Cagarro. Foto: Tânia Pipa/SPEA

Corvo recebe cagarro de Bordalo II para sensibilizar para o impacto do lixo marinho

De 3 a 7 de setembro, o artista Bordalo II irá realizar a obra Cagarro na ilha do Corvo para alertar para o problema do lixo marinho sobre as aves marinhas e agradecer à população que tem ajudado estas aves.

Na ilha do Corvo, a mais pequena ilha dos Açores, vivem cerca de 450 pessoas. São conhecidos defensores da vida marinha selvagem, em especial de uma ave, o cagarro (Calonectris borealis). Esta é a ave marinha mais abundante de Portugal e a mais emblemática da Macaronésia.

Cagarro. Foto: SPEA

O município faz apagões totais da iluminação pública durante a saída de juvenis de cagarro nos ninhos e substituiu a iluminação pública por iluminação adequada que permita diminuir o número de cagarros desorientados pelas nossas luzes, podendo chegar ao mar sem problemas e aumentando assim a sua probabilidade de sobrevivência, nesta fase mais crítica.

“A população do Corvo e seu município são um exemplo para as restantes ilhas do arquipélago”, diz a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). Esta organização está a conservar as aves marinhas naquela ilha, lado a lado com Câmara Municipal do Corvo e com co-financiamento da Direção Regional de Turismo e com o apoio da EDA.

Os corvinos “têm sido, desde o início, parte integrante na conservação das aves marinhas e do seu habitat, tornando o Corvo um Santuário para as Aves Marinhas”, acrescentou a SPEA.

Para agradecer à população, o artista Bordalo II está a construir um cagarro na ilha do Corvo, no âmbito da série Big Trash Animals.

Esta obra pretende também “sensibilizar a população local e visitantes para o problema do lixo marinho, em particular o seu impacto nas aves marinhas, sendo o cagarro Calonectris borealis a sentinela para este problema”.

Um estudo realizado pela Universidade dos Açores, revelou que 93% dos juvenis desta espécie tinham presença de plástico no seu estômago.   

Este é um dos pilares do trabalho do artista Bordalo II, ao utilizar lixo, na maioria das vezes materiais que os “matam”, para criar estes animais de grande dimensão.  

O desperdício tem sido uma das ideias centrais do trabalho de Bordalo II, com obras espalhadas por cerca de 20 países. Em Portugal, podemos ver os animais de Bordalo II nas ruas de mais de 15 cidades, entre elas Bragança, Castelo Branco, Covilhã, Leiria, Lisboa, Porto e Viseu. As espécies são variadas, desde piscos-de-peito-ruivo, corujas, garças e camaleões a guarda-rios, peixes, osgas, ginetas, javalis, linces, abelhas e lobos. E polvos, grifos, coelhos e lontras.

A produção excessiva de coisas ou o consumo exagerado, que resulta na contínua produção de lixo e consequentemente, na destruição do nosso planeta são os temas centrais da sua produção artística.

Para tentar resolver o problema do lixo marinho, o núcleo da SPEA nos Açores, a Direção Regional das Pescas e a Direção Regional dos Assuntos do Mar estão a “sensibilizar as populações locais e utilizadores do mar para uma economia circular, para a mitigação do lixo marinho através da mudança de atitudes, onde antes de consumir, o pressuposto deve ser escolher sempre com base em repensar, reduzir, recusar, reutilizar e por último reciclar”.  

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.