um pisco de peito ruivo no ramo de uma árvore
Pisco-de-peito-ruivo. Foto: Wolfgang Vogt/Pixabay

Como fazer a lista das espécies de aves do seu bairro

Já sabe qual o melhor sítio para um brunch, onde se compra o pão mais quentinho e o trajecto mais rápido para ir pôr os filhos na escola. Por que não conhecer a natureza do seu bairro? Se quiser começar a fazer a lista das aves suas vizinhas, o biólogo Nuno Curado ensina-lhe tudo o que precisa saber.

 

Ter a noção da natureza que existe no seu bairro pode ser uma experiência enriquecedora para si e para outras pessoas. Os dados que recolher serão úteis para o mapeamento das espécies, para saber qual a sua distribuição e para compreendermos melhor de que forma se estão a adaptar aos meios urbanos e às alterações climáticas. E ainda há muito por saber sobre as aves. Quem sabe se descobre uma raridade ou encontra uma espécie num sítio surpreendente?

Por onde começar: As cidades estão longe de ter apenas patos e pombos. Existe todo um mundo selvagem que (até agora) tem passado ao lado mas que é crucial conhecermos. Nuno Curado sugere que comece pelas aves, um dos grupos de animais mais acessíveis. Estas cinco são as melhores: piscos-de-peito-ruivo, chapins, pardais, melros e alvéolas. Mas esta é apenas uma referência. Procure saber quais as espécies mais comuns do meio urbano onde vive. E se for difícil de o saber, então é porque a sua lista de espécies faz mesmo falta!

Uma lista para cada estação: Este biólogo sugere fazer listas para cada estação do ano porque vai observar coisas diferentes e aperceber-se das mudanças na natureza. Por exemplo, vai ver mais piscos-de-peito-ruivo no Inverno e mais garças no Verão. O final do Outono e o Inverno é a melhor época para registar aves em meios urbanos porque estas estão mais visíveis. Por um lado, as árvores perderam as folhas e, por outro, as aves estão mais activas à procura de alimento, mais escasso nos meses mais frios.

Os dados que deve registar: a sua lista deve ter cinco tipos de informação: a espécie a que pertence a ave que viu, o número de aves observadas, a data, o local e o comportamento. Repare, por exemplo, se as aves se estão a alimentar, se estão a fazer ninho, a caçar, a limpar as penas ou a concentrar-se nos dormitórios para passar a noite. Também pode tentar descobrir quais as árvores que as aves usam como dormitório. Pode ser uma certa árvore num parque de estacionamento ou numa avenida. E é provável que encontre aves a dormir em sítios inesperados! Certa vez este biólogo encontrou um dormitório de garças numa ETAR desactivada. Pode reparar ainda na data em que começam a chegar as aves invernantes. Como os corvos-marinhos, por exemplo.

Onde registar: Pode registar as suas observações num caderno – onde pode juntar notas ou ilustrações (saiba aqui como desenhar uma ave) – ou na aplicação para dispositivos móveis da plataforma Biodiversity4all. Esta é a que Nuno Curado usa para inserir os seus dados directamente.

Onde procurar: os lugares mais óbvios para se dirigir são os elementos naturais do seu bairro, como um rio, uma lagoa, uma praia, um parque verde ou até mesmo uma sebe natural. Depois há os espaços agrícolas nas periferias das cidades, especialmente na altura das colheitas, quando os tratores removem as terras e deixam a descoberto insectos e outras presas apetecíveis.

Com que frequência: Nuno Curado lembra que não é preciso ser demasiado exigente com a sua lista. Tudo vai depender da disponibilidade de cada um. Se fizer registos uma vez por estação do ano já é bom. Mas o ideal para conhecer a natureza do seu bairro é uma vez por mês.

A melhor altura do dia: as aves estão mais activas nas primeiras horas da manhã. Por isso, deve investir o seu tempo nessa altura. Vai ver que vai valer a pena.

Como ajudar as “suas” aves: Nesta altura do ano há duas coisas que pode fazer. Uma é colocar caixas-ninho para as aves se irem habituando à sua presença e ocuparem (com sorte) na próxima Primavera. É bom recolher informação sobre quais os cuidados a ter na escolha da caixa-ninho e do sítio onde a vai pôr. A outra é colocar comedouros em locais seguros, longe de predadores. E é importante mantê-los com alimento durante o Inverno porque as aves se habituam a ir lá alimentar-se. Pode pôr sementes cruas de girassol, alpista, larvas de insectos (que se adquirem nas lojas de material de pesca), amendoins com casca e esmagados, restinhos de bolos ou queijo ralado. Evitar produtos cozinhados, comida de gato e cão, leite e comida estragada ou com bolor. As aves podem ser afectadas por fungos.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais

Nuno Curado estará a falar sobre este tema e outros no Workshop “Biodiversidade em meio urbano”, a 4 de Novembro em Lisboa. Poderá aprender quais as espécies que vivem nas cidades, como observar e ajudar algumas delas e ainda participar num passeio para identificação e registo de observações online.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.