casal de airos, com cria
Casal de airos com a cria. Foto: DickDaniels/Wiki Commons

Morte em massa de 20.000 airos apanha Holanda de surpresa

Centenas de airos estão a chegar mortos à costa da Holanda e as estimativas apontam para mais de 20.000 aves mortas. Os cientistas estão a tentar compreender o que sucedeu.

 

Os airos (Uria aalge) são aves aquáticas que passam boa parte da vida no mar e que nidificam no Atlântico Norte e no Pacífico Norte. Conseguem mergulhar até várias dezenas de metros de profundidade, para pescarem pequenos peixes e crustáceos.

Os airos mortos começaram a aparecer em Janeiro, um pouco por toda a costa, desde as ilhas Wadden mais a norte até à região de Zeeland, a sul, noticiou o The Guardian. Muitas outras aves, encontradas doentes, têm sido levadas para centros de recuperação de vida selvagem.

Mas o que se passa? “A hipótese com a qual estamos a trabalhar é que isto seja uma combinação de mau tempo com outra coisa qualquer, que estamos a tentar perceber o que é”, disse Mardik Leopold, um biólogo da Universidade de Wageningen, ao jornal britânico.

O cientista lembra que os últimos casos conhecidos de mortes em massa como esta datam dos anos 1980 e 1990. Para já, as análises e dissecações feitas a algumas aves revelam que estavam limpas, mas muito magras e com problemas intestinais, o que pode ser um sinal de fome.

Mardik Leopold adianta que uma das causas possíveis será o conteúdo de 291 contentores que se perderam a norte da ilha de Ameland, a norte de Amesterdão, durante uma grande tempestade a 2 de Janeiro.

Acredita-se que as operações de resgate destes contentores – que pertencem a um grande armador, a MSC (Mediterranean Shipping Company) – devem demorar ainda mais seis meses. E para já, estão por encontrar 50, que correm o risco de nunca serem recuperados.

 

Plásticos e químicos perdidos no mar

Entretanto, “não sabemos exactamente o que estava nos contentores, mas é inevitável que se trate de plásticos e de químicos”, avisa o biólogo, que acha estranho não terem sido encontrados grandes números de airos afectados na Alemanha ou na Bélgica, que são países vizinhos. Sabe-se aliás que vários contentores transportavam substâncias perigosas, como relatava o Diário de Notícias no início de Janeiro.

Os esforços para descobrir o que se passa vão continuar nos próximos dias, em que os investigadores esperam dissecar uma centena das aves que foram encontradas mortas.

Em Portugal, já houve colónias com cerca de 6.000 casais de airos estimados no arquipélago das Berlengas, em 1939, mas as mudanças nas artes de pesca levaram à forte queda das populações desta ave, em especial nos anos 1960 e 1970. O último registo de nidificação deu-se nas Berlengas, em 2002.

Ainda assim, durante o Inverno podem observar-se airos ao longo da costa portuguesa, em especial entre Novembro e Março, que acredita-se que sejam provenientes de colónias britânicas e irlandesas.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Pode encontrar mais informações sobre o airo e sobre a situação da espécie no Atlas das Aves Marinhas em Portugal.

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.