Pardela-balear. Foto: Nuno Barros

Projecto de conservação em Peniche vence prémio europeu Natura 2000

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O MedAves Pesca, que trabalhou de perto com pescadores de Peniche para evitar que aves marinhas fiquem feridas ou morram nas redes de emalhar, venceu a categoria Conservação Marinha do Prémio Europeu Natura 2000.

Este projecto, que terminou a 30 de Abril de 2021 e que foi coordenado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), testou uma nova forma para evitar a captura acidental de aves marinhas como alcatrazes, gaivotas e pardelas por artes de pesca (como redes de emalhar, linhas e anzóis): o “papagaio afugentador”.

Pardela-balear. Foto: Nuno Barros

“Uma vez acoplados às embarcações de pescadores, estes engenhos semelhantes a papagaios de papel oscilam face à ação do vento e simulam a presença de um predador, tendo um efeito dissuasor e evitando que as aves marinhas fiquem presas nas redes, linhas e anzóis; uma ameaça que todos os anos causa a morte de cerca de 200 mil aves nas águas europeias”, explica a SPEA em comunicado.  

“É com uma enorme satisfação que recebemos a notícia desta distinção, não apenas por aquilo que o projeto MedAves Pesca representa para a preservação das aves marinhas mas, principalmente, por se tratar de um trabalho desenvolvido em cooperação estreita com a comunidade piscatória”, comentou Ana Almeida, Técnica de Conservação Marinha da SPEA.

Papagaio-afugentador numa embarcação. Foto: Elisabete Silva

“Este prémio vai ser um bom contributo para a continuidade do nosso trabalho de sensibilização e implementação, já que é urgente que Portugal implemente um plano de ação para reduzir as capturas de espécies sensíveis e ameaçadas”, acrescentou. 

Uma iniciativa da Comissão Europeia, o Prémio Europeu Natura 2000 acontece anualmente e visa reconhecer a excelência na gestão dos sítios Natura e as conquistas ao nível da conservação, não esquecendo o destaque ao valor acrescentado da rede de áreas de proteção da natureza da União Europeia para as economias locais. Os vencedores foram anunciados a 18 de Maio.

Papagaio-afugentador. Foto: Elisabete Silva

No total, cada edição do prémio reconhece seis projetos, um por cada categoria (Conservação Terrestre, Conservação Marinha, Comunicação, Benefícios socio-económicos, Cooperação transfronteiriça e, ainda, o Citizens’ Award – um reconhecimento do público daquele que é o seu projeto preferido).

Este ano, o projecto “Adaptação do falcão de Eleonora às alterações climáticas” (Grécia) venceu a categoria Conservação Terrestre; a campanha “Natura 2000 na Bulgária: novos horizontes” (Bulgária) venceu a categoria Comunicação; o projecto “Inclusão social e gestão de espécies exóticas invasoras” (Espanha) venceu a categoria Benefícios sócio-económicos; o projecto “Avaliar o lado negro com a aplicação CaveLife” (Alemanha) venceu a categoria Cooperação transfronteiriça. O Citizens’ Award foi para o projecto “Flora – empoderando os empresários conservacionistas na Áustria”.

A SPEA e restantes vencedores de cada categoria recebem um troféu e uma pequena contribuição financeira para esforços de conservação futuros.


Descubra aqui o trabalho desta bióloga a bordo de barcos de pesca, no âmbito do MedAves Pesca.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.