Marcada com emissor a cria de abutre-preto mais famosa do país

Esta semana, uma equipa de técnicos e conservacionistas marcou com um emissor GPS e com anilhas a primeira cria de abutre-preto a nascer em liberdade no Alentejo, nos últimos 40 anos. Se já era famosa antes de sair do ninho, quando aprender a voar esta cria ainda o será mais.

 

Na terça-feira de manhã todos os cuidados foram poucos no coração da Herdade da Contenda, em Moura (Baixo Alentejo). A operação de marcação da cria de abutre-preto (Aegypius monachus) demorou pouco mais de uma hora, disse ontem à Wilder Eduardo Santos, da Liga para a Protecção da Natureza (LPN) e um dos responsáveis do projecto Life Lince Abutre (2010-2014). Tudo foi feito com o maior cuidado e o mais rapidamente possível.

Um técnico “subiu ao cimo da árvore onde está o ninho, imobilizou a cria, colocou-lhe uma espécie de capuz para a acalmar e pô-la dentro de um saco para a fazer descer em segurança”, contou Eduardo Santos.

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Cá em baixo, no solo, uma equipa estava preparada à espera da ave. “Fez-se um exame muito breve à condição física da cria e concluiu-se que estava bem hidratada e com uma excelente saúde.” Aos três meses de idade, esta cria pesa 7 quilos e 700 gramas.

 

 

A ave foi marcada com um emissor de GPS/GSM, que um técnico espanhol especializado na marcação destas aves colocou sobre a zona dorsal, e foi anilhada com uma anilha metálica e uma anilha PVC vermelha com código em branco (7E). Depois foi devolvida ao ninho, onde ainda se deverá manter durante as próximas semanas e até que consiga voar.

 

 

Enquanto o emissor estiver activo, o que corresponderá à fase mais crítica para esta ave – “quando ainda é inexperiente” -, será possível “seguir os movimentos desta cria, como usa os territórios, por onde voa e se sobrevive”, acrescentou o responsável.

Estes dados vão ajudar a monitorizar as medidas de conservação implementadas no âmbito do projecto LIFE Habitat Lince Abutre (2010-2014), nomeadamente os ninhos artificiais e os campos de alimentação.

 

 

A marcação deste exemplar de abutre-preto, de iniciativa da LPN no âmbito do acompanhamento e monitorização pós-projecto LIFE Habitat Lince Abutre, contou com a colaboração da Herdade da Contenda, Empresa Municipal e do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e do Ministério do Meio Ambiente Espanhol.

Esta cria nasceu na Herdade da Contenda, em Moura, depois de uma ausência da espécie na região de cerca de 40 anos.

 

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Dentro de algumas semanas, observe os céus do Alentejo. E se vir esta cria de abutre-preto contacte os responsáveis da LPN. Para o ajudar, aqui fica tudo o que precisa de saber, para observar abutres-pretos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.