Andaluzia lança plano para conservar o milhafre-real

O plano, apresentado a 7 de Setembro, tem como meta conseguir até 85 casais desta ave Criticamente Em Perigo de extinção.

 

No ano passado nidificaram 40 casais de milhafre-real (Milvus milvus) em toda a Andaluzia, 37 dos quais no espaço natural de Doñana.

Em Portugal, há cada vez menos milhafres-reais a fazer ninho e a reproduzir-se. O primeiro censo nacional da espécie, promovido pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) em 2001 permitiu contabilizar a população nacional em 50 a 100 casais nidificantes. A população residente está classificada como Criticamente Em Perigo de extinção e a população invernante é considerada Vulnerável.

Ainda assim, a partir do final de Setembro, começam a chegar as aves que aqui passam os Invernos vindos do Norte e Centro da Europa. Por volta de Abril, estão novamente de partida.

 

Milhafre-real. Foto: Hansueli Krapf/Wiki Commons

 

Esta é uma situação bastante diferente do que acontecia até ao início do século XX. “O milhafre-real era uma espécie bastante comum como nidificaste em Portugal, especialmente no Centro e no Sul, vivendo em estreita relação com as populações rurais”, escrevem os autores do livro “Aves de Portugal” (Assírio & Alvim, 2010). Entre as causas deste declínio estão a perseguição directa e os venenos.

Na Andaluzia, o Plano de Conservação do Milhafre-real apresentado na semana passada tem como grande objectivo diminuir a categoria de ameaça naquela região espanhola, explicou José Fiscal, conselheiro do Ambiente e Ordenamento do Território da Andaluzia na localidade de Puerto Moral (Huelva).

Nos últimos anos, a espécie parece ter estabilizado, situação que José Fiscal relacionou com as boas condições de refúgio oferecidas por Doñana. De facto, a maioria da população reprodutora andaluza encontra-se no Espaço Natural de Doñana, apesar de haver alguns casais reprodutores em Jaén e a Norte de Granada.

O Plano, integrado no Plano de Recuperação e Conservação de Aves Necrófagas – com um orçamento anual de 449.184 euros -, assenta em cinco medidas prioritárias para conseguir, pelo menos, entre 50 e 75 casais nidificantes em Doñana e entre cinco e 10 casais no Norte de Huelva. Entre elas estão a diminuição da taxa de mortalidade não natural, através da Estratégia Andaluzia contra o veneno, e reduzir o número de mortes de milhafres por colisão com os aerogeradores dos parques eólicos.

Este documento prevê também que se mantenham os trabalhos de censos e de seguimento da reprodução e da invernada, que acontecem anualmente, e a aplicação de um modelo demográfico da espécie na Andaluzia à sua conservação.

Por fim, o plano vai apostar na protecção dos territórios de reprodução e os dormitórios de Inverno.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.