um pisco de peito ruivo no ramo de uma árvore
Pisco-de-peito-ruivo. Foto: Wolfgang Vogt/Pixabay

Petição que pede ponto final às armadilhas para aves entregue no Parlamento

A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) entregou uma petição com mais de 4.000 assinaturas de cidadãos na Assembleia da República, apelando à proibição do fabrico, posse e venda de armadilhas para aves.

A petição #ArmadilhasNÃO pede aos deputados que proíbam todos estes actos, uma vez que “permitem a captura ilegal de aves”, anunciou a SPEA em comunicado. Estima-se que anualmente morrem entre 40.000 a 180.000 aves em Portugal.

A legislação portuguesa protege essas espécies há duas décadas, mas todos os anos “dezenas de milhares de aves são capturadas ou abatidas em Portugal, quer para serem vendidas como animais de companhia, consumidas como petisco ou simplesmente mortas”, alerta a associação.

No entanto, na maior parte das vezes, os culpados destes crimes não são punidos, uma vez que são “difíceis de detectar e investigar.”

Por outro lado, apesar de ser proibida a captura e a morte de aves selvagens, a verdade é que essa mesma proibição não existe para os meios usados nesses crimes – como é o caso das armadilhas.

“Não chega proibir que [as aves] sejam capturadas: é necessário proibir também os meios que permitem capturá-las”, sublinha Joaquim Teodósio, coordenador do Departamento de Conservação Terrestre da SPEA, lembrando que estes animais “controlam pragas” e “são cruciais para manter a saúde dos nossos campos”.

Em causa estão meios que “matam indiscriminadamente” qualquer ave que tenha o azar de neles cair. Por exemplo? As armadilhas de mola, as redes e ainda uma cola artesanal para apanhar pássaros em árvores, sebes ou no cimo de canas, conhecida como “visgo”.

Proibir a apanha de formigas d’asa

A petição pede também que a lei passe a proibir a apanha de formigas d’asa, que são utilizadas apenas nestas situações, servindo como isco nas armadilhas de mola. Normalmente chamadas de esparrelas ou costelos, estas são armadilhas de arame nas quais os pássaros morrem logo que são apanhados.

“As aves das zonas agrícolas estão a diminuir a um ritmo alarmante por toda a Europa e os dados disponíveis indicam que em Portugal vamos pelo mesmo caminho”, avisa o mesmo responsável, citado no comunicado. “É urgente garantir que sejam realmente protegidas e acabar com esta chacina ilegal.”

Ao longo dos últimos anos, houve vários casos de apreensões de armadilhas no momento em que estavam a ser usadas ilegalmente. Em Novembro passado, por exemplo, foram apreendidas 32 armadilhas que estavam a ser utilizadas no Algarve, incluindo três que já tinham aves mortas: um pisco-de-peito-ruivo e duas toutinegras-de-barrete-preto.

Em breve, a nova petição deverá ser discutida pelos deputados da Assembleia da República, esperando-se que isso se traduza em alterações legislativas que ajudem a diminuir esta ameaça para as aves selvagens, conclui a SPEA.

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Recorde aqui uma análise dos resultados do Censo de Aves Comuns, sobre o facto de haver cada vez menos rolas-bravas, abelharucos e pardais em Portugal.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.