Abutre-preto. Foto: Francesco Veronesi / Wiki Commons

Siga em directo o dia a dia num ninho de abutre-preto

Um casal de abutres-pretos em fase de nidificação está a ser filmado em directo por uma câmara, num dos principais núcleos reprodutores da espécie em Espanha. Saiba como acompanhar.

Esta iniciativa é coordenada pela SEO BirdLife, a Sociedade Espanhola de Ornitologia. Desde 2014 que esta webcam funciona durante a época reprodutora de abutres-pretos, no Parque Nacional da Sierra de Guadarrama, com o objectivo de “aproximar o público desta espécie emblemática neste espaço protegido”.

Este ano, o ninho escolhido para ser acompanhado online está situado na parte madrilena desta área protegida, num grande pinheiro-bravo. Qualquer pessoa interessada pode acompanhar o dia a dia deste casal através do canal da SEO BirdLife no YouTube.

O abutre-preto é a maior espécie de abutre europeia e é também a que tem um período de incubação mais longo, entre todas as aves de rapina da Europa, explica a VCF – Fundação para a Conservação dos Abutres. “Faz ninhos em velhas florestas em topos de árvores remotos e por vezes em ravinas ou mesmo no solo. A espécie constrói ninhos enormes em pinheiros ou carvalhos que podem atingir um diâmetro de até 254 centímetros e uma altura de 129 centímetros, embora sejam normalmente mais pequenos.”

As fêmeas costumam pôr apenas um ovo, o que acontece entre finais de Fevereiro e a primeira metade de Março. No que respeita ao casal estrela desta iniciativa, a postura teve início “há poucos dias”, pelo que é possível “observar os pais dedicados a incubarem a sua cria nos próximos dois meses”, adianta a VCF, numa notícia recente sobre esta acção.

Se tudo correr bem, a pequena ave deverá nascer entre entre finais de Abril e meados de Maio. Os pais desta espécie partilham entre si os cuidados e costumam tomar conta da cria durante três a quatro meses, até esta deixar o ninho entre o fim de Agosto e os primeiros dias de Setembro.

O Parque Nacional da Sierra de Guadarrama, que financia esta acção, abriga uma grande população desta espécie, num total de 360 casais. O ninho está situado no núcleo do Alto Lozoya, que com 153 pares de abutres-pretos é o mais importante desta área protegida e mesmo a nível mundial.

Muitas vezes bem sucedidos

Nem sempre os abutres-pretos, tal como acontece com outras aves, conseguem cuidar com sucesso do ovo e mais tarde de uma nova cria. No caso desta espécie, estima-se que cerca de 70% dos casais em época de nidificação chegam ao final desse período bem sucedidos. Ou seja, sete em cada dez.

No que respeita a este casal, cujo ninho está a ser monitorizado desde 2007, chegaram à fase de postura em nove ocasiões, das quais a cria sobreviveu sete vezes. E nos últimos quatro anos tiveram sempre sucesso.

Em termos globais, no que respeita ao risco de extinção, esta espécie tem um estatuto de Quase Ameaçado, de acordo com os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza. É considerada Vulnerável em Espanha, mas em Portugal está hoje Criticamente em Perigo, depois de ter deixado de se reproduzir no país durante 40 anos.

Só no final de Julho de 2010 é que voltaram a registar-se crias em território português, duas, ambas no Parque Natural do Tejo Internacional. Hoje, está presente em três núcleos no território português: além do Tejo Internacional, onde no ano passado sobreviveram 17 crias, também o Douro Internacional e o Baixo Alentejo.


Saiba mais.

Já existem 15 ninhos artificiais para o abutre-preto no Parque Natural do Tejo Internacional. Saiba porquê e recorde também um projecto internacional para a monitorização da espécie através de emissores GPS, que está em curso.


PUB

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.