Grifo de pé numa rocha, de asas abertas
Grifo (Gyps fulvus). Foto: Emiliya Toncheva/Wiki Commons

Mais de 20 abutres chegam à Bulgária em projecto de conservação

A 19 de Dezembro, 22 grifos (Gyps fulvus) partiram da Extremadura espanhola em direcção à Bulgária, para serem reintroduzidos nas Montanhas Stara Planina e assim ajudar a recuperar a população búlgara.

 

Todos os 22 abutres nasceram em estado selvagem em Espanha durante esta época de reprodução. “Mas as aves foram encontradas fracas e mal nutridas, tendo sido levadas para centros de recuperação de vida selvagem” na Extremadura espanhola, explicou em comunicado a Vulture Conservation Foundation (VCF), entidade que está a organizar o transporte para a Bulgária, no âmbito do projecto Vultures Back to Life.

Depois de um curto período de reabilitação, as aves fizeram uma viagem de 4.000 quilómetros até à Bulgária, via terrestre, que durou cerca de 50 horas. Os grifos foram transportados pela organização não governamental búlgara Green Balkans, num trajecto que passou por França, Itália, Áustria, Hungria e Roménia.

Chegados à Bulgária, as aves estão a passar um período de quarentena no Centro de Vida Selvagem da Green Balkans, em Stara Zagora. Depois serão distribuídas por três zonas de aclimatização em Vratsa, Sliven e Kotel. “Aí, as aves terão tempo para se adaptarem às condições das Montanhas dos Balcãs”, acrescenta a VCF.

Cada um dos grifos será marcado com anilhas e marcadores nas asas para puderem ser identificadas uma vez na natureza. Prevê-se que a sua reintrodução na natureza aconteça na Primavera de 2018.

Este projecto de reintrodução começou em 2009 e o seu objectivo é conseguir o regresso dos grifos à cadeia montanhosa de Stara Planina na Bulgária, região onde a espécie desapareceu há quase um século.

Até agora já foram libertadas mais de 200 aves, a maioria vindas de Espanha mas também de França e de vários Zoos europeus (onde nasceram em cativeiro). Há quatro anos foi registada a primeira tentativa de reprodução na natureza e hoje há 15 casais em Stara Planina.

O esforço conservacionista reúne o Ministério do Ambiente búlgaro e várias organizações como a VCF, a Green Balkans e a Sociedade Búlgara para a Protecção das Aves de Rapina (Bulgarian Society for Protection of Birds of Prey, BPPS).

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

O grifo é uma espécie classificada como Quase Ameaçada, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005). De acordo com o último censo da espécie, realizado em 1999, em Portugal existem cerca de 270 casais nidificantes.

A morte por envenenamento – devido à utilização de iscos envenenados – é apontada como o principal factor de ameaça para o grifo, por se tratar de uma ave necrófaga, gregária e muito dependente da disponibilidade de cadáveres.

[divider type=”thick”]Conheça a fotografia captada por Carlos Rio de um bando com cerca de 100 grifos. Parece mesmo uma pintura.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.