Periquito-de-colar. Foto: Nicolas Renac (CCBYNC20)

Cidadãos fizeram 518 registos de periquitos-de-colar em Novembro em Portugal

Outrora misteriosas, estas aves exóticas verdes e estridentes vieram para ficar e são hoje bem conhecidas de muitos. O projecto nacional que pediu ajuda aos cidadãos para as contar recebeu 518 registos só durante o mês de Novembro, revela a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).

A iniciativa de Ciência Cidadã que decorreu durante o mês de Novembro, organizada pela SPEA, serve de preparação para o primeiro censo de Inverno desta ave exótica, originária da África Subsahariana e do Sul da Ásia.

Periquito-de-colar. Foto: Nicolas Renac (CCBYNC20)

O objectivo do projecto foi perceber se as populações de periquitos-de-colar (Psittacula krameri) estão em crescimento e expansão. Às pessoas foi pedido que enviassem as suas observações destas aves ao fim da tarde para ajudar a identificar dormitórios, informação crucial para o censo.

Esta semana, a SPEA revelou à Wilder os resultados do projecto junto dos cidadãos e avançou que os resultados do censo estarão prontos em Janeiro.

Durante o mês de Novembro chegaram à SPEA 518 registos, através de um formulário disponibilizado para o efeito e por email.

O concelho com mais registos foi Lisboa (262 registos), seguido de Cascais (113), Oeiras (69), Sintra (51) e Porto/Matosinhos (47). Os concelhos com apenas um registo foram Beja, Redondo e Nazaré.

“Até à presente data, esta iniciativa de participação cidadã permitiu identificar/confirmar 20 dormitórios desta espécie” em Portugal.

Foto: Dick Daniels/Wiki Commons

Além de identificar dormitórios, a SPEA pedia também outra informação, desta vez sobre comportamentos, mais concretamente sobre alimentação no Outono: se as aves se estavam a alimentar ou a juntar-se numa árvore para descansar. 

Assim, a organização obteve 162 registos de alimentação. As três árvores mais procuradas por estas aves foram a magnólia (16 registos), a nespereira (15) e a figueira (13). Mas os periquitos-de-colar também foram vistos a alimentar-se em outras árvores, como ciprestes, eucaliptos, plátanos, oliveiras e palmeiras.

Os cidadãos que participaram partilharam também registos de outras espécies de psitacídeos. A caturrita ou periquito-monge (Myiopsitta monachus) obteve 12 observações, todas no Porto; e o periquitão-de-cabeça-azul (Thectocercus acuticaudatus) teve 11 observações, todas na Grande Lisboa.

Este esforço para conhecer melhor a situação do periquito-de-colar em Portugal, que agora se concentra na prospecção e contagens dos dormitórios, vai continuar em 2022. Mais concretamente, a SPEA quer aprofundar o estudo da dieta destas aves ao longo do ciclo anual.

Em 2008, estimava-se que havia 270 periquitos-de-colar no país. Desde então, o número aumentou: uma estimativa mais recente aponta para 650 aves desta espécie apenas em Lisboa. “Graças ao clima ameno e ao alimento disponível, têm-se adaptado à ‘selva urbana’, de tal modo que em caso de expansão significativa podem vir a tornar-se numa ameaça para algumas espécies nativas do nosso país”, segundo a SPEA.

Apesar de não existirem ainda dados sobre o impacto do periquito-de-colar na biodiversidade nativa do nosso país, em Espanha existem algumas evidências de impactos negativos sobre espécies nativas em locais restritos, recorda a associação ambientalista: “O periquito-de-colar compete com morcegos e mochos pelas cavidades das árvores, onde nidifica, e compete com aves frugívoras pelo alimento.”

Este desafio decorreu no âmbito do projeto “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”, financiado pelo Programa Cidadãos Ativos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto. O projecto tem como parceiros a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA). 


Agora é a sua vez.

Como identificar um periquito-de-colar? Segundo a SPEA, “este periquito verde com um colar preto distingue-se de outras espécies pela parte superior do seu bico, que é vermelha, e pela cauda mais comprida, que se nota sobretudo nas penas centrais azuladas. Em voo, o periquito-de-colar destaca-se também pelas penas de voo, mais escuras do que o resto do corpo.”


Saiba mais.

Leia a entrevista a Camila Rodrigues, voluntária ligada a esta acção. E encontre informação sobre o periquito-de-colar e outros quatro periquitos que podem ser vistos em Portugal, aqui.


Conte as Aves que Contam Consigo

A série Conte as Aves que Contam Consigo insere-se no projeto “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”, dinamizado pela SPEA em parceria com a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA) e financiado pelo Programa Cidadãos Ativos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian, em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.