ramos de um arbusto

Empresa portuguesa acusada de importar madeira ligada à violência na Amazónia

O relatório “Madeira Manchada de Sangue”, resultado de uma investigação da Greenpeace Brasil, descreve as chacinas e actos de violência quase quotidianos contra os habitantes de comunidades rurais na floresta da Amazónia, devido ao negócio da madeira ilegal.

 

Há uma empresa portuguesa entre vários importadores internacionais acusados de fechar os olhos. Com sede e escritório em Fátima, é apontada como uma das importadoras de madeira ilegal proveniente dos estados da Rondónia e de Mato Grosso, cortada em áreas florestais sem autorização para serem exploradas.

Aí, as populações rurais são constantemente ameaçadas de morte por madeireiros e por ‘grileiros’, que são ocupantes ilegais das terras.

A Greenpeace brasileira debruçou-se sobre as exportações feitas em 2016 e 2017 pela Madeireira Cedroarana, acusada de exportar madeiras ilegais para os Estados Unidos e Europa, e que continua a laborar apesar de ter como proprietário um fugitivo à lei.

Conhecido como Valdelir, o Polaco Marceneiro, este madeireiro é acusado de ter ordenado a realização de uma das maiores violências de que há memória recente na região: o ‘massacre de Colniza’, em Abril passado. Ao longo de cerca de 10 quilómetros numa zona rural do estado do Mato Grosso, um grupo de homens armados com facas, revólveres e espingardas ameaçou e torturou a população, assassinando ao longo do caminho nove pessoas.

Objectivo? “Matar quantas pessoas fosse possível para aterrorizar a população local e expulsá-la”, relata a Greenpeace.

Em causa estava a “cobiça de madeireiros pelos recursos existentes na região de Taguaruçú do Norte, que incluem espécies de alto valor, como ipê, jatobá e massaranduba, amplamente utilizadas na fabricação de móveis e decks de jardim”, denunciou o Ministério Público brasileiro, citado no relatório.

Apesar de estar fugitivo e condenado pela justiça, desde Maio passado, as empresas de Valdelir continuam a laborar – incluindo a Cedroarana, que vende madeiras da Amazónia a cerca de uma  dúzia de empresas intermediárias, incluindo a GWP-Global Gold Forest Lda, com sede em Portugal.

O relatório, que analisa as exportações realizadas pela Cedroarana desde 2016, aponta os Estados Unidos, Holanda e França como os principais destinos desta madeira. Portugal não é mencionado no documento, mas este aponta a GWP Lda como intermediária em vendas da Cedroarana para Itália e para o Japão.

 

“Não há desculpas”

“Muito antes do massacre de Colniza, já havia sinais claros sobre a ilegalidade da madeira processada pela Cedroarana. Não há, portanto, desculpas para qualquer importadora que cumpra com seriedade suas obrigações legais de ‘due diligence’ (análise de números e riscos de uma empresa)”, acusa o documento da Greenpeace.

Segundo uma notícia do The Guardian, a organização ambientalista alega que estas importações podem estar a violar a legislação europeia relativa ao comércio de madeiras, que obriga as companhias a aplicarem práticas de ‘due diligence’ para assegurar que “não há mais do que um risco negligível de que a madeira foi ilegalmente colhida”.

Fundada em Janeiro de 2014, a GWP-Global Gold Forest Lda tem sede em Fátima, tal como um escritório. De acordo com o site da empresa, tem como negócio principal a venda de madeiras de árvores folhosas (‘hardwood’), provenientes da América Latina (Brasil, Bolívia e Perú) e dos Estados Unidos, incluindo madeira já preparada para ‘decks’.

A GWP tem ainda escritórios no Brasil e Estados Unidos e unidades de produção nestes dois países, tal como na Finlândia, Suécia, Noruega e outros países europeus e sul-americanos. Tem também representantes comerciais em países como Israel, China, Coreia do Sul, Itália e Espanha.

As outras empresas referidas no relatório da Greenpeace são a Pine Products, Lacey Wood Products, Mid-State Lumber Corp, South Florida Lumber, Wood Brokerage International, Vogel Import & Export Nv, Delfin Germany Gmbh, Tiger Deck Llc, Global Timber, Cibm Centre Import Bois, Derlage Junior Hout e Houthandel van der Hoek.

A Greenpeace pede às autoridades dos países importadores para investigarem as empresas sob sua jurisdição e identificadas no relatório, investigando que medidas estas tomaram para mitigar o risco de comercializarem madeira ilegal.

Apela ainda para que considerem essas empresas em desacordo com as regulações de madeira da União Europeia.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Leia o relatório da Greenpeace Brasil, “Madeira manchada de sangue”.

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.