tronco de uma árvore com musgo
Foto: Wilder/arquivo

Conheça este novo Apelo a uma Aliança pela Floresta Autóctone

Mais de 700 subscritores, incluindo quase duas dezenas de entidades, juntaram-se desde o dia 21 de Setembro ao Apelo a uma Aliança pela Floresta Autóctone, lançado por quatro cidadãos do Norte do país que querem promover “uma verdadeira floresta autóctone” em Portugal.

 

Em sete pontos, o novo documento pede a todos os subscritores que avancem com acções práticas, incluindo a constituição de “círculos de entreajuda e intervenção permanentemente atentos e capacitados” e a mobilização de outros cidadãos e do Estado. Isto em todos os concelhos portugueses, a começar “pelas áreas mais afectadas e vulneráveis a incêndios”.

Um dos quatro autores do apelo, Miguel Dantas da Gama, engenheiro e autor de vários livros sobre natureza e vida selvagem, explicou à Wilder o que defendem.

 

Wilder: Por que avançaram com este apelo para uma Aliança pela Floresta Autóctone?

Miguel Dantas da Gama: Temos uma grande preocupação pelo estado problemático  em que se encontra o coberto vegetal do nosso território e pelos incêndios devastadores a ele associados. Trata-se de um apelo para a adesão a uma aliança  que tem por objectivo a promoção da  (verdadeira)  floresta autóctone, de modo a que esta  possa voltar a ser dominante em Portugal num futuro que urge desde já construir.

 

Wilder: Quais são as monoculturas que mais vos preocupam?

Miguel Dantas da Gama: As de eucalipto e as de pinheiro-bravo. Juntamente com os matos onde nem árvores subsistem, constituem o coberto vegetal predominante no Norte e Centro do país, ocupando o espaço que outrora era floresta. Floresta que agora não temos, como também deixámos de ter muitos mosaicos agrícolas que este coberto tomou. Dos incêndios e do que não se gere após eles, renasce, ciclicamente, uma mistura degradada de eucaliptos, pinheiros e mato, explosiva, incontrolável e… mortífera. Igualmente preocupante é a proliferação de outras espécies exóticas, infestantes agressivas. As acácias são as mais incontroláveis, com a agravante de se darem particularmente bem com os fogos.

 

W: Em que espécies autóctones da floresta portuguesa deveria haver uma aposta?

Miguel Dantas da Gama: Nesta região do país [mais atingida pelos incêndios] a base do nosso coberto arbóreo devia ser o que ao longo de séculos fomos destruindo, os carvalhais. Uma variada, rica e complexa mistura de árvores e arbustos e de muita outra vegetação a eles associados. Combinações várias de carvalhos, azevinhos, padreiros, azereiros, teixos, vidoeiros, aveleiras, castanheiros, medronheiros, sobreiros e azinheiras, entre outras, a que se poderiam juntar algumas espécies naturalizadas, como as tílias e nogueiras.

 

W: O que consideram mais urgente mudar na política florestal em Portugal, para evitar os incêndios?

Miguel Dantas da Gama: Precisamente o coberto vegetal. Uma verdadeira reforma da floresta e não a Reforma da Floresta recentemente aprovada. Nesta são defendidas boas ferramentas, mas não para usar na mudança estrutural que se impõe. O Estado tem que agir, tem que estar presente no terreno e não alienar o pouco que detém. Tem que dar o melhor exemplo para poder exigir e regular.

 

W: E quais são as principais medidas que defendem a médio e longo prazo, tendo em atenção as alterações climáticas?

Miguel Dantas da Gama: A discussão actual centra-se, mais uma vez, na protecção civil e no combate aos fogos. .Se se tornarem mais eficazes, até poderemos ter menos vítimas humanas no futuro, mas os incêndios devastadores vão continuar a agravar-se com as mudanças do clima se a vegetação actual se mantiver. O Estado tem que encabeçar uma verdadeira revolução, que à partida se apresenta longa e difícil porque requer tempo, persistência, uma mudança geral do modo como os cidadãos lidam com a floresta e que passa por uma luta sem tréguas contra o fogo, no período critico de crescimento da (nova) floresta autóctone. Há que recuperar viveiros, produzir árvores, apoiar proprietários, privilegiando quem quiser participar nesta reconstrução.

 

W: Quanto a esta vossa iniciativa, quais vão ser os próximos passos?

Miguel Dantas da Gama: Na medida do possível, vamos envolver este Apelo com notícias, informações e troca de experiências, no sentido de ampliar e mobilizar um número crescente de cidadãos, autarquias, empresas e associações ambientalistas, igualmente preocupados, e que concordam tanto com o diagnóstico como com a forma de solucionar este enorme problema nacional. E na medida do possível vamos promover outros eventos, noutros contextos, com o mesmo fim.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Leia e subscreva, se desejar, o Apelo a uma Aliança pela Floresta Autóctone, aqui.

Revisite as crónicas de Miguel Dantas da Gama, publicadas na Wilder.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.