Vespa crabro. Foto: Ken Thomas.us/Wiki Commons

O que está a acontecer no Outono: As vespas-crabro saem dos ninhos e acasalam

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Machos e novas rainhas de vespa-crabro, a maior vespa social nativa de Portugal, estão agora em grande actividade. A Wilder falou com o entomólogo Albano Soares, que descreve o que está a acontecer.

Também chamada de vespa-europeia, a vespa-crabro (Vespa crabro) é muitas vezes confundida com a vespa-asiática (Vespa velutina), devido ao tamanho e às cores. Mas apesar de também predar abelhas domésticas e outros insectos, como besouros e mariposas, não tem os mesmos impactos negativos sobre os ecossistemas.

“Como é uma espécie que evoluiu no nosso território, as outras espécies habituaram-se ao longo de milhões de anos à convivência com a vespa-crabro e sabem como defender-se dela, ao contrário do que sucede com a asiática”, explica Albano Soares.

Para já, nesta época do ano, estas vespas “estão em época de reprodução acelerada”. Esta fase iniciou-se no final do Verão, com o nascimento dos machos e das futuras rainhas a partir dos ovos postos pela única vespa-rainha do ninho, que na Primavera já tinha posto os ovos que deram origem às vespas obreiras.

Estas últimas têm como função alimentar as larvas dos machos e das futuras rainhas com os insectos – e com outros alimentos, como fiambre – que caçam. Isso porque, ao contrário das abelhas, que desde o nascimento são alimentadas com pólen e néctar, as vespas precisam de proteína para crescer.

Vespa crabro. Foto: Björn Sothmann/Wiki Commons

“Um ninho de vespa-crabro pode produzir cerca de uma centena de futuras rainhas”, nota também Albano Soares, que está ligado ao Tagis, uma organização não governamental de ambiente dedicada aos insectos. Depois de os adultos já formados serem expulsos do ninho, é por estes dias que as novas rainhas atraem os machos – mais pequenos mas com antenas maiores – com a libertação de feromonas. “Normalmente conseguem observar-se vários machos num enxame, atrás da fêmea.”

O que acontece ao ninho?

Entretanto, o ninho de onde saíram estes adultos está em desagregação. Nos últimos tempos a vespa rainha foi perdendo feromonas e a anarquia instalou-se, até que as obreiras deixam por completo de cumprir as suas funções – deixando de alimentar por exemplo outras futuras obreiras – e o ninho acaba destruído. Também os machos, concluída a sua função como fertilizadores, morreram rapidamente.

Ninho de vespa-crabro. Foto: WikiRigaou/Wiki Commons

Assim, lá para Novembro, “deixamos de ver vespas-crabro.”

Apenas sobreviveram as futuras rainhas, que já fertilizadas com o esperma de vários machos vão hibernar no tronco oco de uma árvore – ou por exemplo no forro de um telhado ou entre as pedras de um muro. Será nesse local, onde passam protegidas o Inverno, que pelo fim de Fevereiro vão pôr os ovos das primeiras obreiras. E o ciclo recomeça.

Esta estratégia de reprodução tem semelhanças com a de outras vespas sociais, como a vespa-asiática. Mas ao contrário desta última, no caso da vespa-crabro ao longo do ciclo apenas um ninho é construído, e não dois.


Saiba mais.

As vespas-crabro são muito importantes nos ecossistemas, explica Albano Soares. “São polinizadoras de muitas plantas e ajudam a controlar as populações de muitas espécies de insectos, pois as larvas alimentam-se de proteína.” Quanto aos adultos, tal como as abelhas, precisam apenas de néctar e pólen. Esta vespa é também “uma concorrente directa da vespa-asiática”, ajudando a combater a expansão desta invasora, pois procura os mesmos alimentos.

Por outro lado, a vespa-crabro “é menos urbana” do que a vespa-asiática. “São mais fáceis de encontrar no campo ou em grandes parques, embora às vezes também se vejam na cidade”.

Mas o futuro é incerto. Os especialistas receiam que esteja a haver uma descida acentuada dos números desta espécie, afectada pelas armadilhas que se colocam contra a sua congénere asiática. “Noventa e nove por cento dessas armadilhas são não selectivas. Na grande parte, o que está lá dentro são vespas-crebro e outras vespas nativas”, lamenta Albano Soares.

Veja aqui a identificação de uma vespa-crabro, no Que Espécie é Esta.


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.