Quercus considera “trágico” o incêndio no Parque Natural da Serra da Estrela

É com preocupação que a Quercus está a acompanhar a evolução do “trágico” incêndio que lavra desde sábado na Serra da Estrela. Os impactes sobre os ecossistemas são “severos”.

Até ao momento já terão ardido mais de 10.000 hectares do Parque Natural da Serra da Estrela, área protegida com 89.132,21 hectares, Zona Especial de Conservação da Rede Natura e com geosítios do Estrela Geopark da UNESCO.

Sameiro, Parque Natural da Serra da Estrela. Foto: Quercus

Segundo a Quercus, em comunicado enviado hoje à Wilder, o fogo está a ter “impactes severos sobre a flora, fauna, território e populações”, afectando florestas e habitats biodiversos.

“Os pinhais têm sido bastante afetados, assim como os matos dominados por piornais, urzais e caldoneirais.”

As zonas de castanheiros, carvalhos-alvarinhos e faias no concelho de Manteigas foram pouco afetadas “por terem baixa combustibilidade e portanto serem mais resilientes ao fogo. Devemos aprender com estas lições, para reordenar a paisagem”.

Por enquanto, o teixo, árvore ameaçada que ocorre em Portugal apenas em parte da Serra da Estrela e Serra do Gerês, tem salvaguardado o núcleo mais importante.

O fogo tem destruído o habitat de inúmeras espécies, entre elas a lagartixa-de-montanha e a salamandra-lusitânica, endemismos ibéricos que apenas ocorrem no noroeste da Península Ibérica.

O que fazer?

De acordo com a Quercus “devem ser criadas condições para a pequena agricultura e pecuária com a remuneração dos serviços ecossistémicos locais que são essenciais para a fixação da população nestes territórios de montanha, mantendo a biodiversidade”.

Concretamente, a associação pede medidas de emergência na gestão pós-fogo, antes do Inverno, para minimizar a erosão dos solos, depois da destruição da vegetação nas encostas íngremes, sobretudo no vale do Zêzere.

Além disso, pede uma “avaliação independente sobre este incêndio, para que fique claro o que deve ser melhorado para o futuro”.

A Quercus deixa ainda uma pergunta, perante as críticas ao desempenho sobre a coordenação dos meios: “qual foi a intervenção da AGIF – Agência para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais, entidade criada para melhorar a atuação do sistema de prevenção e combate aos fogos?”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.