Aves do mês: O que ver em Outubro

Garça-real. Foto: José Frade

Cinco aves a não perder em Outubro, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer este mês, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.

A migração outonal prossegue em Outubro e neste mês começam a surgir no nosso país muitas aves provenientes de outros países europeus e que cá vêm passar os meses mais frios. Juntam-se às espécies ditas residentes, que permanecem em Portugal durante todo o ano e não migram para África.

Garça-real (Ardea cinerea):

Garça-real. Foto: José Frade

O que está a fazer em Outubro: Embora possa ser vista em Portugal durante todo o ano, é no Outono e no Inverno que esta espécie se torna mais numerosa. Durante o mês de Outubro já pode ser vista em grande número nas principais zonas húmidas.

Esta é uma ave aquática de grande dimensão, sendo a maior das garças portuguesas. Identifica-se facilmente pelo pescoço longo e pela plumagem cinzenta. Ao contrário do que acontece com as cegonhas, a garça-real voa com o pescoço encolhido. A confusão é possível com a garça-vermelha, mas esta última espécie apresenta tons arruivados e além disso não se observa habitualmente no Outono.

A garça-real aparece quase sempre perto de água e pode ser vista em todo o tipo de zonas húmidas, desde estuários e lagoas costeiras até pauis, albufeiras, açudes, valas e até margens de rios. Ocorre de norte a sul, sendo especialmente numerosa nos grandes estuários. É mais abundante no Outono e no Inverno, mas alguns indivíduos ficam por cá todo o ano.

É uma ave colonial, o que significa que tende a nidificar colectivamente. As suas colónias situam-se, tipicamente, em árvores de médio ou grande porte e muitas vezes são mistas, isto é, com outras espécies de garças ou com outras pernaltas, como cegonhas, íbis ou colhereiros.

Onde ver: ria de Aveiro, estuário do Tejo, lagoa dos Salgados. 

Gralha-preta (Corvus corone):

Gralha-preta. Foto: José Frade

O que está a fazer em Outubro: Sendo uma espécie residente, a gralha-preta pode ser vista ao longo de todo o ciclo anual. Com a chegada do Outono, tende a formar dormitórios, que podem reunir dezenas ou mesmo centenas de indivíduos.

Esta ave relativamente grande pertence à família dos corvídeos. Caracteriza-se pela plumagem totalmente preta. O bico também é preto e relativamente forte. A cauda é quadrada. O seu voo é batido e só raramente faz voo planado. Emite um som característico «kraa-kraa-kraa», que se faz ouvir com frequência e que ajuda a localizar as aves e a confirmar a sua identificação.

A gralha-preta pode ver-se um pouco por todo o território continental português, excepto no Algarve, onde é rara. Observa-se em locais muito variados, mas parece preferir zonas abertas com algumas árvores ou bosques com clareiras.

Em muitos locais do país, é conhecida pelo nome “corvo”. Esta situação dá origem a frequentes confusões e erros de identificação, pois o corvo propriamente dito é uma espécie diferente e bastante maior, com um bico mais espesso e que ocorre principalmente na metade interior do território, embora ocasionalmente apareça mais perto da costa.

Onde ver: estuário do Minho, ria de Aveiro, península de Setúbal.

Bútio-d’asa-redonda (Buteo buteo):

Bútio-d’asa-redonda. Foto: José Frade

O que está a fazer em Outubro: Os bútios estão por cá todo o ano, mas ao contrário do que sucede na Primavera, em que frequentam sobretudo zonas florestais, durante o Outono começam a surgir em zonas mais abertas, para ser alimentarem. A razão é simples: nesta época, não estão tão dependentes da presença de árvores, que usam para nidificar.

Trata-se de uma ave de rapina de tamanho médio, de aspecto relativamente compacto, com asas largas e não muito longas. A plumagem é essencialmente castanha, mas existe uma grande variabilidade de padrões de plumagem. Os indivíduos mais típicos apresentam um colar branco no peito, mas alguns podem ser mais escuros e outros muito mais claros. Esta diversidade de cores e padrões está na origem do nome francês dado a esta espécie: Buse variable.

O bútio-d’asa-redonda está presente de norte a sul do país, surgindo numa grande variedade de habitats, como bosques, terrenos agrícolas ou matos, tanto em planície como em montanha. Também ocorre no arquipélago da Madeira, onde é localmente conhecido pelo nome “manta” – as populações dessa região já têm sido descritas como pertencendo à subespécie Buteo buteo harterti, mas esta classificação não é consensual. Adicionalmente, a espécie existe nos Açores, sendo aí designada por “milhafre” ou “queimado” – a subespécie presente nessa região é a Buteo buteo rothschildi.

Em muitos guias de campo esta ave aparece referida com a designação “águia-d’asa-redonda”, porém este nome é tecnicamente incorrecto, uma vez que não se trata de uma águia.

Onde ver: todo o território continental, ilha da Madeira, grupos central e oriental dos Açores.

Rouxinol-bravo (Cettia cetti):

Rouxinol-bravo. Foto: José Frade

O que está a fazer em Outubro: Esta é mais uma espécie residente, que está presente em Portugal Continental em todos os meses do ano. Depois de ter tido um comportamento discreto durante o Verão, a partir de Outubro os rouxinóis-bravos voltam a fazer ouvir o seu canto, tornando-se, por esta altura, um dos sons mais característicos dos caniçais portugueses.

Esta é uma pequena ave insectívora, com uma plumagem castanho-avermelhada por cima e acinzentada por baixo. Na cabeça pode ver-se uma fina lista supraciliar clara. O bico é fino e as asas são curtas. O rouxinol-bravo mostra-se pouco, pois tende a esconder-se entre a vegetação densa. No entanto, detecta-se facilmente através do seu canto alto e explosivo, que pode ser ouvido durante todo o ano.

Surge quase sempre perto de água, seja em formações de vegetação emergente, como caniçais e tabuais, seja em galerias ripícolas bem desenvolvidas, ao longo de rios e ribeiros. Está presente de norte a sul do país, mas é mais raro no noroeste do território.

Apesar do seu nome, o rouxinol-bravo não é aparentado ao rouxinol-comum (Luscinia megarhynchos). O nome vernáculo em português surgiu, provavelmente, por tradução do nome espanhol “ruiseñor bravo”. Contudo, com a recente reclassificação da espécie na família Cettiidae, os nossos vizinhos espanhóis adaptaram o nome da espécie para “cetia ruiseñor”.

Onde ver: Salreu (Estarreja), paul do Boquilobo, lagoa de Albufeira.

Ganso-patola (Morus bassanus):

Ganso-patola. Foto: José Frade

O que está a fazer em Outubro: No início do Outono, o mar português enche-se de milhares de gansos-patolas, vindos do norte da Europa, que aqui vêm passar o Inverno. Esta é uma boa altura para olhar para o mar e ver estas grandes aves marinhas a efectuar os seus espectaculares mergulhos.

O ganso-patola é a maior ave marinha que pode ser vista regularmente em águas nacionais. Identifica-se principalmente pela grande dimensão, pelas asas compridas e estreitas e, no caso dos adultos (à direita na foto), pela plumagem essencialmente branca, com as pontas das asas pretas, pela cabeça amarelada e pelo bico comprido. Os juvenis (ave da esquerda) são castanhos e os imaturos começam a adquirir manchas brancas de forma progressiva.

Esta espécie ocorre quase exclusivamente em mar aberto, mas frequenta zonas relativamente próximas da costa, pelo que pode ser facilmente vista a partir de terra firme, nomeadamente em praias, escarpas ou cabos. Mergulha de grande altura, entrando na água como um torpedo. Por vezes, são encontrados indivíduos debilitados em praias ou portos de pesca.

O nome específico bassanus deriva de Bass Rock, uma ilha na Escócia onde se situa a maior colónia do mundo, composta por cerca de 150 mil indivíduos. Em 2022, esta colónia foi atingida por um surto de gripe aviária, causando a morte de milhares de indivíduos.

Onde ver: cabo Carvoeiro, cabo Raso, cabo de São Vicente.


Agora é a sua vez.

Parta à descoberta destas espécies e envie as suas fotografias, com a data e a localidade, para o email [email protected]. No final do mês publicaremos uma galeria com as suas imagens e descobertas!