Crias de borrelho. Foto: Ana Cláudia Norte

Portugueses e espanhóis juntam-se para conservar esta ave ameaçada

Foi lançado este mês o projecto Iberalex para conservar o borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus), espécie que regista um decréscimo muito preocupante.

O borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus) é uma das quatro espécies de borrelhos que podemos ver em Portugal.

O borrelho-de-coleira-interrompida é uma das espécies com um grande declínio. Foto: Zeynel Cebeci/Wiki Commons

Segundo a Lista Vermelha das Aves de Portugal Continental (2022), esta espécie está classificada como Vulnerável, quanto à sua população reprodutora, e Em Perigo, quanto à sua população nidificante.

Arenaria, programa de monitorização de aves costeiras, e o Programa Nacional de Monitorização de Aves Aquáticas Invernantes detectaram reduções muito grandes no número de borrelhos-de-coleira-interrompida que passam o Inverno no nosso país. Já o censo dirigido especificamente a esta espécie revela que a sua população nidificante diminuiu 46% nos últimos 19 anos.

A 1 de Fevereiro foi apresentado em Coimbra um projeto europeu que aposta na monitorização do borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus) para conservação de habitats e outras espécies selvagens que dependem das praias e zonas húmidas.

O projecto “Iberalex – Gestão sustentável de praias e zonas húmidas ibéricas: conservação do Borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus) como ferramenta para compatibilizar os usos humanos e a biodiversidade” terá como missão melhorar o estado de conservação da espécie.

“Este projeto pretende utilizar o borrelho-de-coleira-interrompida como uma espécie guarda-chuva e propõe um conjunto ações que servirão para melhorar o seu estado de conservação no espaço transfronteiriço Espanha-Portugal”, explicou, em comunicado, Jaime Ramos, professor e investigador no Departamento de Ciências da Vida (DCV) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

“Pretende ainda compatibilizar ações de conservação com atividades recreativas e extrativas humanas num cenário de alterações climáticas, evidenciado pelo aumento contínuo do nível do mar e pela erosão costeira.”

Um espécie guarda-chuva é uma espécie cuja conservação implica necessariamente a conservação de outras espécies. “Geralmente, são espécies como predadores de topo que necessitam de grandes áreas de habitat ou de condições ecológicas particulares, pelo que a sua conservação implica que essas condições sejam salvaguardadas”, explica o coordenador do projeto na FCTUC.

Crias de borrelho. Foto: Ana Cláudia Norte

Segundo Jaime Ramos, esta ave precisa de praias arenosas e de zonas húmidas em boas condições ecológicas para se reproduzir, dado ser muito sensível a perturbação humana e a predadores. Portanto, a perturbação humana excessiva nas praias, por exemplo na época balnear, implica que esta espécie deixe de se reproduzir em tais áreas. Também as mudanças de habitat, devido às alterações climáticas, implicam que a mesma fique com menos área disponível de praia para nidificar. 

“Assim, a conservação desta espécie implica que outras espécies no mesmo habitat tenham também condições adequadas para a sua sobrevivência. De igual forma, o aumento da predação muitas vezes está associado a atividades antropogénicas que provocaram alteração dos habitats e que devem ser controladas”, acrescentou.

Estão previstas diversas iniciativas concertadas entre os dois países, entre elas a remoção de fauna invasora, a melhoria dos habitats de nidificação e avaliação e monitorização das populações da espécie.

O projecto espera conseguir aumentar a população nidificante de borrelho-de-coleira-interrompida, “contribuindo assim para a melhoria global da espécie na zona transfronteiriça e ibérica”. 

O Iberalex é um projeto financiado pelo Programa Interreg V Espanha-Portugal (POCTEP) 2023-2027 e inclui como participantes além da Universidade de Coimbra, a Direção Geral do Património Natural (Xunta de Galicia), as Universidades de Santiago de Compostela, Extremadura, Cádiz, Aveiro e a Associação para a conservação da natureza portuguesa, Vita Nativa.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.