João Rodrigues. Foto: D.R.

João Rodrigues quer dar a animais e plantas uma voz “que os ajude a sobreviver”

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Vencedor da categoria Behaviour: Amphibians and Reptiles do Wildlife Photographer of the Year, João Rodrigues, 32 anos, é um fotógrafo com uma missão: dar às espécies uma voz que as ajude a sobreviver. Saiba mais sobre este naturalista nesta pequena entrevista que deu à Wilder.

 

WILDER: A fotografia “Where the giant newts breed” venceu na categoria Behaviour: Amphibians and Reptiles. Onde e quando foi feita?

João Rodrigues: Foi feita no Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros, Minde, em Janeiro de 2020.

Foto: João Rodrigues/Wildlife Photographer of the Year

W: Pode contar um pouco a história por detrás da imagem?

João Rodrigues: Apanhando-me de surpresa, um casal de Salamandra-de-costelas-salientes em cortejo nadou para fora de uma moita na floresta submersa, mesmo à minha frente, o macho ainda a agarrar a fêmea. A localização era o enorme lago sazonal no meio de um vale localizado no Parque Nacional De Serra de Aire e Candeeiros. Conhecido como o ‘Mar de Minde’, apenas emerge em invernos com chuvas excepcionalmente fortes, quando rios subterrâneos que correm pelos maciços calcários da Serra de Aires e Candeeiros transbordam. Estava numa missão para documentar os ecossistemas de água doce de Portugal – numa altura em que a poluição, construção e a introdução de espécies não nativas estão a pôr em perigo a maior parte dos ecossistemas de água doce – e esta era a primeira oportunidade em cinco anos para lá mergulhar. Foi uma experiência mágica. Nadar entre as árvores fez-me sentir como se estivesse a voar.

Manobrando-me pelos ramos de abrunheiro nas águas rasas, tendo bastante cuidado para que não se levantassem sedimentos, comecei a tentar fotografar a imensidão de pequenos camarão-fada que, despoletado pelo fluxo de água, incubaram na lama. Quando as salamandras apareceram, tive apenas uma fração de segundo para ajustar as configurações da câmara e tirar duas fotografias antes de elas nadarem para as sombras.

W: Foi a primeira vez que concorreu ao Wildlife Photographer of the Year?

João Rodrigues: Sim, foi a primeira vez. Depois de quase cinco anos dedicado 100% à fotografia subaquática, achei que estava na altura certa para arriscar.

W: O que representa para si esta distinção?

João Rodrigues: Representa o comprovar de que estou no caminho certo e que por mais que sejam as adversidades, se acreditarmos em nós e lutarmos com todas as forças por aquilo que amamos, no meu caso a Natureza ou seja, a essência da nossa própria existência, tudo é possível. Para mim, uma das coisas mais importantes desta distinção foi a força que a minha voz ganhou a nível mundial, permitindo levar a minha mensagem que se foca essencialmente na necessidade de conservação e proteção da natureza, aos quatro cantos do mundo.

João Rodrigues. Foto: D.R.

W: O que mais gosta de fotografar e porquê?

João Rodrigues: A lista é vasta, desde o maior habitante do nosso planeta, a baleia-azul, até a um dos animais mais pequenos como o cavalo-marinho-de-focinho-curto. Para mim, o mais importante é que sejam animais e plantas que precisem de uma “voz” que os ajude a sobreviver às crescentes ameaças a que estão expostos. E é aí que entra a minha câmara. Uma ferramenta de sensibilização e proteção ambiental. 

W: Que conselhos pode dar a quem está a começar a fotografar a vida selvagem?

João Rodrigues: Pode parecer cliché mas, se for esta a vida que querem seguir, se não forem completamente apaixonados pelo mundo natural, não vale a pena sequer tentar. O caminho é longo e repleto de obstáculos, muitos obstáculos. No entanto, se esta condição fizer parte de vós, então peguem nas vossas câmaras e passem horas, muitas horas, no terreno. A analisar e a tentar perceber ao pormenor como os ecossistemas e os seus habitantes funcionam. Isto complementado por muito estudo e pesquisa bibliográfica, vai ajudar-vos a pôr-vos no local certo à hora certa para os vossos melhores “clicks”.

W: Tem algum projecto fotográfico em mãos de momento?

João Rodrigues: Neste momento estou a trabalhar numa história sobre tubarões de Portugal para a National Geographic e na Websérie A Casa de Neptuno.


Saiba mais.

Recorde aqui o artigo que publicámos em 2019 sobre João Rodrigues.

João Rodrigues tem 32 anos e vive “pelo mundo”. Mas em Portugal a sua base é Faro.

É fotojornalista, cineasta e biólogo marinho especializado em História Natural e conservação.

Durante o seu percurso profissional, que o tem levado a mergulhar desde as águas geladas dos mares nórdicos até aos recifes de coral dos trópicos, colaborou em documentários como “Europe ́s Wild Islands” do National Geographic Channel”, “Blue Planet 2” da BBC, “Oásis-Azores Islands-North Atlantic Ocean” da NHK, “+ ou – 5 mètres” do canal Arte e “Life at the Extreme-Deep / Azores” do canal iTV.

Atualmente é colaborador da National Geographic Portugal e diretor da produtora Chimera Visuals, através da qual realizou o filme “Cavalos de Guerra”, distinguido em festivais de cinema ambiental dos Estados Unidos, Argentina, México, Inglaterra, Estrasburgo e Macedónia do Norte.

Simultaneamente, trabalha como Diretor de Fotografia em filmes de natureza e vida selvagem de produtoras internacionais, como por exemplo, a Bonne Pioche.

Premiado em concursos de fotografia de renome internacional como o Underwater Photographer of the Year e o SIENA International Photo Awards, João tem como missão contar histórias dos oceanos através daquela que acredita ser uma das ferramentas mais importantes para a sensibilização da comunidade, a imagem.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.