Reintrodução de linces-ibéricos em Castela-La Mancha. Foto: Junta de Ambiente de Castela-La Mancha

Linces-ibéricos começam a ser libertados em nova área de reintrodução na Península Ibérica

A zona de Campos de Hellín, em Castela-La Mancha, passa a integrar a rede de áreas de reintrodução do lince-ibérico. Na semana passada foram libertados os primeiros animais, dois linces que nasceram em Silves, no centro de reprodução da espécie em Portugal.

Em Castela-La Mancha vivem 582 linces-ibéricos em três zonas de reintrodução já consolidadas: Montes de Toledo, Serra Morena Oriental e Serra Morena Occidental. Agora, soma-se mais uma.

A 20 de Fevereiro foram libertados os primeiros linces em Campos de Hellín, em Albacete. Os dois animais são o macho Uryu e a fêmea Urze, ambos nascidos em 2023 no Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico (CNRLI) em Silves.

Reintrodução de linces-ibéricos em Castela-La Mancha. Foto: Junta de Ambiente de Castela-La Mancha

Para José Almodóvar, vice-conselheiro de Ambiente de Castela-La Mancha, este é “mais um passo dado no nosso objectivo de consolidar o que será o primeiro núcleo de linces ibéricos na província de Albacete”.

O responsável explicou que Campos de Hellín “é uma zona estratégica para a reintrodução do lince na Península” porque “está situada entre as populações já existentes no quadrante sudoeste da Península Ibérica e as futuras áreas de reintrodução do Levante e do Nordeste peninsular”.

José Almodóvar lembrou que naquela zona têm havido vislumbres da presença da espécie desde 2020, reforçados “depois da solta, em final de 2021, no município de Albatana, em Albacete, do lince-ibérico Lucero, um animal sem uma pata e que foi recuperado e treinado para conseguir caçar em Ciudad Real”.

O esforço teve êxito, uma vez que, “até ao dia de hoje já há reprodução confirmada em 2022 e actualmente estão registados nesta zona três animais, uma fêmea e dois subadultos”.

A estes linces somaram-se outros dois reintroduzidos na passada sexta-feira, um macho e uma fêmea com um ano de idade nascidos no Centro de Reprodução de El Acebuche, em Doñana (Andaluzia).

Foto: António Rivas/Programa de Conservación Ex-situ

Com estas quatro reintroduções são já mais de 100 os linces libertados naquela comunidade autónoma desde 2014, ano em que Castela-La Mancha começou a receber estes felinos.

O lince-ibérico (Lynx pardinus) é uma espécie Em Perigo de extinção.

No século XIX, a população mundial da espécie seria de cerca de 100.000 animais, distribuídos por Portugal e Espanha. Mas o lince-ibérico chegou ao início do século XXI reduzido a menos de 100 exemplares. Em Portugal, a espécie vivia, então, numa situação de “pré-extinção”. 

O declínio pode ser explicado pelo colapso das populações de coelho-bravo, a principal presa do lince, especialmente por causa de duas doenças: a mixomatose (nos anos 50) e a febre hemorrágica viral (nos anos 80). Ao quase desaparecimento do coelho-bravo junta-se a caça indiscriminada e a perda de habitat pelas campanhas agrícolas e de reflorestação com eucalipto e pinheiro-manso, que destruíram os matagais mediterrânicos desde a primeira metade do século XX.

Graças aos esforços conservacionistas de Portugal e Espanha, tanto a nível da reprodução em cativeiro como na recuperação de habitats e reforço e ligação das populações selvagens, a espécie está a regressar aos seus territórios históricos.

Lince-ibérico. Foto: MITECO

A 19 de Maio de 2023 soube-se que existem 1.668 linces-ibéricos no mundo, segundo os dados do mais recente censo à espécie.

Anteriormente, João Alves, técnico superior do Departamento de Conservação da Natureza e Biodiversidade do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), revelou à Wilder que em Portugal está prevista a identificação de, pelo menos, mais uma nova área de reintrodução para a espécie. Isto acontece no âmbito do quarto projecto LIFE dedicado à conservação desta espécie Em Perigo de Extinção, o LIFE Lynxconnect – “Criando uma metapopulação de lince-ibérico (Lynx pardinus) genética e demograficamente funcional”.

Esta nova área “deverá estar concluída durante os próximos quatro anos”, comentou. Tudo dependerá da avaliação de um “número muito significativo de variáveis”.

Estas vão desde a “existência de extensão e continuidade de habitat adequado, em termos qualitativos e quantitativos, níveis adequados de população da presa preferencial do lince – coelho-bravo – que permitam alimentar os exemplares libertados e a sua descendência, inexistência de patologias infeciosas noutras espécies de fauna que interagem com os linces e que podem constituir risco de insucesso, baixa presença nesse território de vias de comunicação com tráfego considerável ou de outros objectos físicos que possam constituir fatores de risco elevado de mortalidade (atropelamento, afogamento, etc.), até à aceitação social das populações que aí residem ou que aí têm uma atividade económica que possa ser conflituante com a presença do lince ibérico de modo permanente e em termos quantitativos significativos”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.