lobo ibérico
Lobo ibérico conservado no Museu de História Natural, Lisboa. Foto: Joana Bourgard

Dois lobos encontrados mortos em Montalegre e Bragança

As autoridades estão a investigar a morte de dois lobos-ibéricos (Canis lupus signatus), espécie protegida desde 1988, encontrados mortos em Montalegre e Bragança, revelou hoje o ICNF.

A 15 de Fevereiro, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) foi informado da existência de dois cadáveres de lobo na região Norte do país. Um foi encontrado na zona de Cabril, Montalegre, e o outro na zona de Rio de Onor, Bragança, no Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Segundo o Jornal de Notícias, um dos lobos foi encontrado morto junto a um cadáver de garrano e perto de laços, armadilhas ilegais. O outro tinha um laço na cabeça.

As autoridades já estão a investigar o sucedido.

De acordo com o ICNF, “foi de imediato ativado o protocolo estabelecido no âmbito do Sistema de Monitorização de Lobos Mortos (protocolo que envolve o ICNF, GNR, Ministério Público e INIAV, I.P.).

“As equipas da GNR/SEPNA (Serviço da Protecção da Natureza e do Ambiente da GNR) e os Vigilantes da Natureza presentes no terreno, em estreita colaboração e no âmbito das suas competências, desencadearam uma série de procedimentos de investigação, bem como a recolha dos cadáveres que foram entregues ao INIAV, I.P. para necropsia”, informa o ICNF numa nota divulgada hoje.

O caso já foi comunicado ao Ministério Público, nas Comarcas de Vila Real e Bragança.

“Sobre as notícias que referem um segundo lobo morto em Cabril, informa-se que os Vigilantes da Natureza encontraram várias armadilhas de laços, utilizadas na caça ilegal, e que a GNR se encontra a recolher os indícios desta prática ilegal não havendo, até ao momento, evidências suficientes que nos permitam concluir da existência de mais um animal morto.”

Já em Fevereiro de 2019 tinha sido encontrado um lobo morto numa armadilha em Paredes de Coura.

O lobo-ibérico (Canis lupus signatus) é uma espécie protegida em Portugal, desde que a Lei nº90/88, de 13 de Agosto, estabeleceu pela primeira vez as bases para a protecção desta espécie. Em 2005 foi classificado com o estatuto de Em Perigo (Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal).

É o único membro que resta da família dos grandes predadores de Portugal.

Até aos anos 30 do século XX, o lobo-ibérico distribuía-se por todo o país, até ao Algarve. Mas, com o passar dos anos, o lobo foi sendo empurrado, concentrando-se hoje em núcleos no Alto Minho, Trás-os-Montes e numa região a Sul do Douro.

O mais recente censo nacional ao lobo-ibérico, de 2002/2003, identificou 63 alcateias (51 confirmadas e 12 prováveis) no Norte e Centro do país. A população foi, então, estimada entre 220 e 430 animais. Mais tarde, estudos compilados entre 2003 e 2014 deram conta da existência de 47 alcateias (41 confirmadas e seis prováveis).

De momento está em curso o Censo nacional ao lobo-ibérico, trabalho que deverá terminar este ano. Os grandes objectivos são conhecer a área de distribuição desta espécie Em Perigo de extinção e qual a situação das alcateias.

A população ibérica está estimada em cerca de 2.000 lobos em 350 alcateias, num território de 140 mil quilómetros quadrados. Esta população sofreu um declínio severo desde o início do século XX até aos anos 1970 por causa da perseguição intensa. Nas últimas décadas, a população tem vindo a expandir-se. Mas nem em todos os locais.

Parte da população ibérica continua em declínio, especialmente a Sul do Douro e na Serra Morena.


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.