o-Novo. “Estas barreiras (em rede) foram colocadas num ponto negro de mortalidade de corujas e vão ajudar a reduzir a mesma, forçando as corujas a voarem por cima dela, passado acima do nível da estrada e evitando assim a colisão com os veículos”, explica o LIFE LINES.

As estradas são barreiras físicas para muitos animais e têm um impacto no isolamento populacional e genético de espécies. Além disso, fragmentam zonas importantes para a alimentação e reprodução de muitos animais selvagens.

[divider type=”thick”]Saiba mais

O projecto LIFE LINES, com um orçamento total de 5.540,485 euros, é co-financiado pelo programa europeu LIFE.

São parceiros do projecto as Universidades de Évora, do Porto e de Aveiro, as Câmaras Municipais de Évora e Montemor-o-Novo, a Infraestruturas de Portugal, a Marca – Associação de Desenvolvimento Local, e a Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza.

Leia mais sobre o projecto nesta reportagem da Wilder.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.