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Cidade brasileira tem fotografias de aves nas ruas e torre de birdwatching

A cidade de Santos, no litoral do estado brasileiro de São Paulo, espalhou pelas ruas, praças e jardins 120 fotografias das espécies de aves que ocorrem na cidade e ergueu uma torre de birdwatching para incentivar as pessoas a reparar na natureza urbana.

 

O gavião-caracoleiro (Chondrohierax uncinatus), a risadinha (Camptostona obsoletum) e a mãe-da-lua (Nyctibius griseus) são apenas três das cerca de 100 espécies (30 das quais endémicas) com fotografias espalhadas pela cidade, instaladas em postes de iluminação, por exemplo.

 

Coruja buraqueira (Athene cunicularia)
Coruja buraqueira (Athene cunicularia)

 

As placas coloridas, cada uma medindo 50 cm x 50 cm, fabricadas em alumínio composto (resistente e durável) têm a imagem da ave, o respectivo nome popular e o científico.

A iniciativa “100 Aves de Santos” foi inaugurada em Junho, no Dia Mundial do Ambiente e é o resultado do trabalho da bióloga Sandra Pivelli, da Secretaria do Meio Ambiente (Semam) de Santos, e do fotógrafo Leonardo Casadei.

 

Arapacu
Arapacu

 

Durante 15 anos, Sandra Pivelli inventariou e registou as espécies de aves em todo o município. “A nossa região é muito rica. Já catalogámos mais espécies de aves do que o registado em muitos países”, disse em comunicado.

Segundo a bióloga, o objectivo é dar uma oportunidade às pessoas para conhecerem um pouco a natureza que está perto delas. “Não precisam de ir lá para a Amazónia. Muitas dessas aves podem ser vistas se as pessoas abrirem a janela da sua casa.”

 

Bico de lacre (Estrilda astrild)
Bico de lacre (Estrilda astrild)

 

Outra ideia que Sandra Pivelli quer passar é que ninguém precisa de ter aves em gaiolas, só pelo prazer de as observar. “Este trabalho permite que as pessoas conheçam aquilo que as rodeia sem prejudicar a natureza. Qualquer pessoa vê a ave na fotografia e pode procurá-la pela cidade”, acrescentou.

E isso é mais fácil ainda com aquela que dizem ser a primeira Torre de Observação de Aves urbana do Brasil, com 21 metros de altura, erguida no Jardim Botânico Chico Mendes (Bom Retiro). Segundo a prefeitura, a torre permite a visualização panorâmica de todo o parque, com 90 mil metros quadrados. Por ano este jardim recebe mais de 100.000 visitantes.

 

Vista da torres de observação
Vista da torres de observação

 

Segundo disse a Prefeitura de Santos à Wilder, as fotografias vão ficar instaladas nos jardins da orla, com uma extensão de sete quilómetros, de frente para a praia.

O projecto salienta ainda a interacção entre a fauna e a flora urbanas. A bióloga concluiu um levantamento em 101 praças de Santos, catalogando 3.113 árvores de 118 espécies, das quais 63% exóticas (originárias de outros países), 37% nativas do Brasil e, destas, 25% oriundas da Mata Atlântica. Outro inventário feito por Sandra constatou a presença de 1.818 árvores distribuídas nas 76 escolas da parte insular da Cidade.

 

Benedito-de-testa-amarela (Melanerpes flavifrons)
Benedito-de-testa-amarela (Melanerpes flavifrons)

 

“Temos mais de 115 espécies de árvores na cidade. Algumas estão cobertas de plantas que muitos julgam serem parasitas. Mas não é bem assim. Temos orquídeas, bromélias e samambaias. E são as aves que dispersam essas sementes”, explicou Sandra Pivelli.

“Para cuidar e valorizar o património ambiental da cidade, é preciso primeiro conhecê-lo. E esse é um dos nossos objectivos.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.