Fóssil com 66 milhões de anos permite saber mais sobre origem das aves

Uma equipa internacional de investigadores descobriu, na zona entre a Bélgica e a Holanda, fósseis de um animal já extinto, que pode representar a ave “moderna” mais antiga conhecida para a Ciência.

 

O fóssil mais antigo de uma ave moderna encontrado até ao momento foi identificado por uma equipa internacional de paleontólogos. Essa ave, já extinta, – a Asteriornis maastrichtensis – viveu no tempo dos dinossauros.

 

Reconstrução do ilustrador da ave Asteriornis maastrichtensis, no seu ambiente natural. Ilustração: Phillip Krzeminski

 

Os investigadores acreditam que esta ave teria como habitat zonas costeiras, num tempo em que o ambiente costeiro desta parte da Europa se assemelharia ao das ilhas tropicais.

O fóssil foi descoberto numa jazida perto da fronteira entre a Bélgica e a Holanda, fazendo desta a primeira ave moderna do tempo dos dinossauros a ser encontrada no Hemisfério Norte.

“O registo fóssil de aves da Europa do período Cretáceo é extremamente raro”, disse o co-autor John Jagt, do Museu de História Natural de Maastricht, Holanda. “A descoberta de Asteriornis dá-nos algumas das primeiras provas de que a Europa era uma área crucial no início da história evolutiva das aves modernas.”

Afectuosamente chamado “Galinha maravilha”, este fóssil inclui um crânio quase completo e terá cerca de 66 milhões de anos, ou seja, cerca de um milhão de anos antes do asteroide que embateu na Terra e que dizimou os grandes dinossauros. A descoberta, coordenada pela Universidade de Cambridge, foi publicada agora num artigo da revista Nature.

 

Imagem a três dimensões do crânio do Asteriornis maastrichtensis. Imagem: Daniel Field

 

Fósseis de aves desta época da história da Terra são muito raros. “O momento em que vi o que estava por debaixo da rocha foi o momento mais entusiasmante da minha carreira científica”, disse, em comunicado, Daniel Field, do Departamento das Ciências da Terra da Universidade de Cambridge, e o coordenador da investigação.

“Este é um dos fósseis mais bem preservados de crânios de aves de qualquer período, em qualquer lugar do mundo. Quase tivemos de nos beliscar quando o vimos.”

Os paleontólogos acreditam que a descoberta permite melhorar o nosso conhecimento sobre as aves modernas e pode ajudar a explicar por que razão estes animais sobreviveram à extinção em massa, ao contrário do que aconteceu aos grandes dinossauros.

Uma análise detalhada revelou que aquela ave partilha algumas características com os patos e as galinhas dos nossos dias. Segundo os investigadores, a “Galinha maravilha” será o mais próximo do último antecessor comum das galinhas e dos patos dos nossos dias, um grupo chamado Galloanserae.

“As origens da diversidade das aves vivas estão envolvidas em mistério”, comentou o co-autor do artigo científico Albert Chen, da Universidade de Cambridge. “Além de sabermos que as aves modernas surgiram algures no final do tempo dos dinossauros, temos poucas provas fósseis delas até depois de o asteróide ter atingido o planeta.”

Na sua opinião, “este fóssil dá-nos a visão mais antiga de como eram as aves modernas nas fases iniciais da sua história evolutiva”.

Segundo Daniel Field, estas aves seriam relativamente pequenas, teriam hábitos de vida mais ao nível do solo, conseguiam voar e viviam perto da costa.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.