Quebra-ossos. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

Centro de reprodução andaluz consegue nove crias de quebra-ossos em 2020

A temporada de reprodução em cativeiro do quebra-ossos, o abutre mais ameaçado da Europa, no centro de Guadalentín, na Andaluzia, terminou com um total de nove crias.

 

O Centro de Reprodução em cativeiro do quebra-ossos (Gypaetus barbatus) em Guadalentín, em pleno Parque Natural Sierras de Cazorla, Segura y las Villas, é um dos centros europeus que está a tentar trazer de volta esta espécie de abutre Em Perigo de extinção ao Velho Continente.

Na temporada de reprodução que agora terminou foram seis os casais reprodutores. Dos 13 ovos que resultaram, apenas nove chegaram a eclodir.

A primeira cria nasceu a 30 de Janeiro, Kobe. Tinha 139,1 gramas. A última nasceu a 8 de Abril, Lamela. Esta cria pesava 120,5 gramas e é filha de Borosa e de Toba.

Com estes nove nascimentos em 2020, o Centro de Reprodução soma já 102 crias, 92 das quais sobreviveram, desde a sua abertura em 1996, segundo a Junta da Andaluzia. A primeira cria nasceu a 27 de Fevereiro de 2002.

Das nove crias nascidas este ano, duas precisaram de intervenção humana. Uma porque não foi capaz de romper a casca do seu ovo sozinha e a outra porque era demasiado grande para girar dentro do ovo, permitindo-lhe eclodir.

Para conseguir 13 ovos com apenas seis casais reprodutores, o Centro de Guadalentín utilizou a técnica chamada “egg pullin”, que consiste em retirar o ovo do ninho imediatamente depois de ter sido posto, para que a fêmea continue a formar ovos para além dos dois por temporada, que é o número habitual nesta espécie.

Neste caso, isto aconteceu com a fêmea Sabina, que pôs três ovos. As restantes fêmeas puseram dois.

O Centro de Guadalentín é gerido pela Vulture Conservation Foundation, a única entidade na Europa com capacidade legal para gerir os projectos de reprodução em cativeiro de âmbito internacional para esta espécie altamente ameaçada.

Além das nove crias que nasceram nesta temporada em Guadalentín foram adoptadas com sucesso por casais do programa andaluz três crias que vieram de dois centros da Catalunha, isto porque nesses centros não existiam casais adoptivos.

O elevado número de crias nascidas e adoptadas, 12 no total, obrigou o Centro de Guadalentín a fazer seis adopções duplas, o que significa que todos os casais reprodutores estão a criar duas crias, algo que só acontece neste centro, o mais especializado nesta prática em toda a Europa.

O Programa de Reintrodução do Quebra-ossos tem como objectivo conseguir uma população autónoma e estável desta espécie na Andaluzia. Isto através da libertação de abutres jovens graças à técnica de hacking. Esta técnica permite que a ave assuma a zona de libertação como o lugar onde nasceu e que, portanto, regresse a ela para se estabelecer e reproduzir.

 

O mais ameaçado da Europa

O quebra-ossos (Gypaetus barbatus) é o abutre mais ameaçado da Europa, onde se estima que existam hoje pouco mais de 200 casais, 130 dos quais em Espanha.

Nas últimas décadas, os conservacionistas têm libertado quebra-ossos na natureza para reintroduzir ou reforçar a população desta espécie na Europa. Entre 1986 e 2019 foram libertados 323 quebra-ossos juvenis na natureza, incluindo 227 nos Alpes e nos Pré-Alpes e 63 na Andaluzia.

Em Portugal, a espécie está dada como extinta.

Até há pouco tempo não se conheciam registos da sua ocorrência desde o final do século XIX, segundo o livro “Aves de Portugal” (2010). O registo mais preciso era de 1888 quando duas aves foram abatidas no rio Guadiana. Os exemplares estão hoje no Museu de Zoologia da Universidade de Coimbra.

Mas em Maio de 2018, a Fundação para a Conservação dos Abutres revelou que um observador de aves alemão viu e fotografou um quebra-ossos no Algarve.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.