Foto: neusitas/Wiki Commons

Urso-pardo passa de 50 para 370 exemplares nas Astúrias, em Espanha

Estão a ser plantados milhares de castanheiros nas montanhas da região para alimentar os ursos, como resposta aos efeitos da subida das temperaturas sobre os frutos silvestres que estes grandes mamíferos comem.

Há cerca de 30 anos, o urso-pardo (Ursus arctos) estava à beira da extinção em Espanha, onde nas Astúrias restavam apenas cerca de 50 animais. Mas desde então, graças a vários projectos de recuperação da espécie, nesta região montanhosa do norte do país os números aumentaram para 370 ursos.

O anúncio foi feito por Víctor Gutiérrez, da Fundación Biodiversidad, uma das entidades parceiras do projecto LIFE Osos con futuro. Ainda assim, não invalidam “a necessidade eminente de recuperar espaços degradados, gerar ecossistemas sãos e ter alimentos ricos” para ajudar o futuro deste grande mamífero, afirmou o mesmo responsável, citado pela agência EFE.

Em Espanha, a espécie está Em Perigo de extinção, mas ameaçada pelas alterações climáticas, pois o aquecimento global leva a que estes animais não hibernem ou reduzam o período que passam inactivos. A subida das temperaturas também está a diminuir a quantidade de frutos silvestres, como os arandos, de que estes ursos se alimentam.

O pior é que se estima que nas áreas de alta montanha em Espanha, até 2040, as temperaturas máximas no Inverno deverão subir mais 2 ºC. Este aumento, consideram os cientistas, fará com que a actividade da espécie aumente ainda mais neste período do ano, ao mesmo tempo que cada vez mais turistas procuram estas zonas. “Esta confluência pode incrementar as possibilidades de encontros e interacções entre ursos e pessoas”, explica a Fundação Oso Pardo, coordenadora do LIFE Osos con futuro.

Por outro lado, à medida que as temperaturas subirem vai diminuir ainda mais a quantidade de arandos e de outros frutos silvestres disponíveis na natureza, para os ursos se alimentarem.

Uma das medidas do projecto é precisamente apostar na plantação de castanheiros, uma árvore que deverá beneficiar com as mudanças no clima da região, uma vez que as castanhas poderão servir de alimento aos ursos-pardos.

Guillermo Palomero, presidente da Fundação Oso Pardo, indicou que está prevista a plantação de 25.000 castanheiros nas cotas mais altas, além de outras 150.000 árvores de fruto. Estas plantações vão ter lugar em quintas privadas ou públicas através de acordos de custódia, que impedirão “que se toque nas árvores em determinados anos.”

O urso-pardo foi declarada espécie Em Perigo de extinção em Espanha em 1989. Hoje distribui-se por quatro comunidades autonómicas – Principado das Astúrias, Cantábria, Castela e Leão e Galiza – em duas populações diferenciadas.

Em Portugal, esta é uma espécie extinta na natureza. Em Maio de 2019 foi confirmada a presença de um urso-pardo, um indivíduo isolado, pela primeira vez desde 1843.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.