Alma-de-mestre. Foto: Júlio Reis/WikiCommons

A ave marinha mais pequena do Mediterrâneo é a que faz as viagens mais longas

Do tamanho de um pardal e com apenas 28 gramas, a alma-de-mestre, a ave marinha mais pequena do Mediterrâneo, é aquela que faz as viagens mais longas para se alimentar.

 

Durante o período de incubação, a subespécie alma-de-mestre-do-mediterrâneo (Hydrobates pelagicus melitensis), com um tamanho entre 14 e 18 centímetros, é capaz de fazer trajectos de mais de 1.500 quilómetros em três a quatro dias para encontrar alimento.

O seu principal destino é o mar de Alborán, a principal zona de alimentação desta espécie, entre as costas andaluzas e africanas. É uma área altamente produtiva devido à “proximidade e entrada de água fria do Atlântico, apreciada pelas almas-de-mestre”. Por ser crucial para esta ave marinha, os cientistas pedem que se estabeleçam “medidas de conservação e se determinem áreas protegidas”.

Os investigadores do IMEDEA (Instituto Mediterrâneo de Estudos Avançados, CSIC-UIB), liderados por Andreu Rotger, publicaram a 14 de Julho um artigo na Ardeola, revista científica da SEO/Birdlife (Sociedade de Ornitologia Espanhola), com estas conclusões.

 

Alma-de-mestre. Foto: Júlio Reis/WikiCommons

 

Para conhecer os movimentos e as áreas de alimentação das almas-negras, os cientistas marcaram 42 exemplares com um aparelho GPS miniaturizado, com menos de um grama de peso, na colónia de Benidorm (Alicante), uma das mais importantes do Mediterrâneo. Ali ocorrem 600 indivíduos reprodutores.

“Nem todos os indivíduos percorreram os mesmos quilómetros na épica tarefa de encontrar comida em águas profundas”, comentou, em comunicado, Rotger. “Há uma alta variabilidade na duração das viagens de alimentação, entre 1 e 4,5 dias, e na distância percorrida, que variou entre 303 e 1.726 quilómetros, abarcando uma área de distribuição com cerca de 135 mil quilómetros quadrados”, acrescentou.

O artigo mostrou que esta espécie é capaz de cobrir “distâncias maiores do que os seus parentes atlânticos e do que outras aves marinhas mediterrânicas”, explicou Rotger.

Em Portugal, mais concretamente no Continente e na Madeira, ocorre a alma-de-meste (Hydrobates pelagicus), enquanto espécie migradora de passagem.

Esta espécie passa a maior parte da sua vida no mar, pode viver mais de 30 anos e põe um único ovo, que é incubado por ambos os progenitores.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Descubra mais sobre a alma-de-mestre no Atlas das Aves Marinhas de Portugal.

Recorde aqui o testemunho de Paulo Catry, biólogo português que fala sobre esta “espécie extraordinária”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.