Iberdrola terá de pagar mais de 700.000 euros por águias electrocutadas

O número de águias em perigo de extinção que morrem electrocutadas nas linhas eléctricas é tão alarmante que a Consejería de Medio Ambiente de Castela-La Mancha avançou com multas de mais de 700.000 euros à empresa Iberdrola, grupo energético espanhol.

 

Para as águias-imperiais e águias-de-Bonelli (ou águias-perdigueiras), e outras aves selvagens, pousar nos postes e fios de linhas eléctricas pode ser uma questão de vida ou de morte.

“Os números de mortes por electrocussão até Agosto deste ano são tão alarmantes que a Consejería tomou a decisão de sancionar a Iberdrola por não ter cumprido as suas obrigações de alterar as linhas eléctricas até 2011”, disse ontem em comunicado a Sociedad Albacetense de Ornitología. Além de pagar multas e indemnizações que totalizam mais de 700.000 euros, a empresa terá de corrigir as linhas eléctricas onde ocorreram as electrocussões para evitar mais mortes.

A Iberdrola respondeu dizendo que cabe à Administração Pública fazer a alteração das linhas mas a Consejería não se demoveu. Esta entidade lembrou que vale o princípio do “poluidor-pagador” das directivas europeias ambientais, ou seja, qualquer operador económico deve avançar com medidas que evitem os danos ambientais conhecidos de antemão.

Só este ano na província de Albacete (Castela-La Mancha) foram encontradas mortas por electrocussão duas águias-imperiais, uma águia-de-Bonelli, três milhafres-reais, quatro águias-reais, cinco águias-cobreiras, uma águia-calçada, seis milhafres-pretos, 24 bufos-reais e 37 águias-de-asa-redonda. “Estes números dão uma ideia do perigo de morte que as linhas eléctricas representam para as aves, se não se adaptar a legislação sobre protecção de avifauna”, acrescentou a mesma associação.

“A electrocussão é uma das principais causas de mortalidade não natural destas aves”, disse esta manhã à Wilder Paulo Marques, coordenador do projecto LIFE Imperial (2014-2018).

Até à data estão confirmados 13 casos de mortalidade de águia-imperial por eletrocussão em Portugal. Estas aves correm grandes riscos porque são “animais de grande envergadura que facilmente tocam nos postes e nos fios, provocando uma descarga”.

Paulo Marques explicou que as águias usam as linhas eléctricas como pousos para descansar ou para procurar alimento. Os juvenis, quando saem dos ninhos, procuram os postes por serem pousos fáceis. “Já soubemos de casos em que morreram dois irmãos no mesmo sítio, no mesmo momento.”

Mas nem todos os apoios têm a mesma perigosidade. O LIFE Imperial e a EDP Distribuição identificaram os apoios mais perigosos, instalados em territórios de águia-imperial, e começaram em Dezembro de 2015 a corrigir um total de 25 quilómetros de linhas eléctricas até 2017. Este ano estão a ser intervencionados 15 quilómetros. “Trata-se de isolar os condutores nas zonas de apoio. Mesmo que as aves toquem nos fios, estes têm isolamento e não transmitem corrente eléctrica”, acrescentou.

A águia-imperial (Aquila adalberti) é uma espécie com estatuto de Criticamente em Perigo em Portugal, de onde se extinguiu nos anos 1970. Depois de uma lenta recolonização com aves vindas de Espanha, em 2013 haviam em Portugal nove casais confirmados.

O Projecto LIFE Imperial – que trabalha para aumentar a população da espécie no nosso país – está a ser implementado nas ZPE da Rede Natura 2000 de Castro Verde, Vale do Guadiana, Mourão/Moura/Barrancos e Tejo Internacional, Erges e Pônsul.

Até agora, o projecto marcou 15 águias com emissores para seguimento remoto – três em 2014, seis em 2015 e seis este ano – para os biólogos poderem seguir o percurso das aves e saber quais as zonas por onde andam e identificar quais as mais importantes.

“Neste Inverno vamos apostar em força no campo, na intervenção junto de quem gere territórios, para os ajudar a compatibilizar a sua actividade com a conservação da vida selvagem”, adiantou Paulo Marques. Os cuidados a ter passam pelo fomento do habitat das presas da águia – coelho-bravo, lebre e perdiz – e evitar perturbar as aves nos períodos de reprodução.

 

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

 

Se tiver terrenos em áreas de águia-imperial, aqui ficam duas ideias para ajudar esta espécie:

  • Não perturbar os locais de nidificação, especialmente no período mais crítico para a espécie, que vai de Fevereiro a Agosto.
  • Promover o habitat favorável para o coelho-bravo, lebre e perdiz, fazendo com que as aves tenham alimento. Pode fazer abrigos para coelho, remover o mato ou fazer sementeiras de plantas que lhes servem de alimento.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.