Floresta Amazónica. Foto: Rosa Maria/Pixabay

Amazónia perdeu 7.900 quilómetros quadrados de floresta no último ano

Entre Agosto de 2017 e Julho de 2018 foram desflorestados na Amazónia cerca de 7.900 quilómetros quadrados, uma área superior à do Algarve, revelou o Governo brasileiro.

 

Esta área de 7.900 quilómetros quadrados, o equivalente a 987.500 campos de futebol, representa um aumento de 13,7% em relação ao período homólogo anterior, segundo um comunicado conjunto dos ministérios do Ambiente (MMA) e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), divulgado a 23 de Novembro.

Segundo as contas da organização Greenpeace no Brasil, a Amazónia perdeu assim “cerca de 1.185.000.000 de árvores, considerando 1.500 árvores por hectare”.

Os valores mais elevados de desflorestação foram registados nos estados brasileiros do Pará, Mato Grosso, Rondónia e Amazonas.

Estes dados foram recolhidos no âmbito do Projecto de Monitoramento do Desmatamento na Amazónia Legal por Satélite (PRODES) e trabalhados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Segundo o comunicado, este mapeamento utilizou imagens do satélite para registar e quantificar as áreas desmatadas superiores a 6,25 hectares. “Foi considerado como desmatamento a remoção completa da cobertura florestal primária por corte raso, independentemente da futura utilização dessas áreas”, explica o documento.

Quanto desta desflorestação é ilegal é uma questão que está a ser investigada pelas autoridades. É que, tendo em vista o cumprimento dos compromissos assumidos pelo Brasil no âmbito do Acordo de Paris, sobre alterações climáticas, o país procura eliminar a desflorestação ilegal e compensar as emissões do abate autorizado de árvores.

Mas esta não é uma tarefa fácil. “O recrudescimento do crime organizado que atua no desmatamento ilegal da Amazónia, destruindo as riquezas naturais do país e causando danos para toda sociedade, está associado a outras práticas criminosas, como tráfico de armas e animais, trabalho escravo, evasão de divisas e lavagem de dinheiro”, comentou Edson Duarte, ministro brasileiro do Ambiente.

Na opinião do ministro, é preciso “ampliar a mobilização de todos os níveis de Governo, da sociedade e do sector produtivo no combate aos ilícitos ambientais e na defesa do desenvolvimento sustentável do bioma”.

Segundo o comunicado foi reforçado o orçamento do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para acções de fiscalização ambiental. Como consequência, acrescenta, registou-se um aumento de 40% no número de autuações, de 20% no número de áreas florestais embargadas e de 40% no número de apreensões de madeira e de equipamentos.

Além disso foram criadas mais duas unidades de conservação de uso sustentável, que totalizam mais 600 mil hectares, e a Polícia Federal instaurou 823 procedimentos criminais – relacionados com lavagem de dinheiro, tráfico de armas, drogas e animais e trabalho escravo, associados ao abate ilegal de árvores – no mesmo período.

 

Receios da Greenpeace Brasil

Numa reacção à divulgação destes dados sobre a desflorestação na floresta da Amazónia, a organização Greenpeace acusa o “estímulo constante ao crime ambiental” naquela floresta que vem de Brasília, o centro do poder. A organização critica as propostas que têm sido apresentadas e que beneficiam “quem vive de desmatar a floresta” e de “roubar o património natural dos brasileiros”.

Em comunicado divulgado no mesmo dia, 23 de Novembro, dá como exemplos as propostas para a flexibilização do licenciamento ambiental no Brasil, os adiamentos do Cadastro Ambiental Rural, as tentativas de redução de áreas protegidas e a paralisação das demarcações de Terras Indígenas.

E a situação da Amazónia poderá piorar com o Governo de Jair Bolsonaro, alerta. “O presidente eleito prometeu atacar exatamente o que fez o desmatamento diminuir. Ele pretende liberar a exploração de Terras Indígenas e Unidades de Conservação e enfraquecer o poder de fiscalização do Ibama. Tudo o que funcionou no combate à destruição florestal está sob ameaça.”

“Não são apenas as árvores que tombam, pois o desmatamento na Amazónia vem sempre acompanhado de violência e conflitos sociais”, avalia Romulo. O Brasil lidera a lista de países mais perigosos para defensores ambientais, com 57 dos 207 assassinatos em 2017, de acordo com o levantamento feito pela Global Witness.

A Amazónia “é fundamental para manter o equilíbrio do clima global” e “é responsável por regular o regime de chuvas que caem em outras regiões do país, como o Centro-Oeste, base do agronegócio nacional”, lembra a Greenpeace.

“Estudos indicam que é possível duplicar a produção agropecuária brasileira sem desmatar mais nenhum palmo de terra. Além de manter mercados, o desmatamento zero é um estímulo ao desenvolvimento de outras alternativas económicas em harmonia com a floresta e seus povos.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.